110 Histórias, 110 Objectos. FeedBot, o braço robótico
No 83.º episódio, descobrimos o FeedBot, o braço robótico. O podcast 110 Histórias, 110 Objectos, do Instituto Superior Técnico, é um dos parceiros da Rede PÚBLICO. Siga-o nas plataformas habituais.
No podcast 110 Histórias, 110 Objectos, um dos parceiros da Rede PÚBLICO, percorremos os 110 anos de história do Instituto Superior Técnico (IST) através dos seus objectos do passado, do presente e do futuro. No 83.º episódio do podcast, descobrimos o FeedBot, o braço robótico.
Quase todos os dias, à hora de almoço, é comum observar-se nos vários refeitórios do Técnico grupos de professores e investigadores em discussões e partilha de ideias. Um desses grupos integra vários professores do departamento de Engenharia Electrotécnica e de Computadores (DEEC) e investigadores do Instituto de Sistemas e Robótica (ISR-Lisboa), incluindo Manuel Marques, portador de paralisia cerebral, e João Paulo Costeira, um dos seus colegas de trabalho. A assistência ao investigador do IST no processo de alimentação é encarada com naturalidade.
“Se o Manuel precisa de comer, alguém dá de comer. Faz parte da rede social. O vínculo nesta profissão vai para lá da mera prestação de serviços”, sublinha João Paulo Costeira. É tão natural que foi preciso um olhar do exterior para identificar um possível problema cuja solução poderia contar com o contributo do mesmo grupo de investigadores: como ajudar a alimentar quem não tem a possibilidade de se alimentar sozinho?
Da pergunta nasceria uma linha de investigação que viria a dar origem ao FeedBot, um braço robótico com o objectivo de ajudar pessoas com dificuldades motoras. Mas até se chegar à pergunta (e ao objecto que se encontra na Torre Norte do campus da Alameda) foi necessária uma viagem aos Estados Unidos da América, como conta o próprio Manuel Marques: numa visita à Universidade Carnegie Mellon, em 2014, a professora portuguesa de Robótica e Computação, Manuela Veloso, reparou que precisava de ajuda de outras pessoas para almoçar e lançou o desafio de criar algo que o tornasse capaz de se alimentar sozinho.
“A ideia foi dela. Realmente eu nunca senti a necessidade porque tenho sempre companhia para almoço e para jantar”, explica. “O desafio foi: ‘Vocês têm as competências’ – ambos somos investigadores em visão por computador – ‘e como é que o Manuel não tem um sistema autónomo?’ Ora, não nos tinha passado pela cabeça essa ideia”, reforça também João Paulo Costeira.
A partir de 2017, formou-se uma equipa e deu-se início ao projecto científico que serviria de base à construção do robot – o FeedBot. Como prioritários estavam os aspectos da visão e da manipulação. “São dois aspectos fundamentais: a percepção, saber onde está a cara e a boca para levar a comida, e outro, em inglês, o scooping, que é ser capaz de meter comida na colher, sem a deixar cair”, explica João Paulo Costeira.
O resultado, apenas dois anos depois, expressou-se num robot já capaz de ajudar um homem a alimentar-se e com algumas componentes completamente inovadoras. No campo da visão, Manuel Marques converteu-as em artigos onde dá um enorme contributo para a resolução de um dos mais complexos desafios: fazer o robot adaptar-se ao ritmo e aos movimentos de cada pessoa. “Um dos objectivos do projecto era que o braço robótico fosse ao encontro da pessoa a alimentar e não o contrário”, explica Manuel Marques. A solução passou pelo desenvolvimento de algoritmos que, recorrendo a um sistema de câmaras, ajudavam o Feedbot a identificar movimentos do utilizador e assim perceber onde estava a boca da pessoa.
A utilização que o próprio Manuel Marques fez do FeedBot resumiu-se, essencialmente, a lanchar um iogurte à hora que entendia, de forma autónoma – porque o almoço ainda é combinado e faz-se em grupo. Para João Paulo Costeira, o robot nunca será uma alternativa ao acto social da hora de almoço: “É hora de discussão, criação. Faz-se muita coisa à hora de almoço. Também comer.”
Pode, contudo, representar um enorme potencial, por exemplo, “em instituições em que é preciso alimentar 20 ou 30 pessoas e a alimentação não é um acto social, é apenas uma pessoa a distribuir comida”. “Aí o robot vai permitir a socialização. Em vez de estarem à espera de ser alimentadas, estão a interagir enquanto o robot as alimenta”, complementa.
E quanto às refeições de Manuel Marques, é expectável que sofram alterações? Enquanto houver um ser humano por perto, não. “Gosto muito das refeições que sempre tive com familiares, amigos e companheiros de trabalho”, responde com complemento: “Nós, portugueses, somos assim. Muitas vezes temos as ideias à volta de uma mesa.”
O podcast 110 Histórias, 110 Objectos é um dos parceiros da Rede PÚBLICO. É um programa do Instituto Superior Técnico com realização de Marco António (366 ideias) e colaboração da equipa do IST composta por Filipa Soares, Sílvio Mendes, Débora Rodrigues, Patrícia Guerreiro, Leandro Contreras, Pedro Garvão Pereira e Joana Lobo Antunes.
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