Governo pede à nova AICEP que “prepare as PME para novas exigências” da exportação

MNE diz que “2023 será mais difícil do que 2022”, mas “talvez não tanto como se temia”. Administração da agência apresenta contas até Março e já há prioridades para a nova equipa que entrará em Abril.

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Adriano Miranda

A nova administração da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) vai ter de “reforçar a capacidade de trabalhar com as câmaras de comércio espalhadas pelo mundo” mas vai, sobretudo, ter de “preparar as pequenas e médias empresas para um conjunto de exigências que agora fazem parte do mundo da exportação”.

Para o secretário de Estado da Internacionalização, Bernardo Ivo Cruz, essa é a “preocupação nova” do conselho de administração que deverá ser nomeado depois da saída da equipa liderada por Luís Castro Henriques, que tem de apresentar contas até ao final de Março.

Falando em Itália, onde se tem encontrado com empresários portugueses de calçado que integram a comitiva portuguesa organizada pela Apiccaps para a MICAM – a grande feira bianual desta indústria em Milão –, o governante disse que essas “novas exigências” passam por temas como a “certificação ambiental” e “responsabilidades sociais”, entre outras.

Também pede à nova equipa da AICEP que “continue o esforço de diversificação de mercados”. Ainda não se sabe que equipa é essa, embora em Dezembro tenha sido noticiado que Filipe Costa, actual presidente da AICEP Global Parques, será o sucessor de Castro Henriques, transitando desta subsidiária da AICEP responsável pela gestão de parques industriais para a presidência da agência que apoia exportadores e investidores internacionais interessados em entrarem em Portugal.

O secretário de Estado disse que ainda não há decisões na CReSAP, que tem de dar parecer sobre as escolhas governamentais para as entidades do Estado e por isso preferiu “não antecipar[-se]” na divulgação ou confirmação de nomes. Certo é que todos vão ter de “remar na mesma direcção”. “Se não trabalharmos todos juntos vamos todos ter um ano mais difícil”, vincou.

"Repartir risco e lucro"

Castro Henriques está de saída da AICEP após dois mandatos de três anos (2017-2023) e despede-se com um recorde na captação de investimento directo estrangeiro (IDE) e num momento em que as exportações portuguesas de bens e serviços já valem 50% do PIB, um objectivo conseguido com três anos de antecedência face ao que era a meta do governo, que apontava para essa percentagem em 2025, como salientava o ministro da Economia em entrevista ao PÚBLICO.

Quanto ao IDE, a AICEP garantiu 42 investimentos em 2022, um novo máximo conseguido à custa da captação de um enorme volume de novos centros de serviços partilhados, como o PÚBLICO noticiou no final de Novembro. Trinta e dois desses 42 investimentos são centros de serviços de multinacionais estrangeiras. EUA e Reino Unido estão no topo da lista dos maiores investidores internacionais, com 25% e 19% respectivamente.

Bernardo Ivo Cruz realçou a vontade de manter a aposta na captação de investimento e apoio à exportação, dois pilares da estratégia Internacional 2030, até porque o Governo aponta agora para a meta de elevar o peso das exportações para 53% do PIB até 2030.

Aumentar o número de exportadores e diversificar mercados de exportação são as duas metas dessa estratégia. Cabe a cada empresa escolher o seu destino, sublinha o governante, mas é importante que "possam trabalhar em conjunto, ajudarem-se umas às outras, reforçarem a capacidade de internacionalização, repartindo o risco e o lucro desse exercício".

Expectativas melhoraram

Para 2023, as perspectivas actuais não são tão sombrias quanto o eram no final de 2022, apesar de ninguém esperar facilidades realça o mesmo responsável.

O ano passado foi “particularmente extraordinário” e os números sugerem que “Portugal continuará a crescer, embora menos do que em 2022”. Já 2023 "vai ser mais difícil para toda a gente", porque "vamos ter de lidar com a inflação", porque "as matérias-primas estão mais caras", e "por causa da guerra", avalia.

Uma das variáveis críticas é a evolução económica nos principais clientes de Portugal. “Havia alguma preocupação com os nossos mercados de exportação – e continua a haver – nomeadamente aqui na Europa”, por causa da ameaça de recessão. No entanto, “parece que esse risco, pelas últimas previsões, não será tão mau”.

“O ano de 2023 será mais difícil do que 2022. Mas talvez não seja tão mais difícil quanto temíamos no final do ano passado, quando as previsões indicavam recessões em mercados tão importantes como Espanha, Alemanha e outros na Europa.”

A Micam abriu neste domingo no palco habitual, o recinto da Fiera de Milão, com a participação de cerca de 33 empresas portuguesas. Continua até dia 21, em paralelo com a Mipel, feira dos artigos de pele e marroquina em que participa uma empresa portuguesa. Nesse mesmo dia abre a Lineapelle, feira de componentes para calçado e curtumes, em que participam outras 33 empresas portuguesas.

O jornalista viaja a convite da Apiccaps

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