Eleições na Turquia deverão mesmo realizar-se a 14 de Maio, apesar do sismo

Com o número de mortos do tremor de terra a superar só na Turquia os 40 mil, fontes do partido de Erdogan referem que não há intenção do Governo em adiar o sufrágio.

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Destruição do sismo poderá impedir Erdogan de cumprir o sonho de superar Atatürk (ao seu lado na foto) no panteão nacional turco SEDAT SUNA/EPA

O Governo turco não tem qualquer intenção, pelo menos para já, de adiar as eleições marcadas para o dia 14 de Maio, mesmo com o impacto catastrófico dos sismos no Sul da Turquia, cujo número de mortos só no país superou ontem a barreira dos 40 mil (40.600).

A informação foi avançada ao canal de televisão Habertürk por fontes do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), do Presidente Recep Tayyip Erdogan. A possibilidade de adiamento do sufrágio terá sido discutida esta semana numa reunião entre Erdogan e Devlet Bahceli, líder do Partido do Movimento Nacionalista, um dos parceiros da coligação governamental, mas terá sido posta de lado.

Bülent Arinç, co-fundador do AKP e antigo vice-primeiro-ministro, tinha defendido um adiamento do sufrágio por não haver condições para a sua realização. Declarações que levaram a coligação opositora a reagir, garantindo que há tempo suficiente para concretizar o acto eleitoral na data marcada e lembrando que, constitucionalmente, o adiamento por um ano só pode ser feito no caso de o Parlamento turco declarar guerra contra outro país.

Erdogan, primeiro-ministro entre 2003 e 2014 e Presidente desde então (a partir da revisão constitucional de 2017 e da sua eleição em 2018, passou a ser Presidente e chefe do Governo), anunciou em Dezembro que, se vencer, este será o seu último mandato.

Para a oposição, a candidatura do Presidente a mais um mandato é inconstitucional por causa do limite de mandatos, mas o mandatário e o seu Executivo defendem que o mandato para o qual foi eleito em 2018 é o primeiro com a nova Constituição, o que lhe permite recandidatar-se.

Os sismos devastadores que atingiram o Sul da Turquia a 6 de Fevereiro transformaram estas eleições no maior teste político que Erdogan tem de enfrentar desde que chegou ao poder, como escreveu a jornalista Sofia Lorena no PÚBLICO no dia 8. Coincidindo com o centenário da República turca, vão permitir a Erdogan, se for reeleito, superar o “pai” dos turcos, Mustafa Kemal Atatürk, no panteão dos heróis da nação.

Mas, se antes essa corrida parecia trazer no horizonte uma vitória quase certa, também pela perseguição de políticos importantes da oposição, o rasto de mais de 40 mil mortos (número que deverá continuar a aumentar nos próximos dias e semanas, e com cada vez menos histórias miraculosas de resgates) poderá trazer mais dificuldades para Erdogan superar Atatürk.

Mais ainda porque os mais de 264 mil apartamentos destruídos quando a terra tremeu no dia 6 mostram que a legislação anti-sísmica num país propenso a desastres do género não só não foi cumprida como foi altamente negligenciada – mais de 100 construtores e promotores imobiliários foram, entretanto, detidos, mas isso não invalida que a corrupção e a falta de fiscalização não venham a reflectir-se no resultado nas urnas a 14 de Maio.

Até porque à raiva pelo desmoronamento de edifícios com areia a mais e cimento a menos, transformados em armadilhas para dezenas de milhares de pessoas, se juntou a falta de resposta rápida dos meios do Estado para socorrer as vítimas. Ainda está para se saber se essa falta de socorro nas primeiras 48 horas – e dizem os estudos que a maioria dos sobreviventes de sismos são encontrados nas primeiras 24 horas – não contribuiu para aumentar a quantidade de mortos.

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