Meteorologia ou espionagem? O caso do balão chinês em seis respostas
Pequim admitiu, esta sexta-feira, posse do aparelho, mas garante que entrada no espaço aéreo dos Estados Unidos foi um erro.
O que aconteceu?
Os Estados Unidos detectaram a presença de um balão de espionagem chinês no seu espaço aéreo. O aparelho percorreu uma longa distância nos últimos dias e sobrevoou zonas de armazenamento de mísseis, fulcrais para o funcionamento da rede de mísseis balísticos intercontinentais. Foi detectado nos céus limpos do Montana, após ter sobrevoado a costa Oeste do Canadá e as ilhas Aleutas, no Alasca.
Que balão é este?
Criados para o mapeamento de áreas vastas, estes balões de espionagem costumam transportar câmaras penduradas e são empurrados pelo vento. Estes aparelhos podem ainda ser equipados com painéis solares e radares.
Os primeiros balões de reconhecimento foram usados em finais do século XVIII, durante as guerras revolucionárias francesas. Naturalmente tripulados – dada a ausência de tecnologia de captação de imagens – permitiam aos exércitos perceber a organização do inimigo. As conclusões eram comunicadas através de sinais ou em manuscritos atirados a partir do balão.
Seriam novamente uma estratégia importante nos Estados Unidos, durante a guerra civil da década de 1860.
O tráfego aéreo foi afectado nas zonas sobrevoadas?
Não. Uma das características destes balões é a altitude elevada a que permanecem, entre os 24 mil e os 37 mil metros. Muito acima dos dez a 12 quilómetros de altitude de um avião comercial. Não foi, portanto, um risco para o normal funcionamento do tráfego aéreo norte-americano.
Qual a vantagem de um balão?
Apesar de não ser tão avançado quanto um satélite, há algumas vantagens na utilização destes balões para efeitos de espionagem. A principal passa pelo custo: lançar um satélite requer um investimento de peso, na casa das centenas de milhões de euros.
Com o avanço na espionagem feita por satélites nas últimas décadas, verificou-se também o desenvolvimento de tecnologia desenhada para contrariar as potencialidades destes aparelhos. Estados Unidos, Índia, Rússia e China têm armas capazes de destruir satélites inimigos, chamadas ASAT.
Depois de descoberto, o balão foi abatido?
Não. A decisão de não abater este aparelho foi tomada pelo Presidente norte-americano, Joe Biden, após aconselhamento com líderes militares. A avaliação feita pelos responsáveis ditou que o aparelho não compromete a segurança da população nem do tráfego aéreo. Existe ainda o entendimento de que o balão não está actualmente a recolher informação sensível para a segurança nacional dos Estados Unidos.
O que disse a China?
Depois do silêncio inicial, o Governo chinês admitiu, esta sexta-feira, que um balão de grande altitude detectado nos últimos dias no espaço aéreo dos Estados Unidos é seu. Contudo, Pequim garante que o balão — que diz ser "de uso civil, principalmente para investigação meteorológica" — se desviou do curso previsto " devido aos ventos do Oeste".
"A aeronave é da China", disse a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Mao Ning, num comunicado publicado ao início da tarde desta sexta-feira. "A China lamenta a entrada involuntária da aeronave em espaço aéreo dos Estados Unidos por motivos de força maior. Continuaremos a comunicar com os EUA para gerirmos da melhor maneira esta situação inesperada." com Alexandre Martins