“O segundo abalo fez cair um prédio de 17 andares pertinho e aí tornou-se tudo muito mais assustador”

Professoras e seis alunos da Póvoa de Varzim estavam em Adana quando a terra tremeu. Hotel onde grupo estava alojado não foi afectado e acabou por se tornar um ponto de abrigo para desalojados.

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Imagens aéreas da cidade de Kahramanmaras, junto ao epicentro do sismo de segunda-feira EPA/ABIR SULTAN

Ainda não tinham passado 24 horas desde a chegada à Turquia, quando a professora Clementina Ferreira e um grupo de alunos da Póvoa de Varzim foram surpreendidos pelo sismo que atingiu o país e a vizinha Síria, um dos mais fortes dos últimos cem anos na região. O grupo português estava em Adana, a menos de 200 quilómetros de Kahramanmaras, onde foi registado o epicentro do sismo.

"Sentimos os dois abalos, não havia como não sentir, foi de uma intensidade muito forte. Durante o primeiro estávamos a dormir, não sabíamos bem o que estava a acontecer. No segundo estávamos já relaxados, a pensar que tudo tinha acabado. Quando a terra tremeu uma segunda vez ficámos realmente assustados", diz ao PÚBLICO.

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Grupo de portugueses que estava na Turquia na altura do sismo DR

Clementina Ferreira viajou para a Turquia juntamente com outra professora e seis alunos da Escola Secundária Rocha Peixoto, todos entre os 16 e os 18 anos, ao abrigo do programa Erasmus+, para uma semana de actividades relacionadas com a integração no mercado de trabalho.

Durante as horas que se seguiram ao terramoto, a professora conseguiu entrar em contacto com algumas colegas turcas que descreveram um cenário de destruição. "Uma das colegas dizia-me que a família directa estava bem, mas sabia que tinha primos, sobrinhos nos escombros. Outras tiveram de dormir nos respectivos carros no parque da escola porque as autoridades não estão a deixar as pessoas entrar em casa com receio de novos desabamentos".

Pouco depois do segundo abalo, um prédio de 17 andares muito perto do hotel onde estava alojado o grupo de portugueses desabou por completo. Nessa altura, a professora percebeu que era altura de tentar regressar a Portugal o mais rapidamente possível, processo que não se revelou simples.

"Foi muito difícil contactar o Ministério dos Negócios Estrangeiros e a embaixada. Quando conseguimos, disseram-nos que havia a possibilidade de apanharmos um voo que ia para a Roménia, mas não chegámos a receber informação nenhuma. Depois, disseram-me da embaixada que iam procurar voos para sair da Turquia na sexta-feira, a data da nossa partida original. Nós não queríamos sair passados quatro dias, queríamos era sair dali o mais rápido possível. Acabou por ser a escola a tratar da viagem de autocarro e depois dos voos".

O hotel onde o grupo estava alojado não foi afectado pelos abalos e acabou por se tornar um ponto de abrigo para as pessoas de zonas próximas que ficaram desalojadas. Na noite seguinte, Clementina só pensava em regressar a casa, mas todos, professores e alunos, conseguiram manter a calma e tranquilizar os encarregados de educação e familiares que os esperavam em Portugal. "Na noite a seguir ao terramoto só consegui adormecer depois das 5h da manhã. Estava com medo que algo acontecesse à mesma hora da véspera".

Seguiu-se uma viagem de cinco horas de autocarro entre Adana e Ancara, para depois apanharem um primeiro voo até Istambul e um segundo voo, que chegou esta quarta-feira ao Porto. "Sempre estivemos bem, mas agora, longe do perigo, estamos mais tranquilos", assegura a professora.

O balanço do sismo de segunda-feira na Turquia, que também afectou em grande escala a Síria, ultrapassou os 12 mil mortos, de acordo com os números oficiais divulgados esta quarta-feira.

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