Queda de pala de betão obriga a mais obras nos edifícios académicos de Coimbra
O acidente nas Cantinas Azuis confirmou a necessidade de planear a recuperação dos edifícios. Associação Académica de Coimbra coordena investimento com a reitoria e apela ao apoio da Câmara Municipal.
A placa de betão que servia de pala na entrada das Cantinas Azuis da Universidade de Coimbra (UC) ruiu a 10 de Fevereiro. Ainda que sem provocar feridos, o sucedido acentuou a preocupação no seio da Associação Académica de Coimbra (AAC) e da UC quanto à necessidade de reabilitar os edifícios, sobretudo no perímetro em redor dos jardins da associação.
O gabinete de assessoria do reitor Amílcar Falcão esclareceu, em nota enviada ao PÚBLICO, que o episódio foi “absolutamente imprevisível”, as causas estão sob investigação e decorrem inspecções de segurança “de outras estruturas similares”. Além disso, a reitoria garante estar a elaborar um “plano geral de manutenção dos edifícios da UC, com medidas preventivas e proactivas para a preservação do edificado”.
Contudo, face ao susto e aparato, os estudantes surgiram em protesto nas Cantinas Azuis no dia seguinte, e almoçaram de capacete. A cumprir o segundo mandato de presidência na Direcção-Geral da AAC (DG/AAC), João Pedro Caseiro apresenta outra interpretação sobre o sucedido: “Trata-se do reflexo da degradação dos edifícios, perceptível de modo visual.” Ainda que admita “algum receio dos estudantes” quanto às refeições naquele espaço, o dirigente académico admite que estejam reunidas as condições de segurança, como assegura a reitoria.
As cantinas universitárias, tal como o edifício sede da AAC, inaugurado em 1962, estão sob a alçada da Universidade de Coimbra. Ainda assim, o presidente da DG/AAC lembra que existem "questões transcendentes” à reitoria, em resultado do “subfinanciamento governativo no edificado”.
Na procura de “planos sustentáveis” para recuperar os espaços, João Pedro Caseiro convida Amílcar Falcão a aderir à contestação estudantil: “Somos parceiros para fazer força junto do Governo. A principal vontade deve surgir da entidade [UC] que tem de proceder à reabilitação e não tem recursos para o fazer.”
A “casa” da Associação Académica de Coimbra, património da UNESCO, incorpora vários problemas estruturais, como as obsoletas infra-estruturas eléctricas e as infiltrações, em resultado da escassa “preservação nas últimas décadas”, sublinha João Pedro Caseiro. Ainda assim, o estudante ressalva que tem sido feito um esforço pela reitoria para planear e investir na reabilitação do edifício.
O mais recente investimento, em Janeiro, rondou os 200 mil euros e foi alocado à resolução das infiltrações. Contudo, o problema persiste. Ainda sem data para nova empreitada, nem explicações para a reparação falhada, João Pedro Caseiro apenas garante que a análise técnica à pressão das paredes está em curso.
Acresce um outro problema: o edifício sede da associação incorpora cinco pisos, mas somente dois são acessíveis para pessoas com mobilidade reduzida. Além da “intervenção financeira robusta” para resolver a questão, João Pedro Caseiro salienta a maratona burocrática junto da UNESCO para se poder renovar os acessos ao património, um objectivo que ficaria menos distante caso houvesse apoio da autarquia: “A AAC é a principal associação do distrito, pelo que seria do interesse da Câmara Municipal de Coimbra ajudar a melhorar o edifício”, anota o dirigente académico.
Via correio electrónico, o gabinete de comunicação do presidente da Câmara, José Manuel Silva, respondeu que “o progressivo sufoco financeiro”, derivado do “dramático aumento dos custos”, em resultado da guerra na Ucrânia e da pandemia, não permite “considerar o apoio financeiro à reabilitação do edifício sede da AAC, cuja propriedade e responsabilidade é da Universidade de Coimbra”.
A reabilitação dos edifícios da UC volta, assim, a ser debatida na cidade. O tema continua a ser uma exigência da comunidade estudantil, que há 16 anos já relatava ao PÚBLICO preocupações com o estado da sede da AAC. O edifício chegou a ser alvo de um projecto idealizado pelo arquitecto Gonçalo Byrne mas que nunca saiu do papel.
O plano de gestão que a UC entregou à UNESCO no âmbito da candidatura a património da humanidade estabelecia um calendário de intervenções no edificado da Alta e Sofia. O edifício sede da AAC era mencionado, estando prevista uma intervenção de recuperação que custaria entre dois e 2,5 milhões de euros. O prazo de execução estava apontado para 2015. Não aconteceu.
Placa de metal dividiu academia
Durante Janeiro, a relação entre a DG/AAC e a UC foi abalada por uma “falha de comunicação”, resultado da intervenção da reitoria no espaço da antiga cantinas dos grelhados, outrora ginásio académico, actualmente armazém e recinto multiusos da associação. O imóvel partilhado com o Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV) foi dividido por uma placa de metal com o objectivo de organizar uma nova e reduzida sala de espectáculos tutelada pelo TAGV.
O presidente da Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra admite ter sido apanhado de surpresa e explica que a vontade em “articular vontades” foi explícita mas sem que daí resultasse “qualquer plano concreto”. Por isso, João Pedro Caseiro garante que os estudantes vão “continuar a utilizar o espaço”, enquanto aguardam “pelo projecto estruturado”.
Em último caso, refere o dirigente associativo, o benefício da requalificação da antiga cantina deve ser repartido pelas três entidades envolvidas. Porém, apesar da barreira de metal já ter sido instalada há um mês, metade do espaço continua sem uso e não existem sinais de requalificação, lamenta ainda João Pedro Caseiro.
O presidente da DG/AAC admite a importância de retomar e manter a comunicação entre a associação e a reitoria, sob compromisso de que os espaços atribuídos às secções culturais da AAC sejam garantidos.