Uma vitória de Novak Djokovic como nenhuma outra

O 22.º título do Grand Slam e 10.º no Open da Austrália foram emocionalmente exigentes para o tenista sérvio: “Vivi o melhor e o pior” .

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Djokovic venceu Tsitsipas em três sets EPA/LUKAS COCH

Como o próprio Stefanos Tsitsipas reconheceu na entrega de prémios, comentando o feito de Novak Djokovic no Open da Austrália, “os números falam por si”: 22.º título do Grand Slam (igualando o líder Rafael Nadal) e 10.º após completar 30 anos; 10.º no Open da Austrália (elevando o seu próprio recorde); regresso ao primeiro lugar do ranking, que vai ocupar pela 347.ª semana. O que nunca se tinha visto foi a descarga de emoção de Djokovic quando se juntou à sua equipa.

Antes, o tenista sérvio tinha derrotado Tsitsipas, por 6-3, 7-6 (4/7) e 7-6 (7/5), e celebrado apontando para a cabeça e coração. Depois, trepou a bancada para comemorar com a família e amigos. Abraçado à mãe e irmão (o pai voltou a estar ausente), Djokovic começou a chorar descontroladamente, deixando-se cair de costas, sem forças. Foi o culminar de várias semanas muito intensas para o tenista de 35 anos.

Djokovic confessou que chegou nervoso à Austrália, por não saber qual seria a reacção dos adeptos, um ano depois de lhe ter sido barrada a entrada no país por não estar vacinado contra a covid-19. E a lesão na coxa esquerda, contraída em vésperas de iniciar o Open, também foi outro motivo de preocupação, em especial durante a primeira semana do torneio, até ter recuperado totalmente.

“Acho que vivi o melhor e o pior nas duas últimas semanas em termos de emoções. Certamente uma das top 2 ou top 3 mais importantes vitórias da minha vida, tudo o que estava em jogo, voltar à Austrália depois do que se passou no ano passado, coisas que se passaram fora do court colocaram muita pressão e exigiram imensa energia mental e agora libertei tudo, sinto-me como um balão sem ar”, explicou Djokovic, já depois de receber a Norman Brooks Challenge Cup das mãos do antigo campeão Ken Rosewall, ostentando um bem visível 22 no peito do original casaco preparado pelo patrocinador.

Na bancada, família e amigos envergavam t-shirts com o n.º10 na parte da frente. “Eles toleraram muitas coisas que eu faço e digo e estou mesmo agradecido pela sua presença e apoio e pela forma como agem. Porque, se eu estivesse na bancada e um tipo me fizesse aquilo a mim, eu provavelmente agiria de maneira diferente”, revelaria mais tarde.

Ainda com a taça na mão, Djokovic foi ao exterior da Rod Laver Arena celebrar com os milhares de fãs que assistiram à final pelo ecrã gigante. A afluência a Melbourne Park registou um novo recorde para o último domingo da prova, com 45.832 espectadores, sendo que cerca de 30 mil ficaram de fora do estádio.

Stefanos Tsitsipas não conseguiu dar a mesma alegria aos seus numerosos adeptos — Melbourne é a segunda cidade do mundo com mais gregos, atrás de Atenas —, mas confirmou os progressos a nível mental e manteve-se positivo, mesmo quando cedeu o segundo set no tie-break. No jogo inaugural da terceira partida, cumprida 1h58m, o grego logrou, finalmente, ganhar um jogo de serviço a Djokovic, só que o sérvio devolveu de imediato o break.

“No segundo set ele foi o melhor jogador, teve oportunidades, um set-point, e não as aproveitou. Lidei com os nervos em ambos os tie-breaks e sem dúvida que foi um enorme alívio no final e é difícil encontrar mais palavras”, afirmou Djokovic, que estendeu para 89 o número de vitórias no Open da Austrália — só Roger Federer conseguiu igual marca no US Open —, das quais 41 consecutivas.

Goran Ivanisevic, antigo campeão de Wimbledon e treinador do sérvio, ficou mesmo impressionado com a confiança com que Djokovic bateu a pancada de direita. “Nunca o vi bater melhores direitas”, afirmou o croata. As estatísticas confirmam: Djokovic somou 14 winners de direita (de um total de 36) e somente três erros não forçados (22 no total). Outros números que explicam o sucesso do sérvio são os 82% de pontos ganhos com o primeiro serviço.

“Ainda tenho imensa motivação e vamos ver onde isso me leva. Sei que quando me sinto bem fisicamente, mentalmente presente, tenho uma hipótese de ganhar qualquer ‘Slam’”, afirmou Djokovic, cuja subida do quinto para o primeiro lugar é o maior salto para a liderança na história do ranking ATP, criado em 1973. “Acarinho e celebro estes momentos de voltar a ser número um ainda mais do que alguma vez na minha carreira”.

Na segunda final do Grand Slam que disputou, Tsitsipas ganhou 15 jogos, o máximo que qualquer adversário conseguiu “roubar” a Djokovic nesta edição do Open, e está optimista quanto ao futuro. “Não penso que haja razão para ficar afectado pela derrota. É um passo em frente. Estou ansioso por somar mais pontos durante a época, fazer melhores resultados e lutar pelos maiores troféus”, adiantou o grego de 24 anos. Entre os seus objectivos está igualmente o primeiro lugar do ranking. “Não será fácil, vou ter que trabalhar muito para que isso aconteça. Nasci campeão, sinto-o no meu sangue”, frisou Tsitsipas.

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