Cirurgia de implante coclear pode provocar alterações no equilíbrio

O implante coclear é uma opção terapêutica para reabilitar indivíduos com perda auditiva, que não beneficiam do uso de aparelhos auditivos convencionais.

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Implante estimula directamente o nervo auditivo Unsplash

A colocação de implantes cocleares provoca alterações nos sintomas de equilíbrio de indivíduos com perda auditiva grave a profunda, os quais podem piorar após a cirurgia, revela um estudo científico realizado no Instituto Politécnico de Coimbra.

O trabalho científico de Inês Araújo, investigadora e docente da Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Politécnico de Coimbra (ESTeSC-IPC), concluiu que “os indivíduos que apresentam sintomas antes da cirurgia podem piorar após a intervenção, enquanto aqueles que não relatam sintomas prévios revelam melhorias no equilíbrio após a colocação de implante coclear”, de acordo com uma nota de imprensa enviada à agência Lusa.

O implante coclear, diz a nota de imprensa, é uma opção terapêutica para reabilitar indivíduos com perda auditiva, que não beneficiam do uso de aparelhos auditivos convencionais. “Este implante estimula directamente o nervo auditivo, com o objectivo de proporcionar sensação auditiva e compreensão da fala”, adianta-se.

A investigação, denominada Os Efeitos da Cirurgia de Implante Coclear no Sistema Vestibular e no Equilíbrio Postural foi lançada na quarta-feira num livro da colecção “Ciência, Saúde e Inovação – Teses de Doutoramento”, editada pela ESTeSC-IPC, e permitiu “confirmar que as pessoas que vivem com perda auditiva severa a profunda têm maior probabilidade de ter problemas de equilíbrio/vertigem”.

“A maioria dos candidatos à realização de implante coclear apresentou um comprometimento da função vestibular e um défice no desempenho no equilíbrio postural”, frisou Inês Araújo, vincando que “a perda auditiva de grau profundo está associada a um comprometimento da função vestibular”. Acrescentou ainda que a realização de cirurgia de implante coclear tem impacto na função vestibular, “com consequências distintas consoante a sintomatologia prévia dos indivíduos”, sendo que os doentes que já apresentavam alterações no sistema vestibular antes da cirurgia “podem piorar após a intervenção cirúrgica”.

No entanto, a realização de reabilitação vestibular iniciada duas semanas após a cirurgia “ajudou a melhorar o desempenho do equilíbrio postural e a qualidade de vida dos indivíduos, o que sugere que esta terapia acelera os mecanismos relacionados com a compensação vestibular”. O facto de os indivíduos que não apresentavam sintomas vestibulares terem melhorado o seu equilíbrio postural após a cirurgia indica, por sua vez, “que o processo de compensação vestibular se inicia logo após a activação do implante coclear”, explicou Inês Araújo.

A investigação foi realizada no âmbito da tese de doutoramento da docente da ESTeSC-IPC, apresentada à Universidade de Coimbra, e resultou da realização de três estudos, dois deles aplicados a uma amostra de indivíduos, de ambos os sexos, “com perda auditiva bilateral severa a profunda, submetidos à cirurgia de implante coclear unilateral”. O terceiro estudo foi realizado com uma amostra de pessoas que apresentavam sintomas vestibulares com duração superior a duas semanas após a intervenção cirúrgica, refere a nota.