Movimento quer que futuro de Coimbra B seja discutido com a cidade
Cidadãos por Coimbra receia que plano de pormenor seja apresentado como facto consumado. Câmara Municipal de Coimbra garante que vai abrir espaço ao debate.
A zona de Coimbra B deverá sofrer uma alteração radical nos próximos anos. A chegada da alta velocidade à estação ferroviária é, ao mesmo tempo, uma oportunidade e um pretexto para modernizar uma paragem da Linha do Norte que hoje não tem condições. Para este trabalho de concepção, a Câmara Municipal de Coimbra foi recuperar o arquitecto Joan Busquets, que já tinha desenhado um plano de urbanização para aquela zona da cidade, quando a alta velocidade esteve em cima da mesa, pela primeira vez, na década passada.
Mas o plano para a zona de Coimbra B, defende o movimento Cidadão por Coimbra (CpC), deve ser participado e envolver vários agentes da cidade. “Queremos que se crie a oportunidade para que nós e outros possamos apresentar propostas”, explicou o coordenador do CpC, Jorge Gouveia Monteiro, ao PÚBLICO, à margem de uma conferência de imprensa que o movimento organizou no bar Liquidâmbar, em Coimbra, nesta terça-feira.
Acresce que uma discussão que inclua a cidade, argumenta Gouveia Monteiro, ajuda a prevenir ondas de contestação como a que surgiu na década passada, quando um desvio do IC2, que ainda passa num viaduto sobre a Casa do Sal, prometia cortar parte da Mata Nacional do Choupal. Na altura, surgiram movimentos organizados para evitar a perda de parte daquela mancha verde à entrada da cidade.
A protecção do Choupal é um dos “princípios fundamentais” das propostas do CpC. “Estamos num momento diferente de há 10 anos”, refere Gouveio Monteiro, para explicar que é para a sensibilidade ambiental e para as questões da mobilidade que está mais afinada.
De resto, as preocupações do movimento que não tem qualquer vereador no executivo camarário mas que tem representação na Assembleia Municipal, coincidem em alguns pontos com a base desenhada por Joan Busquets, como a reconversão da Avenida Fernão de Magalhães e da rua do Padrão à escala humana ou a “profunda redução” do fluxo do automóvel na zona da Casa do Sal. “O automóvel está ali a mais. Tem uma carga brutal”, considera.
Mas o movimento diverge noutros pontos, como na sugestão do arquitecto catalão de que se construa três edifícios de grande dimensão que marquem a paisagem. “É bom que não se cristalizem ideias. Será mais difícil de as resolver mais tarde”, comenta Gouveia Monteiro.
Discussão prevista
O gabinete de comunicação da autarquia reitera ao PÚBLICO que a vereadora com o pelouro do urbanismo, Ana Bastos, já anunciou que haverá vários momentos de discussão pública, que ainda não estão agendados.
Um dos momentos para abrir o debate poderia ser a realização de uma Assembleia Municipal extraordinária que se debruçasse sobre o Plano de Pormenor, cujo trabalho inicial foi apresentado em Janeiro, sugere o CpC, que diz ter já contactado o presidente daquele órgão para o efeito. Além das várias forças partidárias, esse momento poderia incluir os técnicos da câmara que estão a trabalhar no plano, arquitectos que tenham estudado aquela zona e o próprio Joan Busquets, propõe o coordenador do movimento.
“Estamos em contacto com outras forças políticas para que haja uma maior participação nesta fase”, afirma Gouveia Monteiro, que considera que a janela formal que a lei destina à participação pública é meramente “burocrática”.
O coordenador recorda que Coimbra já perdeu a oportunidade de fazer um debate sobre o que aconteceria à frente ribeirinha, uma zona que também sofrerá uma grande transformação por conta da implementação do sistema de metrobus e da retirada da ferrovia entre a Baixa e o rio Mondego. Aí, “estão a consolidar-se compromissos”, diz. O objectivo do CpC é que o mesmo não aconteça na envolvente de Coimbra B. Quanto ao edifício da estação, Joan Busquets propõe que este forme uma ponte sobre as várias linhas ferroviárias que por ali passam.