Será que o meu sucesso é sorte? Como vencer a síndrome do impostor
Sentir-se “uma fraude” na iminência de ser descoberta ou não ser capaz de lidar com elogios: é assim a síndrome do impostor, que nos impede de ficarmos satisfeitos com o nosso trabalho. O que fazer?
Apresentar um trabalho que nunca corresponde à expectativa que criamos para ele, sentir que não merecemos elogios — ou que eles nos pressionam — e, acima de tudo, sentir que somos uma fraude que, a qualquer momento, vai ser descoberta. É a síndrome do impostor. A psicóloga Tânia Gaspar ajuda a encontrar estratégias para lidar com ela. Mas é preciso começar a ter em mente: se corre bem, a culpa é... das nossas capacidades.
O que é a síndrome do impostor?
Está relacionada com “a avaliação que cada um faz de si e do seu desempenho”. Normalmente, de cada vez que “a pessoa tem um bom desempenho, acaba por atribuir as responsabilidades do sucesso a factores externos” e não consegue aceitar que o sucesso tem que ver “com a sua qualidade e desempenho”. “Acha que é uma fraude e que vai ser descoberta”, refere a psicóloga.
Há “falta de confiança na consistência”. O pensamento é mais ou menos assim: se fiz bem, não foi porque me esforcei ou porque tenho qualidade, mas por sorte ou outro motivo externo. E, da próxima vez, não vou ter a mesma sorte.
Há sintomas?
São sintomas relacionados com o pensamento. Há um medo recorrente de “ser descoberto” como fraude. Também é comum estabelecer comparações e ter a crença de que “os outros são mais inteligentes e mais capazes” do que nós. “A pessoa tem também uma imagem muito idealizada daquilo que é suposto atingir numa situação e acaba por nunca ficar satisfeita” com o resultado final.
Mais ainda, pessoas com síndrome do impostor tendem a escudar-se de receber elogios — precisamente por acreditarem que o sucesso “foi um erro” e que não foi responsabilidade sua. “O mais comum será evitar situações de elogio.” Podem existir também sintomas de ansiedade.
Porque nos sentimos assim?
Não é possível, como é habitual na psicologia, atribuir uma culpa. Mas há factores que podem contribuir. As pessoas com esta síndrome têm “uma ideia depreciativa de si”, que pode ter nascido durante a infância, principalmente se tiverem sido criadas num contexto de “excesso de exigência”. Um cenário comum: alguém que chega da escola e conta que teve “Bom” num teste. “Então porque não tiveste ‘Muito bom’? A tua colega teve”, respondem os pais.
“Os pais não fazem isto por mal, mas quando, sistematicamente, a pessoa sentiu que estava aquém do que esperavam dela, ou isso estava implícito na cultura familiar, a pessoa vai achar que é insuficiente, que não vai conseguir fazer”, afiança Tânia Gaspar. Pesa também a ansiedade, que varia de pessoa para pessoa, e a dependência de validação.
Como ultrapassar?
Depende do nível de sintomas. É preciso avaliar “a intensidade e frequência” e até que ponto é algo que “interfere com o dia a dia ou com o potencial” da pessoa.
O primeiro passo é “ganhar consciência”. A partir daí, importa “separar a emoção da realidade”. É necessário haver uma “reestruturação cognitiva”: pensar que não é a realidade que vai ser alterada, mas antes a percepção que tenho da realidade. Ou seja, pensar que o trabalho que apresentei e foi elogiado estava, de facto, bom — e talvez a expectativa que eu tinha em relação a ele fosse irrealista. “Fiz isto bem graças às minhas capacidades” é a mensagem a assimilar (e repetir).
É, por isso, útil ajustar expectativas; rever a proximidade entre “o que somos e o que queremos ser”. Se houver uma grande distância entre ambos, “vamos estar sempre frustrados”. Por fim, “recorrer ao apoio social, às pessoas em quem se confia”. E, claro, aceitar a falha — que faz parte de qualquer processo.
Devo falar com o meu chefe, professor ou superior sobre a minha prestação?
Depende — do chefe, professor ou superior, e da fase em que estamos. “Há chefes que são construtivos, conseguem perceber o valor da pessoa e acham que o desenvolvimento e confiança são importantes.” Outros são parecidos com o pai ou a mãe que não aceitava o “Bom”.
A psicóloga realça que, sendo um dos sintomas desta síndrome a dificuldade em lidar com elogios, essa abordagem pode ser prejudicial. “Se a pessoa for elogiada, pode pensar: ‘A expectativa é tão grande que agora, com certeza, não vou conseguir corresponder.’ Há coisas que se forem feitas fora do tempo ainda podem piorar.” Se houver acompanhamento de um terapeuta, pode ser mais fácil entender qual a fase em que nos encontramos e quais os passos a dar.
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