Há 300 milhões de pessoas a usar apps de encontros como o Tinder, Bumble e Hinge. Estudei as muitas formas como as pessoas as usam e como comunicam, incluindo as conversas sobre cuidados sanitários durante a pandemia e como estabelecem relações enquanto viajam.
Aprendi que enquanto as apps de encontros são uma óptima forma de conhecer pessoas, os aspectos que as pessoas valorizam, como o conforto, podem também ser um inconveniente. As expectativas sociais da utilização de apps de encontros podem levar as pessoas a solicitar encontros de forma demasiado agressiva, ou tornar mais fácil fazer ghosting a alguém, precisamente quando essa pessoa estava a ficar entusiasmada com a ideia de um encontro.
Desde a criação da primeira mensagem perfeita até à conversa fora da Internet, aqui ficam algumas coisas a considerar depois de teres feito match com alguém.
Lê (realmente) o perfil da outra pessoa
As pessoas nem sempre lêem o perfil inteiro da outra pessoa antes de “gostarem” delas, ou de as dispensarem. O que é uma pena, porque as pessoas atribuem demasiado significado às fotos de perfil e à forma como se apresentam — e não se trata de ser o mais atraente possível. As pessoas querem que gostem delas por quem são. E expressam isso ao seleccionarem fotos que mostram quais os seus passatempos, personalidades e valores.
Escreve uma mensagem de abertura tendo isto em mente. Não partilhes apenas detalhes sobre ti, ou um genérico “olá”, nem inundes a outra pessoa com elogios. Faz uma ou duas questões para desencadear uma conversa mais longa. Menciona algo específico que a pessoa tenha escrito no seu perfil ou tenha feito numa foto. Por exemplo, se a pessoa tiver uma foto a fazer caminhadas, podes perguntar-lhe quais os seus trilhos preferidos, ou se tem outros passatempos.
Isto também é algo a pensar quando estás a criar o teu perfil. Acrescenta uma pergunta ou uma frase pensada que encoraje as pessoas a enviarem uma mensagem. Algo tão simples como “pergunta-me qual o meu fim-de-semana ideal” pode manter a bola a rolar.
Sê claro nas tuas intenções
Deixa claro o que pretendes com a interacção, quer seja conhecer pessoas novas, uma noite, ou algo a longo prazo. Isto pode poupar tempo e levar a uma experiência melhor. Ninguém quer dispensar energia a comunicar com alguém que não quer a mesma coisa.
Se queres ter um encontro, podes sugerir algo como: “Gostava de sair e mostrar-te porque é que cacio e pepe é a melhor refeição italiana.”
Se apenas te interessa uma noite, clarifica que estás à procura de algo casual, mas não fales muito rápido ou agressivamente de sexo — as pessoas acham isso desmotivador. Ao invés, diz que a outra pessoa te chamou a atenção e que gostavas de perceber se há química numa noite juntos.
Respeita as intenções das outras pessoas e os diferentes níveis de conforto no que toca a correr riscos — emocionalmente e fisicamente. Podes começar por partilhar o que é importante para ti a nível de segurança. Isto pode ser relacionado com a saúde (como os testes de covid-19 ou as vacinas contra a varíola-dos-macacos), ou relacionado com a segurança, como encontros em locais públicos. Não tem de acontecer na primeira mensagem, mas vale a pena discutir estas questões antes de um encontro presencial e normalmente é mais fácil falar sobre isso online.
A minha investigação com outros colegas sobre homens gays durante a pandemia descobriu que, nas apps de encontros, as pessoas gradualmente começam a afastar-se das normas de segurança governamentais, para estabelecerem as suas próprias estratégias e limites. Só porque te sentes de uma forma em relação a cuidados de saúde, não quer dizer que o teu parceiro se sinta da mesma forma.
Não leves as coisas a peito
É difícil não levar as coisas a peito. A rejeição, mesmo online, pode ser dolorosa. Pode ser ghosting — quando alguém abruptamente deixa de te mandar mensagens sem um aviso — ou simplesmente quando não obténs uma resposta depois da primeira mensagem.
Podes pensar: “Demos match, o que significa que a outra pessoa gosta de mim! Por isso, porque haveria de me ignorar?” Infelizmente, isto acontece frequentemente em apps de encontros. Muitos factores influenciam se a pessoa vai falar depois de fazer match, incluindo a orientação sexual e o género. Por exemplo, as mulheres heterossexuais são mais prováveis de ter muitos matches interessantes para gerir do que um homem heterossexual.
As mulheres também têm, frequentemente o fardo da segurança — filtrar os matches para se protegerem. Quer seja por selectividade, não ler os perfis atentamente ou simplesmente ignorar a caixa de mensagens num dia ocupado, um match nem sempre leva a uma conversa.
A minha investigação sugere que há ideias incompatíveis no que toca a etiqueta social nas apps. Não responder a uma mensagem pode parecer rude, porque nunca ignorarias alguém que falasse contigo na vida real. Mas outras pessoas podem ver o ghosting como uma norma de conveniência que as interacções céleres das apps de encontros proporcionam.
As pessoas estão em apps de encontros por motivos diferentes. O que quer que estejas à procura há, provavelmente, alguém por aí para ti.
Exclusivo PÚBLICO/The Conversation
Rachel A. Katz é investigadora de pós-doutoramento na Universidade de Salford