Adesão de Finlândia e Suécia à NATO não convence toda a gente no partido de Orbán

Primeiro-ministro húngaro diz que há membros do Fidesz que “não estão muito entusiasmados” e que é preciso ouvir a Turquia – o outro Estado-membro que, a par da Hungria, ainda não validou a expansão.

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Viktor Órban, primeiro-ministro da Hungria, é um crítico da política ocidental de sanções ao Kremlin Reuters/BERNADETT SZABO

A menos de uma semana de o Parlamento da Hungria começar a debater as candidaturas da Finlândia e da Suécia à NATO – que tomaram esta decisão histórica há um ano, em resposta à invasão russa da Ucrânia – Viktor Orbán, afirmou nesta sexta-feira que o alargamento da Aliança Atlântica não convence toda a gente no partido nacionalista Fidesz, no poder, e que é liderado por si.

Além disso, o primeiro-ministro húngaro defendeu que é preciso “ouvir a voz” da Turquia, o outro Estado-membro, que, a par da Hungria, também ainda não validou a entrada dos países nórdicos na NATO – os parlamentos dos restantes 28 membros já deram “luz verde” ao alargamento e à renúncia da Suécia e da Finlândia a uma política de neutralidade com várias décadas.

Ancara argumenta que os finlandeses e, principalmente, os suecos albergam “terroristas” ligados ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) e congelou o processo enquanto Estocolmo não extraditar mais de 100 pessoas para serem julgadas em território turco.

Quanto ao Governo da Hungria – que vai começar a discutir o tema no Parlamento a partir da próxima quarta-feira –, justifica o adiamento da formalização do seu apoio às candidaturas da Suécia e da Finlândia com a urgência em aprovar, primeiro, a legislação necessária para ter acesso aos fundos estruturais europeus, ao abrigo do Plano de Recuperação e Resiliência húngaro.

Em declarações à rádio pública do país, citado pela Reuters, Orbán disse que é preciso continuar a discutir internamente as candidaturas da Finlândia e da Suécia, uma vez que, assumiu, há membros do Fidesz que “não estão muito entusiasmados” com o alargamento.

“Encontro-me no campo daqueles que apelam à calma. Mas também entendo e concordo com a visão do grupo parlamentar [do Fidesz] de que nem tudo está bem”, afirmou o primeiro-ministro, esclarecendo, porém, que Budapeste tem a “obrigação moral” de apoiar os dois candidatos à NATO e que o partido deve apoiar “em princípio” a sua entrada na organização de segurança ocidental.

Um dos principais argumentos daqueles que dentro do partido de extrema-direita que domina o Parlamento e a política húngara há vários anos não estão convencidos da necessidade do alargamento é o de que isso implicaria uma nova fronteira, com cerca de 1300 quilómetros, entre a NATO (Finlândia) e a Federação Russa.

“Poderá significar uma escalada no actual conflito”, afirmou na quinta-feira Mate Kocsis, líder do grupo parlamentar do Fidesz, que encabeça uma delegação que vai visitar os dois países nórdicos nos próximos dias para explicar a posição (e as dúvidas) do partido aos respectivos representantes políticos.

Citado pela agência estatal húngara MTI, Kocsis lançou, no entanto, outro dado para cima da mesa, que é visto pelos opositores e críticos do Fidesz como outro importante motivo para o atraso da Hungria em dar o seu apoio ao alargamento: as críticas, na Finlândia e na Suécia, sobre a deterioração da democracia e do Estado de direito no país.

Alguns deputados do Fidesz, assumiu Kocsis, dizem que “nos últimos anos houve políticos destes países que insultaram a Hungria de uma forma grosseira, injustificada e muitas vezes vulgar e que agora vêm pedir um favor”.

Entre a oposição interna a Orbán, há ainda quem argumente que a posição do Governo e do Fidesz está relacionada com as relações de proximidade que mantêm com o Kremlin, nomeadamente no campo energético.

O primeiro-ministro não se tem abstido de criticar as sanções económicas ocidentais à Rússia e, entre críticas à posição da UE e da NATO no conflito, garantiu, na semana passada, que a Hungria não considera que Moscovo seja uma “ameaça” à segurança europeia.

“Vamos manter as nossas relações económicas com a Rússia e é isto que estamos a propor aos nossos aliados. O governo húngaro não considera realista a sugestão de que a Rússia seja uma ameaça à segurança da Hungria ou da Europa”, afirmou, citado pela AFP.

“Só nos resta uma escolha: mantermo-nos fora da guerra. Isto não será fácil sendo membros da NATO e da União Europeia, porque estão todos a favor da guerra”, atirou.

Em declarações ao jornal sueco Aftonbladet, no início deste mês, a deputada socialista húngara Agnes Vadai disse que não exclui a possibilidade de Viktor Orbán estar a atrasar o alargamento da NATO para “agradar” aos presidentes da Rússia e até da Turquia.

“Tanto [Vladimir] Putin como [Recep Tayyip] Erdogan têm interesse nesta situação”, declarou, citada pelo site noticioso Euractiv. “Há rumores de que Orbán quer agradar a Putin, especialmente no que toca à Finlândia, já que haverá uma longa fronteira da NATO [com a Rússia]. Mas também não quer deixar Erdogan sozinho.”

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