Trump canta “justiça para todos” com coro de invasores do Capitólio
Anterior Presidente dos EUA dá voz a um single de beneficência para ajudar financeiramente centenas de apoiantes seus que estão detidos na cadeia de Washington D.C.
Dois anos depois de ter sido alvo de um segundo processo de destituição pelo seu papel no incitamento à invasão do Capitólio, o anterior Presidente norte-americano, Donald Trump, gravou um single de beneficência com um grupo de detidos que participaram no ataque de 6 de Janeiro de 2021.
Segundo o site da revista Forbes, os potenciais beneficiários são centenas de apoiantes de Trump que enfrentam dificuldades financeiras para pagar os custos dos processos judiciais, exceptuando-se os que vão a julgamento por terem agredido agentes da polícia do Capitólio.
A canção — intitulada Justice for all (justiça para todos) — consiste numa gravação de Trump a recitar o juramento de fidelidade à bandeira dos EUA, sobreposta às vozes de duas dezenas de homens detidos na cadeia de Washington D.C., e que se apresentam como o Coro da Prisão de 6 de Janeiro.
"Isto é uma táctica de desinformação tirada do manual dos líderes autoritários — embrulhar mentiras em patriotismo", disse no Twitter Barbara McQuade, professora de Direito na Universidade do Michigan.
"Nunca tinha sentido tanta repulsa por uma canção como por esta, cantada por um Presidente que tentou cometer um golpe de Estado e por um coro de insurreccionistas que o tentaram ajudar", disse o director da organização não governamental Cidadãos para a Responsabilidade e Ética no Governo, também no Twitter.
Um vídeo da canção, ilustrado com a imagem de uma bandeira dos EUA vista a partir do interior de uma cela, foi publicado no YouTube; e o áudio pode ser ouvido nas principais plataformas de streaming.
A canção de Donald Trump e do Coro da Prisão de 6 de Janeiro foi promovida na sexta-feira no podcast de Stephen K. Bannon, o activista da extrema-direita norte-americana e antigo conselheiro da Casa Branca.
Bannon, de 69 anos, foi acusado de fraude e lavagem de dinheiro em 2020 — e amnistiado por Trump em 2021 — por suspeitas de ter desviado para proveito próprio, em 2018 e 2019, as contribuições de apoiantes do então Presidente dos EUA supostamente destinadas à construção de um muro anti-imigração na fronteira com o México.
Mais de mil detidos
Desde a invasão do Capitólio, mais de mil pessoas foram detidas e acusadas de vários crimes, incluindo conspiração para o incitamento de uma insurreição. No dia da invasão, as duas câmaras do Congresso norte-americano estavam reunidas no edifício do Capitólio, em Washington D.C., para a abertura dos votos do Colégio Eleitoral — uma cerimónia, largamente simbólica, em que Joe Biden deveria ser confirmado como Presidente eleito dos EUA.
Depois de a cerimónia ter sido retomada, ainda a 6 de Janeiro de 2021, o Partido Democrata anunciou a abertura de um segundo processo de destituição contra Trump, acusado de ter sido o principal instigador do ataque, com o objectivo de se manter na Casa Branca apesar da derrota eleitoral.
Trump seria efectivamente impugnado pela Câmara dos Representantes, a 13 de Janeiro de 2021, e viria a ser absolvido um mês depois, no Senado, protegido pelos votos de uma maioria de senadores do Partido Republicano.
Apesar de não ter sido destituído do cargo em 2021 e de ter lançado uma nova corrida à Casa Branca com vista à eleição de 2024, o anterior Presidente dos EUA é alvo de dois processos criminais pelo seu papel na invasão do Capitólio — um lançado pelo Departamento de Justiça e liderado pelo procurador especial Jack Smith; e outro em curso no estado da Georgia, liderado pela procuradora distrital Fani Willis.
Ao mesmo tempo, Trump é também alvo de uma investigação criminal por ter retido milhares de documentos da Casa Branca na sua mansão na Florida, e de outros processos judiciais relacionados com os seus negócios em Nova Iorque e com uma acusação de violação apresentada pela escritora E. Jean Carroll.