Bruxelas afasta cenário de recessão técnica e coloca Portugal a crescer 1% em 2023

Comissão Europeia aponta para queda da inflação para 5,4% este ano.

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Fernando Medina, ministro das Finanças, recebeu notícias menos pessimistas de Bruxelas Nuno Ferreira Santos

O cenário de recessão técnica parece estar afastado, tanto na União Europeia como em Portugal, mas as projecções da Comissão Europeia confirmam um significativo abrandamento da actividade económica no final do ano passado e início deste ano no país, que resultará num crescimento fraco de apenas 1% em 2023, e uma melhoria moderada em 2024, com o PIB a crescer 1,8%.

O desempenho da economia portuguesa estará em linha com o resto da zona euro, que segundo as estimativas da Comissão Europeia deverá crescer 0,9% este ano (0,8% no conjunto da União Europeia), um valor marginalmente mais positivo do que se antecipava no fim do ano passado e para o qual terá sido decisivo um desempenho bastante mais positivo do esperado na Alemanha, apesar da desaceleração. Para 2024, a Comissão Europeia manteve a sua projecção de um crescimento de 1,6% na zona euro e 1,5% na UE.

“A economia superou as expectativas no ano passado, com um crescimento resistente apesar das ondas de choque geradas pela guerra de agressão da Rússia na Ucrânia. Estes números são globalmente melhores do que antecipávamos, mas isso não quer dizer que sejam bons”, afirmou o comissário europeu da Economia, Paolo Gentiloni, que chamou a atenção para o grau de incerteza e os riscos que permanecem elevados, assim como a “heterogeneidade entre os Estados-membros”.

“O retrato mais positivo parece ter a ver com a força da resposta comum aos choques externos desde 2020”, referiu o comissário, aconselhando os Estados-membros a mostrar “a mesma determinação e ambição” para uma “política unida e abrangente da UE”, até porque “os europeus ainda enfrentam um período difícil pela frente”, alertou.

Em Portugal, depois de um ano de crescimento económico extraordinário de 6,7%, bastante acima dos 3,5% projectados para a zona euro, a perspectiva de Bruxelas é de um desempenho bastante mais fraco em 2023, “uma vez que os consumidores e as empresas ainda enfrentam incertezas sobre os custos da energia nos meses de Inverno”, escreve a Comissão Europeia, no relatório das projecções intercalares de Inverno, divulgadas esta segunda-feira, em Bruxelas.

A Comissão estima que o crescimento português melhore no segundo trimestre de 2023, mas sem ultrapassar o 1% no saldo do ano, e que “continue a crescer a partir daí, atingindo uma taxa anual de 1,8% em 2024, tendo como pano de fundo uma procura externa mais forte e preços de mercadorias mais favoráveis”.

As projecções de crescimento de Bruxelas são ligeiramente mais pessimistas do que as do Banco de Portugal, mas o comissário da Economia desvalorizou a divergência dos números, explicando que têm a ver com as diferentes datas em que os exercícios foram realizados. “Nós tivemos em conta os dados do quarto trimestre de 2022 [para o cálculo do crescimento], por isso a nossa estimativa é menos favorável do que a do Banco de Portugal”, justificou.

Já em relação à inflação, acontece o contrário, com a análise da Comissão sobre a evolução deste fenómeno a resultar numa estimativa mais favorável do que a do Banco de Portugal. A inflação, que segundo os técnicos de Bruxelas poderá ter atingido o pico no último trimestre do ano passado, quando bateu nos 10,2%, deverá abrandar este ano para 5,4%, e reduzir-se ainda mais no próximo ano, para um valor de 2,6%.

A correcção em baixa dos preços da energia, com a inversão do cenário de seca que afectou o país em 2022, é a principal explicação da queda da taxa de inflação. “O aumento do nível dos reservatórios de água parece já contribuir para a diminuição significativa dos preços da electricidade por grosso no mercado ibérico”, nota a Comissão.

Além dos fenómenos climatéricos, o comissário da Economia assinalou a “contribuição muito útil” da aplicação do chamado mecanismo de excepção ibérica na estabilização e controlo do preço da electricidade em Portugal.

A mesma tendência desinflacionista verifica-se na União Europeia: depois de atingir os 9,2% em 2022, a taxa da inflação deverá ficar nos 6,4% em 2023 e cair para os 2,8% em 2024, com a queda dos preços nos mercados energéticos e alimentar e a evolução dos mercados das matérias-primas.

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