Caldas quer Hospital do Oeste, mas só tem Óbidos e Rio Maior como aliados
Vítor Marques, presidente do executivo caldense, diz que o processo de decisão está instrumentalizado pelo PS e pede um novo estudo feito por técnicos independentes.
Caldas da Rainha quer que o futuro Hospital do Oeste seja construído no seu concelho, num terreno de 75.000 m², na extrema com o concelho de Óbidos, entre a Estrada Nacional 114 e a linha férrea do Oeste. Vítor Marques, presidente da autarquia, alega que Caldas da Rainha tem uma tradição de cinco séculos na área da saúde, graças ao hospital fundado em 1485 por D. Leonor — considerado o hospital termal mais antigo do mundo — e que ainda hoje está em funcionamento.
A cidade tem também um hospital há 130 anos e que é hoje uma das três unidades do Centro Hospital do Oeste (CHO), que inclui ainda hospitais em Peniche e Torres Vedras. O hospital caldense é o maior empregador do concelho e atrai diariamente centenas de pessoas, o que explica a sua importância na economia local.
Por isso, todos os partidos representados na Assembleia Municipal das Caldas da Rainha defendem que o futuro hospital deve ser construído no concelho, o que levou o presidente da câmara a convocar nesta segunda-feira uma conferência de imprensa ao lado dos seus homólogos de Óbidos e Rio Maior, respectivamente, Filipe Daniel e Filipe Santana Dias (ambos do PSD).
Vítor Marques, que foi eleito por um movimento independente, diz que o processo decisório sobre a localização do hospital está contaminado por demasiadas pessoas ligadas ao PS e contesta o estudo da Nova, que classifica como “inconclusivo”. Este estudo aponta para a construção do hospital no Bombarral, um município liderado por um socialista. O próprio estudo, encomendado pela Oeste/CIM, de maioria PS, “tem como principal consultor o ex-ministro da Saúde do primeiro governo de António Costa, Adalberto Campos Fernandes, que antecedeu Marta Temido”, diz Vítor Marques. Acresce que “a decisão sobre a localização deverá ser tomada em Março por um grupo de trabalho liderado por mais um responsável político do PS, desta vez, a também ex-ministra da Saúde socialista Ana Jorge, da qual, aliás, Manuel Pizarro foi secretário de Estado Adjunto no Governo de José Sócrates”.
É isto que leva os autarcas das Caldas, Óbidos e Rio Maior a propor um novo estudo “à prova de bala”, liderado por “um grupo de trabalho composto por técnicos incontestados e independentes, sem o envolvimento de antigos ou presentes responsáveis políticos ligados ao PS”.
O autarca caldense evidencia que a apresentação do estudo da Nova foi feita em Torres Vedras, “mais uma vez um município do PS, contando com a presença ostensiva de Manuel Pizarro, e não em Caldas da Rainha, onde está situada a sede da Comunidade Intermunicipal do Oeste, entidade que o encomendou”. E pergunta: “Não é isto também um sinal claro de que há uma preferência já definida pelo ministro?”
A principal crítica ao “estudo inconclusivo e incompleto” da Universidade Nova de Lisboa é que só teve em conta dois requisitos para a escolha da localização (o tempo e a distância), para além de incluir Mafra como estando na zona de influência do CHO, quando, na verdade, a população daquele concelho recorre ao Beatriz Ângelo, de Loures.
Em contrapartida, Vítor Marques quer puxar Rio Maior, actualmente na esfera do hospital de Santarém, para a sua causa, integrando este concelho ou parte das suas freguesias no CHO. Se assim for — retirando Mafra e entrando Rio Maior —, a centralidade do novo hospital é também empurrada um pouco mais para norte do Bombarral.
Mas Nazaré e Alcobaça, no extremo norte da região Oeste, não parecem alinhar com Caldas da Rainha. Questionado pelo PÚBLICO sobre a ausência dos presidentes destes municípios, que aparentemente teriam mais a ganhar com o hospital nas Caldas em vez do Bombarral, Vítor Marques disse: “Sei qual é a resposta, mas têm de ser eles a dar.”
Em declarações ao PÚBLICO, Vítor Marques disse que a proximidade à via férrea da localização proposta por Caldas da Rainha é uma das suas mais-valias e levantou dúvidas sobre os três terrenos a que o estudo da Nova deu prioridade: “O da Quinta do Falcão [Bombarral] tem uma orografia complexa e muitas linhas de água; o da Quinta da Granja [Bombarral] é atravessada pela linha férrea e pela A8; e o dos Campelos [Torres Vedras] fica a dois quilómetros de um aterro sanitário”.