Dúvida: podem existir ondas de calor no Inverno?

As ondas de calor podem ocorrer em qualquer altura do ano, mas tendem a ser mais perigosas (e frequentes) nos meses de Verão.

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Em 2022 registaram-se seis ondas de calor: uma em Maio, quatro no Verão e uma no Outono Nuno Alexandre

A expressão “onda de calor” é muitas vezes usada para designar um conjunto de dias com temperaturas altas, mas trata-se de um termo técnico que só é aplicado pelos meteorologistas e climatologistas em determinadas ocasiões. Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), o termo “onda de calor” só deve ser usado quando a temperatura máxima diária é superior em cinco graus Celsius ao valor médio diário num período de referência durante um intervalo de pelo menos seis dias consecutivos.

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) explica que as ondas de calor podem ocorrer em qualquer altura do ano, incluindo no Inverno, mas “são mais notórias e sentidas pelos seus impactos quando ocorrem nos meses de Verão”: em Junho, Julho e Agosto. Segundo os registos do IPMA, Junho é o mês de Verão em que se registam mais ondas de calor em Portugal continental.

Ainda assim, segundo explica o mesmo instituto, esta definição é mais usada em estudos e para se perceberem tendências, e não está “propriamente relacionada com os impactos na saúde pública de temperaturas extremas que possam observar-se num período mais curto”. E dão o exemplo: a ocorrência de três dias com temperaturas 10ºC acima da média “terá certamente mais impacto na saúde do que sete dias com temperaturas 5ºC acima da média”.

Se se registarem quatro dias de temperaturas muito elevadas e muito acima do que é normal para a época, tal não é tecnicamente designado uma onda de calor. Por outro lado, podem existir ondas de calor no Inverno mesmo que as temperaturas não sejam tão elevadas como seriam noutras alturas do ano.

O Inverno do ano passado (entre 2021 e 2022) foi dos mais quentes desde que há registo e foi uma estação “muito quente e muito seca”, de acordo com o boletim sazonal do IPMA. Nesse Inverno, houve mesmo uma onda de calor na região norte e centro que teve uma duração de seis a nove dias (entre 26 de Dezembro e 3 de Janeiro). O maior valor da temperatura máxima desse Inverno foi de 26,4ºC em Zambujeira, no dia 31 de Dezembro de 2021.

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Média da temperatura máxima do ar de Janeiro a Dezembro de 2022 IPMA

Apesar de Dezembro de 2022 ter sido o mais quente desde que há registos, não foi registada nenhuma onda de calor nesse mês.

Ondas de calor mais frequentes

Há cada vez mais ondas de calor, e sabe-se que a sua frequência e intensidade estão a aumentar por causa das alterações climáticas. O IPMA refere que existem dados desde a década de 1940, quando passou a haver informação meteorológica diária num maior número de estações, e que foi a partir da década de 1990 que se passou a registar uma “maior frequência” deste fenómeno.

Há algumas ondas de calor que foram mais marcantes pela sua intensidade e duração, como duas ondas de calor que se registaram em 2005 (de 30 de Maio a 11 de Junho e depois de 15 a 23 de Julho) e a de Julho e Agosto de 2003 (29 de Julho a 15 de Agosto). A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que tenham morrido mais de 70 mil pessoas na Europa por causa da onda de calor de 2003.

Mesmo em vagas com duração mais curta (mas temperaturas mais elevadas), que não são tecnicamente consideradas “ondas de calor”, os efeitos na saúde podem ser graves. A exposição a temperaturas elevadas durante vários dias consecutivos tem vários riscos associados para a saúde, como a desidratação ou golpes de calor, podendo agravar doenças crónicas.