Já se idealizaram milhares de soluções para encontrar o caminho para a sustentabilidade na indústria da moda — uma das mais poluente do planeta —, e talvez a resposta esteja na experimentação e em trazer olhares renovados para o tema. É essa a proposta do beat by be@t, o novo projecto levado a cabo pelo Business Council for Sustainable Development (BCSD Portugal), uma associação que representa centenas de empresas portuguesas, comprometidas com a transição para a sustentabilidade. Os designers e engenheiros têxteis são convidados a candidatar-se a partir desta quinta-feira, 16 de Fevereiro.
O projecto be@t é liderado pelo Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário de Portugal (Citeve) e conta com um consórcio de 54 entidades, juntas na “procura da inovação para a sustentabilidade”, com o apoio de 138 milhões de euros do Plano de Recuperação e Resiliência. Fazem parte instituições de ensino como a Escola Superior de Artes e Design de Matosinhos, a Universidade de Aveiro, a Universidade Nova de Lisboa ou a Universidade Católica Portuguesa. Juntam-se, ainda, empresas como o grupo Valérius, a Lameirinho e a Impetus.
“O objectivo é que a indústria passe a ter um impacte positivo para o planeta. Como fazermos do têxtil e vestuário uma fonte de bioeconomia para Portugal”, explica ao PÚBLICO João Wengorovius Meneses, secretário-geral do BCSD. O consórcio participa no projecto para fazer a ligação entre a indústria e os novos talentos, que podem trazer soluções, essenciais para se atingirem as metas do Acordo de Paris sobre o clima e o Pacto Ecológico Europeu. “Vão abrir uma janela, criar uma corrente de ar, neste sector tão importante para a economia nacional. E que, quanto mais sustentável, mais competitivo será.”
Nasce assim o beat by be@t, apresentado nesta quinta-feira no salão têxtil Modtíssimo, na Exponor, em Matosinhos. O objectivo é ligar as pequenas e médias empresas — “muito reféns do seu quotidiano” e, frequentemente, “sem lastro financeiro para inovar em sustentabilidade” — a novos talentos que apresentem soluções para uma indústria tão poluente.
“O designer terá um papel catalisador de pensar, de forma holística, como se pode resolver os problemas relativos à sustentabilidade”, começa por explicar a gestora do projecto, Catarina Pedroso. Numa primeira fase, cerca de 40 designers e engenheiros têxteis podem inscrever-se para receber formação e mentoria, em parceria com duas empresas têxteis, a Riopele e a Tintex.
Os candidatos, esclarece Catarina Pedroso, devem ser pessoas com alguma experiência na área da sustentabilidade e apresentar soluções para o sector. Por exemplo, a criação de uma nova fibra, uma tecnologia que agilize os processos de produção ou uma nova estratégia para reduzir os desperdícios — um dos principais problemas reportados pelas empresas, segundo apurou o BCSD, através de um inquérito aos mais de 150 associados. Mas a organização não exclui propostas inovadoras: “Não estamos a querer fechar nada.”
Após terminarem as candidaturas, a 31 de Março, os cerca de 40 seleccionados vão passar dois dias e meio nas empresas têxteis associadas, para perceberem como funcionam e quais são os desafios internos. “Queremos ter mais cabeças a pensar nestes desafios, para não ser um exercício oco”, incentiva a responsável.
Um vencedor
Depois de uma primeira fase, as cinco melhores propostas de “solução” vão juntar-se a cinco empresas onde, ao longo de cinco meses, terão acesso a mentoria para a criação de projectos-piloto de cariz sustentável e circular. Assim, estão também abertas inscrições para as empresas que queiram participar e receber um dos candidatos.
Passados os cinco meses, os projectos serão apresentados na edição de Outubro da ModaLisboa, onde será seleccionado um vencedor. O prémio final contempla a possibilidade de comercializar o produto num ponto de venda internacional dedicado à circularidade, mas Catarina Pedroso não fecha a porta a outras oportunidades: “É a primeira edição, vamos ver o que vai surgir daqui. O projecto não se encerra em si.”
O beat by be@t vai realizar-se anualmente até Dezembro de 2025, quando termina o projecto do Citeve. Contemplará, ainda, uma iniciativa em parceria com o Portugal Fashion, dedicada aos novos talentos da plataforma Bloom, a ser apresentado mais detalhadamente na próxima edição do evento, em Março, no Porto.
A apresentação do projecto na tarde desta quinta-feira conta, ainda, com uma oradora convidada, Muchaneta ten Napel, directora da Shape Innovate e professora convidada da University of the Arts de Londres, no Reino Unido, que falará sobre a importância da inovação na indústria da moda. “Este é um tema decisivo. Quem ficar de fora da sustentabilidade, desaparece”, conclui João Wengorovius Meneses.