Homem-forte das garantias covid vai para a direcção do IAPMEI
Marco Neves é a escolha do Governo para a vice-presidência da Agência para a Competitividade e Inovação. Foi um dos gestores essenciais na primeira administração do Banco de Fomento.
Marco Neves, 53 anos, vai passar da presidência da Lisgarante para a vice-presidência do IAPMEI – Agência para a Competitividade e Inovação. O processo de nomeação ainda está “pendente” de questões com o Novo Banco (a cujos quadros pertence), mas o homem-forte das garantias covid, e que tem uma larga experiência de trabalho com empresas, é a escolha do Ministério da Economia para número dois da agência pela qual passam a maior fatia dos apoios europeus ao tecido empresarial.
À terceira, foi de vez. Convidado em duas ocasiões anteriores a assumir funções naquela agência, Marco Neves acabou por chegar à administração do Banco de Fomento em 2020, quando este foi criado no consulado de Pedro Siza Vieira como ministro da Economia.
Porém, o mesmo Governo acabou por tirá-lo de lá, apesar de ser dos poucos com experiência prévia em banca. Agora, vai para a direcção do principal accionista do Banco de Fomento, o IAPMEI.
O convite já fora feito há semanas e o nome do gestor andava a circular nos corredores há bastante tempo. Mas o acordo não foi imediato. Há duas semanas, quando questionado pelo PÚBLICO sobre a sua eventual nomeação, o Ministério da Economia não o confirmou. Hoje, o jornal Eco acabou por avançar com uma notícia dando essa escolha como certa. E que o PÚBLICO acabou por confirmar com três fontes diferentes.
Licenciado em Gestão de Empresas, pós-graduado em Mercados e Activos Financeiros e com uma formação em gestão bancária pelo Insead, Marco Paulo Salvado Neves começou em 1993 como analista de crédito de grandes empresas no então Banco Totta & Açores.
Na mesma década, após breves passagens pelo Barclays e pelo BPI, ingressou no BES, onde se manteve até à resolução deste banco, em 2013. Entre 2008 e 2012, foi administrador da Turismo Capital, que viria a dar lugar à actual Portugal Ventures, criada em 2012, por fusão com a InovCapital e a AICEP Capital.
Desde 2013, é quadro do Novo Banco, tendo exercido funções de direcção em áreas relacionadas com o investimento em empresas.
Nos últimos anos, porém, foi requisitado pelo Estado para trabalhar nas garantias, uma peça-chave para muitas empresas nas suas actividades de financiamento e comerciais, em especial no que toca à relação destas com a banca comercial.
Em 2017 tornou-se administrador da SPGM, acabando por chegar à administração do Banco de Fomento quando este foi criado por fusão da SPGM com outras sociedades estatais, a PME Investimentos e a IFD.
A experiência anterior nas garantias foi fundamental no período em que se manteve no BPF, entre Novembro de 2020 e Agosto de 2021, ajudando a entregar alguns dos mais importantes apoios públicos para empresas na fase mais crítica da pandemia.
Acabou por deixar o BPF no Outono de 2021, assumindo a presidência da Lisgarante e um lugar na administração da Garval, representando precisamente o BPF.
Não se sabe quem o substituirá nessas funções – aliás, não se sabe quanto mais tempo de vida terão estas sociedades de garantia mútua, que poderão acabar por desaparecer, deixando o papel que desempenham nas mãos da casa-mãe, o BPF.
Quem o conhece destaca a capacidade de negociação e um bom conhecimento do meio empresarial. É, portanto, um perfil bastante diferente do de Luís Guerreiro, o novo presidente do IAPMEI – um engenheiro de minas e homem de confiança do ministro da Economia, Costa Silva, com quem vai trabalhar num período particularmente exigente.
O cargo de vice-presidente desta agência não existia, só foi criado em Maio de 2022, numa tentativa de dar mais músculo à direcção do IAPMEI numa altura em que tem de gerir os apoios às empresas de três grandes programas comunitários: o PT 2020, que está no último ano; o PRR, que está quase a meio; e o PT 2030, que já deveria ter arrancado.
Questionado há pouco mais de uma semana pelo PÚBLICO, sobre o preenchimento desse cargo que nunca foi ocupado, o secretário de Estado da Economia, Pedro Cilínio (ele próprio quadro do IAPMEI), prometera um nome para breve. O ministro Costa Silva, em entrevista ao PÚBLICO, disse que quer “virar o IAPMEI para fora cada vez mais”, com mais automatização, serviços partilhados, e “libertar grande parte dos quadros para fazerem aquilo que devem fazer, que é estarem perto do sistema empresarial”.
Nessa mesma entrevista, o governante insistiu na necessidade de ter uma administração pública com maior “sentido de urgência”, mais “virada para resultados” e menos “virada para pareceres”.
Cilínio, por seu lado, diz que aposta no projecto “IAPMEI 5.0”, um “programa de renovação” que reforçará os quadros da agência e não apenas a estrutura dirigente. Em Janeiro entraram 32 pessoas e há mais 18 vagas por preencher.