Morreu Stella Stevens, a actriz que queria ser mais do que uma loira no cinema dos anos 1960
Ao lado de Jerry Lewis em As Noites Loucas do Dr. Jerryll ou de Elvis em Garotas! Garotas! Garotas!, a actriz de comédia tinha aspirações autorais. Filmou com Peckinpah, Minnelli ou Cassavetes.
A actriz norte-americana Stella Stevens morreu sexta-feira aos 84 anos. O seu filho, o produtor e actor Andrew Stevens, disse que a causa da morte foi a doença de Alzheimer. O filho tem um dos papéis que Stella Stevens, uma das “blonde bombshells” da década de 1960 que brilhou em filmes ao lado de Elvis Presley ou Jerry Lewis, ambicionava — um que a pusesse atrás das câmaras, a escrever ou a realizar, como assinala o New York Times.
Nascida no estado do Mississippi em 1938, sob o nome de Estelle Caro Eggleston, casou-se aos 15 anos com um colega de turma, Herman Stephens, e um ano depois nascia o seu filho; divorciou-se aos 17, como enumera a revista Hollywood Reporter, mas manteve o apelido que, com um toque no seu primeiro nome, lhe daria o seu nome profissional.
Stella Stevens foi modelo da Playboy, trabalhou com a 20th Century Fox no dealbar do “studio system” e os seus papéis mais conhecidos foram em filmes como As Noites Loucas do Dr. Jerryll (1963), com Lewis, ou em Garotas! Garotas! Garotas! (1962), ao lado de Elvis Presley — filme que a Hollywood Reporter diz que a própria actriz detestava.
Fez uma longa carreira muito baseada na comédia mas também desempenhou papéis em dramas como Prisioneiros da Noite (1961), de John Cassavetes, ou variações de prostitutas ou ex-prostitutas em A Balada do Deserto (1970), de Sam Peckinpah, e 48 Horas de Angústia (1966), bem como no filme A Aventura do Poseidon (1972), contracenando com Ernest Borgnine. Filmou ainda com Vincente Minnelli em As Noivas do Papá (1963), por exemplo, e contracenou com Dean Martin em dois filmes.
O público televisivo continuou a vê-la anos fora — três episódios de O Barco do Amor, dois de Ilha da Fantasia, um de Um Anjo na Terra, outro de Crime, Disse Ela, mais um de Bonanza, entre mais de uma centena de papéis que perfizeram uma carreira na qual, ainda este ano, deu voz a um esquilo em Os Quackers: Ilha do Pato.
O New York Times contextualiza a sua carreira num estrelato que a punha ao lado de outras “starlets” como Brigitte Bardot ou Raquel Welch, que morreu esta semana, mas também recorda como as suas aspirações criativas foram abafadas pelo sistema dos estúdios e pelo sexismo da indústria — “Queria ter sido autora-realizadora”, disse em 1994 ao historiador de cinema Michael G. Ankerich, numa entrevista que assinalava os 40 anos de Poseidon. “De repente fui desviada para me tornar numa actriz sexy. Uma vez sexy, não podia fazer mais nada. Não havia nada legítimo que eu pudesse fazer.”