Ponte militar para a Jornada Mundial da Juventude poderá não avançar

A decisão de abater a instalação da ponte pode representar uma poupança de 700 mil euros às câmaras de Lisboa e Loures. Deputados municipais visitaram as obras.

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Anacoreta Correia guiou os deputados municipais Guillermo Vidal

Poderá haver uma nova poupança nas infra-estruturas a construir no Parque Tejo, onde serão realizados os principais eventos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Depois de Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), ter anunciado uma redução dos custos do palco-altar de 4,2 para 2,9 milhões de euros, Filipe Anacoreta Correia, vice-presidente da autarquia alfacinha com o pelouro da jornada, admitiu nesta quinta-feira que pode não ser necessário instalar uma ponte militar sobre o Rio Trancão, cujo valor estimado é de 700 mil euros a dividir em partes iguais entre as câmaras de Lisboa e Loures.

Durante uma visita de deputados municipais da CML aos terrenos do Parque Tejo, Anacoreta Correia admitiu ao PÚBLICO a eliminação desse custo, embora tenha sublinhado que esse corte ainda “não está formalmente decidido”. “Desde que o presidente da Câmara de Loures admitiu a possibilidade de não ser necessário avançar com a ponte militar esse corte ficou em cima da mesa”, afirmou o vice-presidente da CML.

A ponte militar tinha como principal finalidade possibilitar que o papamóvel atravessasse o Rio Trancão para assim poder chegar aos terrenos na parte de Loures. Acontece, segundo Anacoreta Correia, que “a primeira ideia de que o carro que transportará o Papa irá percorrer todo o Parque Tejo poderá não vir acontecer”.

O que os 29 deputados da 1ª comissão de Finanças, Património, Recursos Humanos e da subcomissão da JMJ da Assembleia Municipal de Lisboa puderam ver nos cerca de 35 hectares do Parque Tejo em Lisboa (100 hectares no total) é que a terraplanagem já está concluída e alguns dos 35 talhões têm já semeada relva. Ficaram ainda com a garantia do vice-presidente da CML que, no que respeita a autarquia, os prazos das obras “estão a ser cumpridos” e que se mantém a previsão de tudo estar concluído “no final de Maio”. “As obras estão a um bom ritmo. […] Como responsável político na câmara, posso assegurar que as obras não se têm perturbado com as notícias”, assegurou.

Guiados por Anacoreta Correia e pelos funcionários da empresa municipal Lisboa Ocidental SRU - Sociedade de Reabilitação Urbana, responsáveis pela obra, começaram por ver os trabalhos na ponte pedonal sobre o Rio Trancão, que tem um custo de 4,2 milhões de euros e que “deverá estar concluída dentro de dois meses”.

Depois fizeram uma caminhada até à zona onde será construído o polémico palco-altar, a cargo da construtora Mota-Engil e ainda numa fase pouco adiantada. Anacoreta Correia chama-lhe “objecto de palco não identificado”, “uma das muitas obras que ficará para o futuro ao serviço da cidade”.

O vice-presidente insistiu na ideia de que dos cerca de 35 milhões de euros que a autarquia tem orçamentado para a JMJ (20 milhões para as obras do Parque Tejo), “apenas 10 milhões dos gastos não vão ficar para o futuro”.

Foi com vista para o terreno onde será construído o palco que Anacoreta Correia respondeu às perguntas dos deputados. Garantiu-lhes que os terrenos, onde antes estava instalado um aterro sanitário, “estão completamente descontaminados e são seguros” e desvalorizou as consequências ambientais futuras num espaço onde se podem realizar diversos eventos públicos com a participação de grandes grupos de pessoas.

Vários deputados manifestaram-se também preocupados com o facto de os jovens participantes na jornada estarem vários dias num terreno onde não existe uma única sombra.

“Essa questão sempre se colocou em todas as jornadas que também se realizaram em Agosto. Não se justificava ter um milhão de jovens num recinto fechado. Fátima também é ao ar livre”, disse o vice-presidente da autarquia, assegurando que cada um dos 35 talhões (cada um com o tamanho de um campo de futebol), “terá um posto de socorro e distribuição de água”.

Outra preocupação dos autarcas prendeu-se com o facto de os jovens, em dias de calor, terem a tentação de se lançar ao Tejo, que corre paralelo aos terrenos. Os deputados tiveram a garantia de que será montada uma vedação que impedirá essa tentação.

Mais críticas a Sá Fernandes

Irene Lopes (PS), presidente da 1.ª Comissão, questionou Anacoreta Correia sobre “se não é possível engolir sapos” para que o evento corra bem, referindo-se ao conflito com o coordenador do grupo de projecto para a JMJ, José Sá Fernandes, ex-vereador da Câmara de Lisboa.

Uma oportunidade para o vice-presidente da CML deixar mais umas “bicadas” no coordenador nomeado pelo Governo. “A câmara municipal, a assembleia municipal, a cidade de Lisboa têm os seus representantes legítimos democraticamente, temos como interlocutor o Governo e não admitimos, não poderíamos aceitar que a câmara fosse remetida para uma competência administrativa coordenada ao nível administrativo. Não é isso que pode acontecer, não é isso que acontece”, afirmou, acrescentando que tem existido uma boa coordenação com a ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes.

Anacoreta Correia disse ainda que “é preciso que o Governo transmita àqueles em quem confia determinadas tarefas que tenham o respeito democrático que a câmara municipal exige”.

“Se tiverem respeito, nós trabalharemos juntos. Se não tiverem respeito, o Governo tem de encontrar uma resposta, mas a responsabilidade é deles. Da nossa parte, total ajuda, cooperação, empenho no sucesso deste evento e isso passa, naturalmente, por boa articulação”, acrescentou.

Confessionários construídos por reclusos

Esta quinta-feira, soube-se também que os confessionários que serão instalados no Parque do Perdão vão ser construídos por reclusos dos estabelecimentos prisionais de Coimbra, de Paços de Ferreira e do Porto. Para tal, será assinado na sexta-feira um protocolo entre a Fundação Jornada Mundial da Juventude e a Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais.

Esta será, no entender das duas entidades, uma "actividade que contribuirá para promover a reinserção social de reclusos aquando do seu retorno à vida activa, através da sua capacitação profissional, do trabalho e da interacção com a comunidade", refere a nota de imprensa em que anunciam a assinatura do protocolo.

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