PPE anula jornadas em Nápoles depois de críticas de Berlusconi a Zelensky
Ex-primeiro-ministro italiano disse que Presidente ucraniano é culpado pela guerra por atacar o Donbass. O partido europeu de direita decidiu que face às declarações anulava as jornadas de Julho.
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O Partido Popular Europeu (PPE), que no Parlamento Europeu engloba os deputados de centro, centro-direita e direita, decidiu anular as jornadas que tinha marcadas para 6 a 9 de Junho em Nápoles depois de o fundador da Força Itália, um dos três partidos da coligação de governo italiana, ter acusado o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, de ter provocado a invasão russa.
“Na sequência das observações de Silvio Berlusconi sobre a Ucrânia, decidimos anular a nossa jornada de estudo em Nápoles”, escreveu o líder do PPE, Manfred Weber, no Twitter. “O apoio à Ucrânia não é facultativo”, justificou.
Weber garantiu que a Força Itália (FI) e Antonio Tajani, presidente do partido italiano, continuam a ter o apoio do PPE e que a “cooperação com o Governo italiano” se mantém inalterável, apesar da decisão tomada agora, numa demonstração de que o desentendimento é com o ex-primeiro-ministro italiano e não com o seu partido.
Berlusconi, actualmente senador, reagiu dizendo estar a ser criticado por querer abrir uma via de diálogo para a paz na Ucrânia. “Com o mundo à beira de uma guerra nuclear entre a Rússia e os países da NATO, eu sou criticado porque estou a pedir que, em conjunto e com o apoio da Ucrânia, que sempre partilhei e votei na Força Itália, seja aberta imediatamente uma mesa de diálogo para alcançar a paz”, escreveu o actual senador.
“Este é um dever para um partido como o PPE”, sublinhou Berlusconi. E sem parecer incomodado com a decisão de Weber de cancelar as jornadas de Nápoles, insistiu no tema: “Acho que este é um assunto que já não pode ser adiado e peço que seja colocado imediatamente na agenda das reuniões do PPE.”
Tajani, antigo presidente do Parlamento Europeu e actual ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, discordou da decisão do PPE de cancelar a reunião de Nápoles porque “Berlusconi e a FI votaram sempre como o PPE em relação à Ucrânia, como testemunham as actas do PPE”, disse nas redes sociais.
O ministro dos Negócios Estrangeiros italiano também garantiu que a “Força Itália sempre se mostrou favorável à independência da Ucrânia, ao lado da Europa, da NATO e do Ocidente. Em todas as sedes continuaremos a votar com os nossos aliados do Governo respeitando o nosso programa.”
A primeira-ministra italiana, Georgia Meloni, não fez qualquer comentário, mas o ministro da Agricultura, Francesco Lollobrigida, cunhado de Meloni e falando em seu nome, disse aos jornalistas que, “do ponto de vista da acção concreta”, a primeira-ministra está alinhada com aquilo que a FI e Berlusconi assinaram no programa de governo. “Se alguém acabou por mudar de ideias, deve pôr isso em cima da mesa ou nas actas parlamentares. Se isso não acontecer, significa que seguimos na boa direcção.”
Nas suas declarações, no domingo passado, o antigo primeiro-ministro italiano referiu que “estamos a assistir à devastação [da Ucrânia] e ao massacre de soldados e de civis”, algo que poderia ter sido evitado. “Bastava” que Zelensky tivesse “parado de atacar as duas repúblicas autónomas do Donbass e isso nunca teria acontecido”.
As duas repúblicas, onde milícias separatistas pró-russas lutam contra as forças ucranianas desde 2014 (ano em que a Rússia anexou a península da Crimeia), passaram a ser um objectivo da Rússia nesta guerra. As forças de Moscovo ainda não controlam todo o território, mas já as anexaram formalmente.
“Por isso, considero muito, muito negativo o comportamento desse senhor”, acrescentou Berlusconi em relação ao Presidente ucraniano.