Palcos da semana: refazer memórias e celebrar a diferença
Guimarães abraça o GUIdance; Lisboa e Porto mostram os tons que movem os D’Alva, a Suite N.º 4 da Encyclopédie de la Parole, a Fonte da Raiva e a Kino.
Abraçar a diferença e dançar com ela
Onze espectáculos, conversas, debates, masterclasses, oficina, exposição, visitas a escolas com embaixadores da dança e a exibição de Endless, o registo que a realizadora Eva Ângelo fez do espectáculo homónimo.
É com estes passos que se apresenta mais uma edição do GUIdance, a 12.ª do festival internacional dedicado à dança contemporânea. Calibrado com a ideia de uma “trans_formação em curso”, reúne criações de Gaya de Medeiros, François Chaignaud & Tânia Carvalho, Jacopo Jenna, Jesús Rubio Gamo, Marco da Silva Ferreira, Cassiel Gaube, Vânia Doutel Vaz, Dançando com a Diferença e Akram Khan Company.
É desta última que vem Jungle Book Reimagined, peça que explora a viagem de Mogli d’O Livro da Selva, aqui reinventada e contada pelos “olhos de um refugiado climático”.
Somos todos D’Alva
Depois de #batequebate (2014) e Maus Êxitos (2018), o colectivo de electro-pop-punk comandado por Alex D'Alva Teixeira tem em mãos Somos, editado em Outubro do ano passado.
À cabeça deste terceiro capítulo discográfico vêm temas como Só a pensar, Coração à discrição, Chama-me nomes, Sala de espera ou Honesty bar. Para a empreitada, o trio-maravilha – que junta Ben Monteiro e agora também Gonçalo de Almeida a Alex – contou com convidadas como Cláudia Pascoal, Isaura ou Joana Espadinha, alimentando assim uma “viagem emotiva e dançável” feita do “cruzamento de várias estéticas e identidades”.
Suite N.º 4, ou as paisagens sonoras de um teatro de espíritos
Começou em 2014 com Suite N.º 1 ABC. Um par de anos depois, seguiu caminho com Suite N.º 2. O terceiro tomo, ou Suite N.º 3, chegou em 2018.
Agora, o dramaturgo e encenador francês Joris Lacoste estreia em Portugal o último capítulo da série que vai beber ao projecto Encyclopédie de la Parole, uma colecção iniciada em 2007 por um grupo de artistas, académicos e curadores, que explora a palavra dita e reúne gravações em línguas diversas que tanto podem servir de base a espectáculos, como construir instalações, jogos ou conferências.
Nesta Suite N.º 4, os trechos dão vida a um teatro de espíritos. Explica a produção: com “vozes do seu acervo sonoro (e) sem a mediação de actores”, entram em cena falantes do passado, com “a sua melodia original, o seu tom único, uma respiração própria.” A música vem assinada por Sébastien Roux e Pierre-Yves Macé e é interpretada ao vivo pelo Ensemble Ictus.
Refazer memórias em Fonte da Raiva
Cucha Carvalheiro inspira-se nas Danças a um Deus Pagão de Brian Friel para levar a palco histórias de sobrevivência em tempos sombrios.
Se na peça do dramaturgo irlandês a trama se centrava numa família dividida entre uma cultura celta e um cristianismo que lhes guiava as atitudes, aqui seguem-se os passos de Amélia, filha de mãe branca e pai negro, que regressa à aldeia de Fonte da Raiva, lugar onde nasceu, para refazer as memórias felizes do Verão de 1962. Isto apesar de no mapa estar um Portugal marcado pelo início da Guerra Colonial, pela “sangria de homens em idade ‘casadoira’”, pela emigração e pelo conservadorismo.
No elenco, além de Cucha, estão Bruno Huca, Inês Rosado, Joana Campelo, Júlia Valente, Leonor Buescu, Luís Gaspar e Sandra Faleiro.
Kino aponta o foco a Novos Começos
A cortina da Kino - Mostra de Cinema de Expressão Alemã abre com Quando a Primavera Chegou a Bucha, filme de Mila Teshaieva e Marcus Lenz que documenta as vidas desfeitas e os estragos causados na cidade ucraniana pelas tropas russas.
É uma das estreias apontadas à tela do São Jorge nesta 20.ª edição, que alinha 15 filmes nas secções Visões, Perspectivas e Realidades, sempre com o mesmo tom, a celebrar Novos Começos, o tema que dá alma ao cartaz.
A par das História(s) do Cinema Alemão projectadas na Cinemateca, a festa contempla ainda encontros com realizadores, uma oficina para famílias e extensões a Lagos (9 a 11 de Fevereiro, na Biblioteca Municipal); Coimbra (14 e 15 no Teatro Académico de Gil Vicente); e Porto (2 a 23 de Março, na Casa das Artes).