“Todo o esforço” da construção em Lisboa será em bairros sociais, diz vereadora
PS afirma que declaração de Filipa Roseta configura “mudança radical” da política da câmara e questiona Moedas.
Filipa Roseta (PSD), vereadora da habitação na Câmara Municipal de Lisboa, afirmou na terça-feira que “todo o esforço” de construção de habitação social será feito em bairros sociais. Inês Drummond, vereadora do PS na autarquia, acusa a social-democrata de ter uma “visão socialmente ghetizada da cidade”.
Num colóquio sobre “O novo caminho para a habitação”, organizado pelo PSD na passada terça-feira, Filipa Roseta disse que a autarquia “mapeou todo o território” tendo identificado “cerca de 30 bairros desqualificados” e que “todo o esforço” de construção de habitação social “é aí” que será feito.
“Isso é muito importante: não andar a fazer construção em sítios que não são os bairros degradados da cidade”, afirmou Roseta.
A vereadora do PSD revelou ainda que uma das coisas que a equipa da CML fez este ano foi “o recenseamento” dos bairros Portugal Novo, Carlos Botelho e Horizonte, “que são um cancro na cidade”, acrescentando que agora vão “lotear” os bairros e “requalifica-los”.
“Já que temos este esforço, já que vamos fazer alguma coisa, é nestes lugares que estão marcados pela criminalidade e pelo abandono. É a cidade esquecida, que não pudemos esquecer. É nestes sítios que todo o nosso esforço vai entrar, que é, não só para estarmos a produzir habitação, mas estar a requalificar a cidade. Podíamos fazer um bairro no Restelo, mas vamos fazer um bairro no Beato, um sítio marcado pela criminalidade e pela droga”, referiu.
O PS diz que esta afirmação configura “uma mudança radical da política de habitação da autarquia e exige um rápido e cabal esclarecimento” da CML. “As declarações da vereadora Filipa Roseta são inaceitáveis e merecem o mais forte repúdio do Partido Socialista”, acrescenta a vereadora socialista Inês Drummond.
“Ao assumir que a CML só irá construir habitação pública nas zonas mais pobres ‘e degradadas’ da cidade, associando activamente o Beato à criminalidade e toxicodependência, as declarações da vereadora da Habitação promovem e ajudam a perpetuar estigmas sobre a habitação social, representando ainda uma visão de cidade socialmente estratificada e onde a classe média é activamente excluída, pela própria autarquia, de alguns bairros e freguesias”, afirmou ainda ao PÚBLICO Inês Drummond.
A vereadora diz que o último ponto “é particularmente preocupante quando é apresentado, como aconteceu, com exemplos concretos que essa política já está a ser aplicada pelos vereadores dos Novos Tempos” (coligação partidária do executivo da CML).
“Ao dizer que deixou de construir um loteamento no Restelo (como é sua obrigação legal depois do mesmo ter sido aprovado há dois anos em reunião de vereação da CML) para o ‘fazer antes no Beato, um sítio marcado pela criminalidade e pela droga’, Filipa Roseta defende uma visão socialmente ghetizada da cidade”, salienta.
Inês Drummond acrescenta que, “quando todas as cidades europeias tentam corrigir os erros das décadas de 60 a 90 do século passado, com bairros sociais fechados sobre si mesmos e isolados da cidade, disseminando antes a política de habitação pública por toda a cidade”, Filipa Roseta “diz pretender construir apenas nos bairros ‘mais degradados’”.
“Esta política reverte mesmo o caminho que vinha sendo feito em Lisboa, com mais de 700 casas de arrendamento acessível construídas ou reabilitadas pelo programa de Renda Acessível, no último mandato, nas Avenidas Novas (Av. Forças Armadas, Av. da República, Av. EUA, Praça do Saldanha e Visconde Valmor)”, acusa a vereadora socialista.
“Os estereótipos que se afirmam sobre o território são mesmo o melhor meio para reproduzir e criar estigmas sobre certas zonas da cidade, mais ainda quando quem expressa essa visão é a responsável pela política pública de habitação da autarquia”, refere ainda.
A socialista entende que “Carlos Moedas tem de esclarecer, urgentemente, qual a razão para a mudança radical das políticas de habitação do município” e se “pretende cancelar os projectos em curso, ou em fase adiantada de estudo e projecto, para a construção pública no Restelo, Parque das Nações, Bairro Alto, Graça, Rua Gomes Freire, entre muitos outros”.