Coreia do Norte exibe uma dúzia de mísseis intercontinentais em parada militar nocturna
É o maior número de mísseis ICBM alguma vez revelado pelo regime de Kim Jong-un e serve de alerta aos EUA. Filha do líder norte-coreano volta a merecer lugar de destaque num evento militar.
O regime norte-coreano exibiu cerca de uma dúzia de mísseis intercontinentais durante uma imponente parada militar realizada na quarta-feira à noite, em Pyongyang, por ocasião das celebrações do 75.º aniversário da fundação do Exército da Coreia do Norte.
Trata-se do maior número de armamento balístico de sistema ICBM alguma vez exibido pelas Forças Armadas do país de Kim Jong-un e, segundo alguns analistas, tem potencial para pôr em causa as capacidades defensivas dos Estados Unidos contra mísseis daquele tipo.
As imagens divulgadas esta quinta-feira pela agência noticiosa estatal KCNA mostram pelo menos 11 projécteis do modelo Hwasong-17 – que, supostamente, têm capacidade para transportar ogivas nucleares e um alcance estimado de 13 mil quilómetros –, diversos mísseis de curto e de longo alcance e outro tipo de armamento de artilharia.
A Yonhap destaca ainda a exibição de um outro alegado ICBM, que nunca tinha sido revelado, e que poderá ter sido desenhado para transportar um míssil de combustível sólido; uma tecnologia que, sublinha, no entanto, a agência noticiosa sul-coreana, o regime norte-coreano nunca deu provas de dominar.
A KCNA não ofereceu grandes detalhes sobre o arsenal exibido na praça central da capital da Coreia do Norte, tendo apenas afirmado que se tratou de uma demonstração “do poderoso dissuasor de guerra e das capacidades de contra-ataque” das suas Forças Armadas.
“Este é o maior número, em termos cumulativos, de lançadores ICBM que alguma vez vimos numa parada [militar] na Coreia do Norte”, escreveu no Twitter Ankit Panda.
Segundo o investigador e especialista em Política Nuclear e Assuntos Asiáticos do Carnegie Endowment for International Peace, o material de guerra exibido serve de alerta para os Estados Unidos: “A Coreia do Norte está a exibir ICBM’s suficientes para sobrecarregar o sistema de defesa que os EUA têm contra eles.”
A exibição destes mísseis acontece depois de um ano de 2022 em que o regime de Kim quebrou todos os recordes de ensaios balísticos realizados – pelo menos 70, que incluíram oito mísseis intercontinentais, de acordo com a Yonhap – e numa altura em que EUA, Japão e Coreia do Sul temem que a Coreia do Norte se esteja a preparar para um teste nuclear, que seria o primeiro desde 2017.
Outra curiosidade das fotografias divulgadas pela KCNA é o papel de destaque que a filha do “Líder Supremo” volta a ter e que reforça as suspeitas de que Kim pode já ter escolhido quem lhe vai suceder na muito particular ditadura dinástica norte-coreana – depois de ele próprio ter sucedido ao pai, Kim Jong-il, que, por sua vez, tinha sucedido a Kim Il-Sung, avô de Kim Jong-un e fundador do regime comunista asiático.
Pouco se sabe sobre Kim Ju-ae, mas suspeita-se que terá entre dez e 12 anos e que não é a mais velha dos três filhos que se diz que Kim Jong-un tem – alegadamente existe um rapaz, mais velho, e uma outra filha, mais nova que Ju-ae.
Tal como já tinha acontecido em meados de Novembro, por ocasião de um ensaio com um míssil intercontinental, em que foi fotografada com o pai junto ao monstruoso projéctil e a um grupo de soldados norte-coreanos, a filha de Kim surge em várias imagens exibidas nesta quarta-feira, vestida de preto; seja numa varanda a assistir ao desfile militar ou num banquete de comemoração do aniversário da fundação do Exército.
“Os propagandistas estatais da Coreia do Norte estão claramente a tentar retratar Kim Jong-un como um homem de família”, diz à BBC Martyn Williams, especialista em Coreia do Norte no Stimson Center. “Mas a exclusão da sua outra suposta filha [das fotografias] é curiosa”, acrescenta, e intensifica as suspeitas sobre a sucessão.
Há cerca de dois anos, quando Kim Jong-un esteve “desaparecido” durante 21 dias, alegadamente por problemas de saúde, também se especulou sobre quem poderia suceder-lhe. Desde essa altura, a irmã mais nova do ditador, Kim Yo-jong, começou a aparecer e a intervir mais vezes publicamente, dando a entender que teria subido na hierarquia da mais poderosa família da Coreia do Norte.