Governo grego tenta impedir partido neonazi de concorrer a eleições
Proposta legislativa quer evitar que membros de organizações criminosas possam conseguir representação parlamentar. Mas há mais critérios.
O Governo grego, do conservador Kyriakos Mitsotakis, apresentou, esta sexta-feira, ao Parlamento legislação para impedir que partidos cuja liderança ou cujos membros tenham sido condenados por crimes violentos ou que não sejam democráticos possam participar em eleições – uma medida que visa impedir o actual partido do antigo porta-voz do partido neonazi Aurora Dourada, Ilias Kasidiaris, de concorrer às legislativas que deverão decorrer em Abril.
A proposta refere que não devem poder concorrer partidos que sejam liderados ou tenham membros condenados por fazer parte de organizações criminosas, e ainda que não “sirvam o funcionamento livre da Constituição democrática” da Grécia – tema comum a outra proposta apresentada pelo Syriza, de Alexis Tsipras, o principal partido da oposição (cuja proposta acrescenta mais um motivo para exclusão, a utilização de discurso de ódio ou nazi).
A proposta do Governo será votada na terça-feira no Parlamento, onde terá provavelmente os votos favoráveis da oposição – excepto do Partido Comunista (KKE), que acha que os critérios são demasiado vagos e podem ser usados para aproveitamento político. Um argumento também usado pelo professor de Direito na Universidade de Atenas Nikos Alivizatos, num artigo no diário Kathimerini. Para Alivizatos, bastaria impedir que concorressem partidos dirigidos ou que integrassem nas listas de candidatos pessoas condenadas por pertença a organização criminosa.
“As democracias têm a obrigação moral de se defenderem dos seus inimigos”, disse Kyriakos Mitsotakis, citado pela Associated Press, acrescentando que não deve haver financiamento para organizações que tentem abertamente destruir a democracia.
A medida afectaria o novo partido de Ilias Kasidiaris, chamado “Gregos pela Pátria”, que o antigo porta-voz da Aurora Dourada fundou há dois anos a partir da prisão.
Kasidiaris foi uma das principais figuras da Aurora Dourada e ficou conhecido por ter, num debate ao vivo em 2012, agredido uma deputada do Partido Comunista Grego (KKE), Liana Kanelli, que se levantou em protesto por Kasidiaris ter atirado um copo de água para cima de uma política do Syriza, Rena Dourou, num debate eleitoral.
Com a Aurora Dourada, a Grécia foi palco de uma fulgurante ascensão, e queda, de um partido neonazi, cujo sucesso esteve intimamente ligado à crise económica. Entre 2012 e 2019, em quatro eleições legislativas, a Aurora Dourada foi um dos partidos mais extremistas e violentos de maior sucesso na Europa, contribuindo para o aumento da violência contra refugiados e estrangeiros na Grécia.
Acabou derrotada em tribunal, em 2020, com os seus dirigentes e deputados condenados por pertencerem a uma organização criminosa (Kasidiaris foi um dos condenados a 13 anos de prisão, tal como o líder Nikos Michaloliakos, conhecido como o “pequeno Führer”). Os membros da Aurora Dourada planeavam e levavam a cabo ataques violentos contra refugiados, migrantes e activistas de esquerda, como o que matou o rapper de esquerda Pavlos Fyssas. A condenação foi o estertor final do partido, depois de, nas eleições legislativas do ano anterior, não ter conseguido eleger deputados.
No entanto, Kasidiaris não desiste da vida política e o seu partido teria, segundo as sondagens, mais de 3% nas legislativas, resultados que repetidos nas urnas lhe garantiriam representação parlamentar.
Outro partido extremista e anti-imigração, chamado “Solução Grega”, que entrou no Parlamento em 2019, quando a Aurora Dourada ficou de fora, aparece com 4% nas sondagens – que dão em primeiro lugar, com 37%, o partido conservador Nova Democracia, do primeiro-ministro, Kyriakos Mitsotakis, seguido do Syriza (esquerda), com 29% das intenções de voto, dos socialistas do Pasok, com 12%, dos comunistas do KKE, com 6%, e do partido Mera 25, do antigo ministro das Finanças Yanis Varoufakis, com 3%, segundo a agregação de sondagens do site Politico Europe.
Apesar de continuar à frente, o partido de Mitsotakis tem vindo a ver a sua margem diminuir por causa do actual escândalo de escutas no já chamado “Watergate grego” – na semana passada foi registada pela empresa de sondagens MRB a menor diferença entre a Nova Democracia e o Syriza desde a eleição, com 5,9 pontos percentuais, refere o diário britânico The Guardian.