Sentadas à mesa de um restaurante, as conversas são paralelas até que uma de nós conta que, finda a lua-de-mel começou a trabalhar no PÚBLICO, tinha então 26 anos. "26 anos?!", interrompe uma das convivas mais novas, incrédula, virando-se de imediato para mim para confirmar: "E tu casaste aos 25, não foi?", deixando-me quase embaraçada e com necessidade de justificar "sim, mas fiz 26 nesse ano..." De imediato, outras duas dizem que também casaram aos 26. "Mas deixa estar que três anos depois estava divorciada...", refere uma delas, fazendo-nos rir a todas. A nossa companheira mais nova continua com um ar incrédulo e diz, entre um sussurro e um grito: "Mas eu tenho 27..."

Não é fácil ser jovem. Não é fácil conseguir a independência económica que nós acreditamos ter (embora estejamos agrilhoados a empréstimos bancários e a juros que não baixam, a senhora Lagarde não deixa, e, como consequência, o nosso poder de compra anda pela Rua da Amargura), não é fácil arrendar ou comprar uma casa (as medidas governamentais ajudarão apenas os jovens privilegiados). E se vêem a sua vida tão dificultada, como podem passar à vida adulta? Entretanto, queixamo-nos do Inverno demográfico — é amoroso sabermos que cresceu o número de velhinhos com mais de 100 anos, mas é também assustador. A neurocientista Luísa V. Lopes dá algumas dicas para trocar as voltas à demência e envelhecer de maneira saudável.

E, insisto, como pode um jovem crescer e ter filhos se nada está preparado para que o possa fazer. Adoptamos tantas vezes o título do filme dos irmãos Coen, Este país não é para velhos, para dizermos isso mesmo, que nada está ajustado aos velhos, mas podemos adaptá-lo também aos jovens adultos  este país não é para jovens —, já que também nada está pensado em favor deles. É difícil entrarem no mercado de trabalho, entram com condições precárias, sem quaisquer benefícios, não conseguem sair de casa dos pais (a média está nos 29,7 anos, quando a europeia é 26,4). Assim, como conseguirão constituir família? Como vamos corrigir a pirâmide etária?

São engraçados os liberais que gostam de dar como exemplo os países nórdicos, quando estes são eminentemente sociais-democratas (mesmo que tenham governos à direita), países onde se pagam muitos, muitos impostos, mas que os cidadãos assumiram que vale a pena porque, por exemplo, na Dinamarca, além do ensino superior ser gratuito, os jovens recebem um subsídio que lhes permite sair de casa, viver com os namorados, viajar (nunca nenhum jovem dinamarquês vos perguntou se a água é potável em Portugal?, a mim já), trabalhar, constituir família, ter um ano de licença de maternidade... Um ciclo de benefícios sem fim já que não podemos esquecer que o acesso à saúde é gratuita, bem como as auto-estradas. Nesta semana, soubemos que na Suécia, os avós vão poder tirar uma licença de três meses, paga, para cuidar dos netos

No Birras de Mãe em podcast, Isabel e Ana Stilwell reflectem sobre uma notícia que diz que quase metade dos jovens portugueses diz sentir-se "muito próxima" dos pais. O que é compreensível por muitas das razões que já aqui enunciei, constatam, mas que revela também que, afinal, as relações com os progenitores são positivas e saudáveis. Não é um prazer ir almoçar ao domingo a casa dos pais? Essas ligações podem ser cultivadas desde cedo, por exemplo, com saídas em família, como as propostas pelo Guia do Lazer do PÚBLICO ou com leituras em conjunto dos livros infantis sugeridos por Rita Pimenta.

E volto à minha camarada de 27 anos, que não sente apenas todos os entraves descritos acima, mas também a pressão da idade. Uma pressão que se reflecte, como vimos nesta semana, em artigos como o de opinião na Newsweek: até a pessoa mais bem-sucedida no mundo pode ser criticada por não ter filhos (não é exagero, como poderão ler de maneira sucinta no artigo de opinião da economista Susana Peralta, poupando-vos à leitura de todos os textos que já escrevemos sobre o tema). O cronista John Mac Ghlionn considera que Taylor Swift não é um bom exemplo a seguir porque teve muitos namorados, ainda não assentou e não é mãe. Swift tem 34 anos. A jornalista Inês Duarte de Freitas foi ouvir investigadores e psicólogos sobre o tema. Li nas redes sociais que um bom exemplo para milhões é o de Jesus Cristo, um homem que morreu aos 33 anos, solteiro e sem filhos. É isto. 

Ainda há muito a fazer pela igualdade de géneros e Liliana Carona dá-nos o exemplo de um anúncio infeliz associado ao Euro 2024. "'Faz amor por amor à selecção. E daqui a nove meses estás em casa a vibrar com o Euro', não é só uma infeliz campanha de marketing, como se trata de um desafio totalmente desonesto, numa altura em que a verdade tem sido estratégia de publicidade por inúmeras campanhas publicitárias", diz a autora, lembrando que a paternidade não é fácil — sim, que este país também não é para os pais!

Termino com o podcast Um Homem não Chora com Ivo Canelas, que se mostra preocupado com as novas gerações. O actor lamenta assistir a um certo retrocesso de mentalidades e a um maior conservadorismo, "uma visão mais reduzida da igualdade" e "um aumento do preconceito", alerta. Cabe-nos a nós, pais, educarmos os nossos filhos para olharmos os outros como iguais, para que as meninas não sintam a pressão do casar cedo, ter filhos e ser feliz para sempre, mas apenas a de ser feliz, não interessa o que os outros pensam. 

 

Boa semana!