O desporto universitário não pode ser o fim de uma carreira desportiva

O modelo americano de desporto universitário é sustentado por uma cultura de valorização, em que as universidades olham para o desporto como uma forma de afirmação, prestígio e engrandecimento.

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Desporto universitário Nelson Garrido

Actualmente, a crescente consciencialização da sociedade para a importância do ensino superior no futuro profissional transcreve-se num número recorde de alunos matriculados no mesmo.

Esta situação conjuntural, que não deverá estagnar nos próximos anos devido à progressiva relevância que é dada à prossecução do ciclo de estudos pós-ensino obrigatório, significa também uma extrema alteração no estabelecimento pessoal de prioridades que, inevitavelmente, acaba por significar o abandono de outras actividades e vocações. O abdicar de “sonhos” com vista a seguir um caminho mais “seguro” não pode ser tratado como uma solução razoável.

Esta realidade, além de penosa para os lesados, é altamente prejudicial para o panorama desportivo nacional. Um país que possua uma visão holística e uma real intenção de evoluir educacional e desportivamente, necessita de garantir que a aposta numa das áreas não significa negligenciar a outra.

O desporto universitário é hoje, em Portugal, a forma mais acessível e facilitada dos atletas que frequentam o ensino superior continuarem a sua prática desportiva competitiva. No entanto, são ainda vários os obstáculos existentes que afectam negativamente a evolução do desporto universitário.

Mesmo com a aprovação, em 2019, do Estatuto Atleta do Ensino Superior em que, para a sua elegibilidade, estão abrangidos os estudantes que participam em provas da FADU (Federação Académica do Desporto Universitário), as diferenças presentes nos regulamentos dos estudantes atletas de cada instituição do ensino superior impossibilitam que haja uma norma geral e uma realidade única do desporto universitário português.

Esta pluralidade resulta em caracterizações múltiplas que dificultam a identificação de problemas e consequente resposta aos mesmos. É essencial que haja uma aproximação ou uma uniformização dos regulamentos das instituições de ensino superior.

O modelo americano de desporto universitário é sustentado por uma cultura de valorização do mesmo, em que as universidades olham para o desporto como uma forma de afirmação, prestígio e engrandecimento da instituição. Este modelo, construído pela NCAA ao longo de mais de uma centena de anos, possibilita que o desporto universitário, além de sustentável, tanto para os atletas como para as universidades, seja também rentável, sendo que são movimentados centenas de milhões de euros no meio.

O Estado português deve olhar para o financiamento do desporto universitário, não como solidariedade, mas sim como um investimento no que é a formação desportiva e académica de estudantes que, além de académicos, concedidas as condições necessárias, podem tornar-se referências no mundo do desporto. Os nossos actuais e futuros estudantes atletas merecem-no.

Também as instituições de ensino superior devem, de forma síncrona, rever, aprimorar e uniformizar os estatutos de estudante atleta. As universidades não podem confundir desporto universitário com “desporto na Universidade”.

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