Carmen Souza estreia Interconnectedness em vários palcos portugueses

Filho da pandemia, o novo álbum da cantora Carmen Souza está agora a correr vários palcos em Portugal e no estrangeiro. Este sábado está no Luísa Todi, em Setúbal.

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Carmen Souza PATRICIA PASCAL

Carmen Souza tinha acabado de lançar um disco dedicado à obra e ao génio de Horace Silver (1928-2014), pianista e compositor de origem cabo-verdiana nascido dos Estados Unidos, quando a pandemia se abateu sobre o mundo e a obrigou ao recolhimento. Em lugar de ficar parada, lançou mãos à obra, com o seu companheiro e cúmplice de vários discos, Theo Pascal, e daí nasceu um novo álbum, Interconnectedness, palavra extensa (interconectividade) que espelha as condições que o viram nascer. “É um dos filhos da pandemia”, explica Carmen ao PÚBLICO. “Tínhamos acabado de lançar The Silver Messengers e havia já uma tournée marcada com mais de 60 datas, na Europa e pelo mundo, e foi tudo cancelado. Então, eu e o Theo acabámos por transformar aquele momento mau que estávamos a passar num período de criação. Este disco tem uma componente de muita experimentação, porque o tempo nos deu essa possibilidade.”

Nascida em Lisboa, em 1981, numa família cabo-verdiana, Carmen Souza começou por cantar gospel, vindo a ser influenciada, nas modulações do canto, por vozes como as de Ella Fitzgerald, Billie Holiday ou Nina Simone. Em nome próprio, com o contrabaixista português Theo Pascal e outros convidados, gravou um total de dez álbuns: Ess ê nha Cabo Verde (2005), Verdade (2008), Protegid (2010), Kachupada (2012), London Accoustic Set (2012, ao vivo), Live at Lagny Jazz Festival (2014, com DVD), Epistola (2015), Creology (2017), The Silver Messengers (2019) e Interconnectedness (2022).

Com dez temas, na sua maioria compostos em parceria por Carmen e Theo (Kuadru pintadu, Dja txiga, Sopru di amor, Interconnectedness, Gratidon, Maman e Silver blues), o álbum inclui ainda versões de My baby just cares for me, Sous le ciel de Paris e Pata pata, respectivamente dos repertórios de Nina Simone, Edith Piaf e Miriam Makeba. “São temas que já fazíamos ao vivo e dedicámo-nos a trabalhá-los, com manipulação de sons”, justifica Carmen. “Queríamos ir buscar reverberações naturais de igrejas, mas não foi possível, por causa da pandemia, e então recorremos a túneis. Usámos também sons pouco convencionais, como utensílios de cozinha. No caso do My baby just cares for me, recorremos a uma fruteira metálica, deixámo-la cair e aquele som da queda, depois de manipulado, foi transformado no cars and races de que fala a canção.”

Quanto a Pata pata, parece gravado ao vivo, porque se ouve o burburinho do público, no início, e aplausos no fim. Só que é uma montagem. “É um tema que normalmente fazemos como encore, as pessoas cantam connosco, batem palmas, é um tema de alegria, com muita partilha em palco. E o que aconteceu foi: na altura da pandemia, houve uma breve abertura de fronteiras e foi possível fazer um concerto na Alemanha. E eu e o Theo tivemos a ideia de levar um pequeno gravador, gravámos o público e trouxemos esse som, das pessoas a entrar na sala e a participar connosco, e incluímo-lo no disco, quase como uma participação especial do público e uma forma de dizer que estávamos com saudades de tocar para as pessoas e de sentir a vibração delas.”

A rodagem de Interconnectedness já começou, com formações diversas. Este ano, por exemplo, Carmen e Theo tocaram no histórico Ronnie Sctott’s de Londres, em quinteto, e em 2022 andaram pela Alemanha, Itália (países a que voltarão este ano, juntamente com Espanha e França) e Áustria. A digressão portuguesa começou este mês, na Covilhã (dia 11, no Teatro Municipal) e tem espectáculos marcados para este sábado, em Setúbal (no Fórum Municipal Luísa Todi, às 21h), para Março (dia 31, em Lisboa, no Museu do Oriente), Abril (dia 20, Festival de Jazz de Ovar), Maio (dia 5, no TBA, Aveiro) e Junho (dia 30, Festival Mea Jazz & Blues, na Mealhada). O primeiro dos concertos em Portugal, diz Carmen, “foi muito bom”: “O público da Covilhã é sempre muito especial, existe muita curiosidade das pessoas, já lá tínhamos tocado há uns anos e continuamos a sentir essa boa vibração.”

Nesta digressão, actuam em quarteto. Com Carmen Souza (piano, guitarra, voz) estão Theo Pascal (baixo), Elias Kacomanolis (bateria) e Marcos Alves (percussão, teclados e sintetizadores). Quanto ao repertório escolhido, junta os temas novos a outros que gostam de tocar: “Tentamos fazer quase como uma banda sonora, porque há temas em que temos ainda algo para dizer, dos álbuns anteriores, e há outros que gostamos de revisitar, juntamente com os temas novos que estamos a experimentar ao vivo. Porque a música não estagna no formato de CD, quer sempre voar e é nos palcos que a vamos experimentando.”

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