A Superliga volta a atacar: várias divisões e sem lugares garantidos
Depois do fracasso da proposta apresentada em 2021, o novo modelo apresenta alterações substanciais.
Afinal, a Superliga europeia não morreu, estava só a dormir. Nesta quinta-feira, vários jornais europeus, entre eles o diário espanhol El País e o alemão Die Welt, divulgaram os princípios orientadores do projecto, reformulado pela A22 Sports Management nos últimos meses. Ainda não são conhecidas datas nem valores, mas já se sabe como irá funcionar, em princípios gerais: serão entre 60 e 80 equipas participantes distribuídas por várias divisões, de acordo com mérito desportivo, e sem lugares garantidos.
Esta nova proposta é bastante diferente da que surgiu em Abril de 2021, em que 12 clubes se chegaram à frente com um novo modelo de competição para substituir a Liga dos Campeões: seriam 20 participantes, 15 deles com lugar garantido todas as épocas, sendo os outros cinco convidados rotativos. Haveria uma divisão única e a sua participação não estaria indexada ao mérito desportivo.
Na altura, 12 clubes associaram-se a esta proposta: três espanhóis (Real Madrid, Atlético Madrid e Barcelona), três italianos (AC Milan, Inter Milão e Juventus) e seis ingleses (Manchester United, Manchester City, Arsenal, Chelsea, Liverpool e Tottenham). Com a excepção de Real Madrid, Juventus e Barcelona, e depois de uma enorme contestação popular, todos os clubes acabariam por renunciar a esta Superliga europeia.
"É tempo de mudança"
Agora, a A22 voltou à carga com este novo plano para esvaziar o actual modelo de competições europeias definido pela UEFA, depois de ter conversado com mais de 50 clubes europeus, segundo escreveu no Die Welt Bern Reichart, director executivo da agência que está a promover esta nova versão da Superliga.
“Em Outubro, iniciámos um diálogo aberto com cerca de 50 clubes europeus e outros agentes do futebol. A grande maioria concorda que as fundações do futebol europeu estão em risco de colapsar. É tempo de mudança”, escreve o alemão num artigo de opinião.
Nesse artigo, Reichart enumera dez princípios desta Superliga reformulada. Para além de garantir que será uma competição aberta a um mínimo de 60 equipas e um máximo de 80, em várias divisões, refere que esta competição deve distribuir as suas receitas por toda a pirâmide e que a entrada no torneio será feita tendo em conta a performance nas competições nacionais.
Outra das ideias de Reichart é garantir receitas a todos os clubes participantes com um número garantido de jogos – todos jogarão um mínimo de 14 jogos por época, sendo que “não devem exceder o número de dias disponíveis no calendário actual de competições”. Actualmente, todas as equipas que estão na fase de grupos têm garantidos seis jogos, sendo que quem chega à final joga 13.
Com o objectivo de tornar esta nova competição o “melhor campeonato de futebol do mundo”, Reichart fala da necessidade de serem os clubes a organizar as suas próprias competições, e não a UEFA, e que deve funcionar de acordo com um modelo sustentável “apenas com os fundos gerados pelo futebol” e “não com injecções de capital que distorcem a competição”.
Não há qualquer referência sobre datas ou valores – o anterior projecto estaria pronto para arrancar em Agosto de 2021 e sabia-se que cada um dos clubes fundadores iria repartir entre si um bolo de 3,5 mil milhões de euros antes de se darem os primeiros pontapés na nova competição.
Ligas europeias surpreendidas
A Associação das Ligas Europeias de futebol manifestou-se, entretanto, “surpreendida” com o regresso do projecto da Superliga, num novo modelo, que, segundo os seus promotores, estará em “processo de consulta”.
“As Ligas Europeias – órgão que representa oficialmente os interesses de 40 organizadores de competições nacionais provenientes de 34 países da Europa e 1092 clubes – nunca se reuniram com a A22 [Sports Management, promotora da Superliga], nem foram consultadas”, refere o organismo.
A Associação das Ligas Europeias acrescentou ainda que reitera o seu “total apoio” ao actual modelo europeu de futebol de clubes, “baseado numa estrutura piramidal aberta, com promoções e despromoções”, e na qual “a qualificação para as provas da UEFA é baseada no desempenho anual nas competições domésticas”.
“Este modelo está longe de estar quebrado e não precisa de ser consertado”, afirma o organismo num comunicado publicado no seu sítio na Internet.