Michel Temer elogia regime português que garante “tranquilidade” sem “impeachments

Ex-Presidente da República brasileiro gostaria que o seu país tivesse um regime semipresidencialista como o português, onde os governos são substituídos sem “trauma”.

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Há anos que Michel Temer defende que o Brasil devia ter um regime semipresidencialista como Portugal Reuters/RODRIGO ANTUNES

O ex-presidente brasileiro Michel Temer defendeu esta sexta-feira em Lisboa uma mudança do sistema político brasileiro para o regime semipresidencialista português, elogiando o exemplo de Portugal que interrompe mandatos e governos sem necessidades de processos de "impeachment".

Michel Temer, que chegou ao poder através do processo de "impeachment" de Dilma Roussef (processo judicial contra o chefe de Estado que o impede de manter o cargo) considerou hoje, numa conferência organizada pelo Lide Brasil, que Brasília deve olhar para Lisboa como um exemplo de sistema político, insistindo numa ideia que vem defendendo há anos.

Em Portugal, "quando precisar de mudar o Governo, o Governo cai porque perde a maioria parlamentar e outra maioria parlamentar se forma e instala um novo Governo. E não há nenhum trauma, como ocorreu no Brasil, pelo chamado impedimento", afirmou Temer, considerando que o "impeachment" "virou moda no Brasil. A todo o momento é um impedimento".

E esse foi o seu caso, admitiu. "Cheguei constitucionalmente ao poder num sistema patrocinado pelo legislativo e coordenado pelo supremo tribunal federal. É sempre um trauma institucional", reconheceu Temer, na abertura do encontro. "Quem sabe nós saiamos daí com a ideia que possamos aprimorar o sistema de Governo, implantando o sistema semipresidencialista e se calhar possamos voltar a falar de flores", disse, num discurso em que evocou o 25 de Abril, a Revolução dos Cravos.

O 25 de Abril permitiu que Portugal "se desenvolvesse extraordinariamente" e, hoje, o Brasil precisa da sua "revolução das rosas ou dos lírios para trocarmos flores e deixarmos os espinhos para trás", reconheceu Temer, apelando a uma pacificação do discurso político. "Ao longo do tempo temos tido uma divulgação de muitos espinhos, não podemos esquecê-los, mas devemos olhar para a frente e distribuir rosas ou lírios", acrescentou, elogiando a tranquilidade do regime em Portugal.

O "semipresidencialismo que se adopta em Portugal é um sintoma de tranquilidade" e os chefes de Estado e de Governo portugueses, de partidos diferentes, "trocam flores e conduzem Portugal com muita sabedoria", disse, considerando que é isso que o Brasil precisa.

"Nós deveríamos caminhar para uma reforma do sistema de Governo", disse, admitindo que o modelo brasileiro tem problemas estruturais. "Fala-se na extinção dos partidos políticos e pelo contrário há um acréscimo das chamadas siglas partidárias".

Na sua intervenção, Temer destacou a importância de Portugal para o Brasil.

"Não é demais repetir que Portugal é a nossa pátria mãe, fomos descobertos por Portugal, mantivemos a nossa unidade territorial graças à presença de D. João VI que manteve a unidade nacional", ao contrário do que sucedeu no resto da América Latina.

Hoje em dia, Portugal e o Brasil têm uma forte relação comercial, que "vem crescendo ano após ano", disse Temer. E "quando se começa a consolidar uma tendência de acordo Mercosul com a União Europeia, sem dúvida que Portugal pode ser porta de entrada dos produtos do Mercosul, em partícula do Brasil", concluiu.