“É justa a luta”, avisa Paulo Raimundo nos 102 anos do PCP
Secretário-geral do PCP atira-se ao PS por, ao lado da direita, chumbar propostas na habitação e para combater inflação.
Foi uma comemoração antecipada dois dias porque o Partido Comunista Português só faz 102 anos na segunda-feira, mas a mensagem seria sempre a mesma: "É justa a luta" de enfermeiros e médicos, dos professores e auxiliares, mas também dos trabalhadores e das mulheres, cujo dia internacional se assinala na próxima semana.
Num comício para marcar o aniversário mas também a assembleia da organização regional de Lisboa que elegeu de novos dirigentes, o PCP compôs a mítica sala da Voz do Operário e Paulo Raimundo deixou farpas afiadas ao PS e aos partidos da direita - tudo no mesmo saco, como é habitual nos comunistas. O secretário-geral falou dos milhões que facturam os grupos económicos diariamente - 11 milhões por dia, 7600 euros por minuto, vincou - e das decisões políticas que beneficiam os "seus interesses e objectivos".
"São muitos números, muitos zeros, muita massa nos bolsos de muito poucos", apontou Paulo Raimundo. A realidade do país é feita de "desigualdades e injustiças", com o aumento do custo de vida, os baixos salários e pensões, a pobreza e "sacrifícios" para os trabalhadores e para esses grupos económicos "sobram os lucros". Como os dois milhões de euros por dia dos hipermercados Continente e Pingo Doce, enunciou, ou o "golpe" da privatização da TAP.
"O PS acha que isto está bem. PSD, CDS, Chega e IL acham o mesmo; nós achamos que isto não pode continuar", apontou o líder comunista. "É por opção que o PS não descola da política de direita e das opções" daqueles quatro partidos. Exemplos? Raimundo lembrou o voto contra propostas do PCP como a fixação de preços dos bens essenciais, as medidas para a habitação e para travar o aumento das rendas e das prestações do crédito.
"A brutal injustiça e desigualdade, o aumento da exploração e o intenso ataque a tudo o que é público constituem marcas da ofensiva política, económica e social que está em curso", acusou o líder comunista.
"Uma campanha sem escrúpulos contra o sector públicos, os serviços públicos e as empresas públicas" cujo objectivo é "pôr a mão em tudo o que lhes possa dar ainda mais lucros". Como acontece no SNS, de que o fecho das urgências pediátricas é apenas um exemplo, ao mesmo tempo que os grupos privados de saúde recebem anualmente 6000 milhões de euros. O Governo, "por opção, não dá resposta" e prefere "estrangular, desinvestir e encerrar serviços" de saúde.
Por isso, defendeu Paulo Raimundo, "é justa a luta" dos profissionais da saúde e da educação e até apelou, com insistência, a "que se intensifique", lembrando as concentrações deste sábado em Lisboa e no Porto e a manifestação nacional da CGTP marcada para dia 18. "O Governo não tem alternativa e vai mesmo ter de dar resposta à justa luta que está em curso", avisou o secretário-geral do PCP.
Lembrando que o Governo não se cansa de afirmar que a "economia cresceu" e que a inflação está a descer, Paulo Raimundo vincou que todos sentem que os preços não param de subir. "De forma hipócrita, vêm todos e em coro afirmar que a culpa é da guerra", disse, apontando que este é o "novo pretexto" depois dos da crise, da troika e da epidemia.
Para além dos ataques aos direitos dos trabalhadores, o líder comunista acrescentou que se está a preparar outro "ataque", que pretende "continuar os ajustes de contas com Abril": a alteração à Constituição, que "precisa é de concretização, não de revisão". "O que é urgente e necessário é que o texto constitucional tenha tradução na vida de cada um de nós e não de alterações ao texto que só pretendem intensificar o saque a exploração."
"Podemos ter a voz mais potente, a proposta mais bem feita, a ideia mais bela. Tudo isto pode ser muito útil. Mas precisa de ser concretizado. Na conversa. No esclarecimento. Na aproximação. No recrutamento. Na mobilização. Na intensificação da luta de massas. É isso que vai ser o determinante",afirmou Paulo Raimundo sobre o PCP, procurando motivar os camaradas.
Assinalando os 102 anos do partido, o líder comunista lembrou também o papel da juventude e insistiu na ideia de que durante esse século "não houve avanço ou conquista dos trabalhadores e do povo português que não tivesse a iniciativa, a luta e a intervenção dos comunistas".