Uma vitória de Novak Djokovic como nenhuma outra
O 22.º título do Grand Slam e 10.º no Open da Austrália foram emocionalmente exigentes para o tenista sérvio: “Vivi o melhor e o pior” .
Como o próprio Stefanos Tsitsipas reconheceu na entrega de prémios, comentando o feito de Novak Djokovic no Open da Austrália, “os números falam por si”: 22.º título do Grand Slam (igualando o líder Rafael Nadal) e 10.º após completar 30 anos; 10.º no Open da Austrália (elevando o seu próprio recorde); regresso ao primeiro lugar do ranking, que vai ocupar pela 347.ª semana. O que nunca se tinha visto foi a descarga de emoção de Djokovic quando se juntou à sua equipa.
Antes, o tenista sérvio tinha derrotado Tsitsipas, por 6-3, 7-6 (4/7) e 7-6 (7/5), e celebrado apontando para a cabeça e coração. Depois, trepou a bancada para comemorar com a família e amigos. Abraçado à mãe e irmão (o pai voltou a estar ausente), Djokovic começou a chorar descontroladamente, deixando-se cair de costas, sem forças. Foi o culminar de várias semanas muito intensas para o tenista de 35 anos.
Djokovic confessou que chegou nervoso à Austrália, por não saber qual seria a reacção dos adeptos, um ano depois de lhe ter sido barrada a entrada no país por não estar vacinado contra a covid-19. E a lesão na coxa esquerda, contraída em vésperas de iniciar o Open, também foi outro motivo de preocupação, em especial durante a primeira semana do torneio, até ter recuperado totalmente.
?? ?? ?? ?? ?? CHAMPION ?? ?? ?? ?? ??@DjokerNole has mastered Melbourne for a TENTH time!@wwos • @espn • @eurosport • @wowowtennis • #AusOpen • #AO2023 pic.twitter.com/ZThnTrIXdt
— #AusOpen (@AustralianOpen) January 29, 2023
“Acho que vivi o melhor e o pior nas duas últimas semanas em termos de emoções. Certamente uma das top 2 ou top 3 mais importantes vitórias da minha vida, tudo o que estava em jogo, voltar à Austrália depois do que se passou no ano passado, coisas que se passaram fora do court colocaram muita pressão e exigiram imensa energia mental e agora libertei tudo, sinto-me como um balão sem ar”, explicou Djokovic, já depois de receber a Norman Brooks Challenge Cup das mãos do antigo campeão Ken Rosewall, ostentando um bem visível 22 no peito do original casaco preparado pelo patrocinador.
Na bancada, família e amigos envergavam t-shirts com o n.º10 na parte da frente. “Eles toleraram muitas coisas que eu faço e digo e estou mesmo agradecido pela sua presença e apoio e pela forma como agem. Porque, se eu estivesse na bancada e um tipo me fizesse aquilo a mim, eu provavelmente agiria de maneira diferente”, revelaria mais tarde.
Ainda com a taça na mão, Djokovic foi ao exterior da Rod Laver Arena celebrar com os milhares de fãs que assistiram à final pelo ecrã gigante. A afluência a Melbourne Park registou um novo recorde para o último domingo da prova, com 45.832 espectadores, sendo que cerca de 30 mil ficaram de fora do estádio.
15 years after his first Grand Slam triumph, it still means so much to @DjokerNole ??#AusOpen • #AO2023 pic.twitter.com/1To4eWIJIJ
— #AusOpen (@AustralianOpen) January 29, 2023
Stefanos Tsitsipas não conseguiu dar a mesma alegria aos seus numerosos adeptos — Melbourne é a segunda cidade do mundo com mais gregos, atrás de Atenas —, mas confirmou os progressos a nível mental e manteve-se positivo, mesmo quando cedeu o segundo set no tie-break. No jogo inaugural da terceira partida, cumprida 1h58m, o grego logrou, finalmente, ganhar um jogo de serviço a Djokovic, só que o sérvio devolveu de imediato o break.
“No segundo set ele foi o melhor jogador, teve oportunidades, um set-point, e não as aproveitou. Lidei com os nervos em ambos os tie-breaks e sem dúvida que foi um enorme alívio no final e é difícil encontrar mais palavras”, afirmou Djokovic, que estendeu para 89 o número de vitórias no Open da Austrália — só Roger Federer conseguiu igual marca no US Open —, das quais 41 consecutivas.
Goran Ivanisevic, antigo campeão de Wimbledon e treinador do sérvio, ficou mesmo impressionado com a confiança com que Djokovic bateu a pancada de direita. “Nunca o vi bater melhores direitas”, afirmou o croata. As estatísticas confirmam: Djokovic somou 14 winners de direita (de um total de 36) e somente três erros não forçados (22 no total). Outros números que explicam o sucesso do sérvio são os 82% de pontos ganhos com o primeiro serviço.
His night. His court. His trophy. His legacy.@DjokerNole • #AusOpen • #AO2023 pic.twitter.com/1tC4Foanm1
— #AusOpen (@AustralianOpen) January 29, 2023
“Ainda tenho imensa motivação e vamos ver onde isso me leva. Sei que quando me sinto bem fisicamente, mentalmente presente, tenho uma hipótese de ganhar qualquer ‘Slam’”, afirmou Djokovic, cuja subida do quinto para o primeiro lugar é o maior salto para a liderança na história do ranking ATP, criado em 1973. “Acarinho e celebro estes momentos de voltar a ser número um ainda mais do que alguma vez na minha carreira”.
Na segunda final do Grand Slam que disputou, Tsitsipas ganhou 15 jogos, o máximo que qualquer adversário conseguiu “roubar” a Djokovic nesta edição do Open, e está optimista quanto ao futuro. “Não penso que haja razão para ficar afectado pela derrota. É um passo em frente. Estou ansioso por somar mais pontos durante a época, fazer melhores resultados e lutar pelos maiores troféus”, adiantou o grego de 24 anos. Entre os seus objectivos está igualmente o primeiro lugar do ranking. “Não será fácil, vou ter que trabalhar muito para que isso aconteça. Nasci campeão, sinto-o no meu sangue”, frisou Tsitsipas.