Ex-ministro David Justino deu a última aula: é difícil “entender a educação que não assente no conhecimento”
No final da aula, o Presidente da República e o ministro da Educação saíram juntos sem comentar a actualidade na Educação. “Estou esperançado”, foi a única resposta de Marcelo Rebelo de Sousa.
Foi com um agradecimento especial aos alunos e antigos professores, como Cavaco Silva e Manuela Ferreira Leite, que o antigo ministro da Educação David Justino, professor catedrático no departamento de Sociologia da Universidade Nova de Lisboa, iniciou a última aula, antes da jubilação, esta terça-feira. Antes de atingir os 70 anos, foi tempo de abordar o tema “A nova era da incerteza”, para um auditório cheio.
Durante a última lição, David Justino não teceu comentários sobre o estado actual do ensino, com protestos e greves de professores na ordem do dia. Sobre Educação, defendeu apenas, num parêntese final, que a “função fundamental” do ensino passa por “transmitir o legado do passado às novas gerações”.
“Torna-se difícil, para mim, entender a educação que não assente no conhecimento e na cultura, no esforço e no rigor, na exigência e na disciplina”, defendeu. E atirou: “Não simpatizo com os novos profetas, eles prometem escola do século XXI, a escola do futuro em que os alunos interagem com as tecnologias, desenvolvem competências e o professor se torna uma espécie de animador de sala de aula. O ensino e a aprendizagem assentam antes de mais numa relação humana e só depois se estabelece uma relação social”.
Sobre o tema da última aula de David Justino, “A nova era da incerteza”, o professor fez uma exposição sobre a “Sociologia da Ignorância”, em contraponto à Sociologia do Conhecimento, departamento pelo qual era responsável. “Não entendam a ignorância na sua acepção mais negativa, mais corrente de insipiência ou de conhecimento falso. Trata-se do não-conhecimento sobre o desconhecido”, atirou à plateia.
Da guerra na Ucrânia à pandemia de covid-19, Justino traçou aos alunos presentes na sala um desenho do mundo, que há já três anos, disse, está a viver uma situação semelhante à que sucedeu entre as duas grandes guerras mundiais: de “peste, fome e guerra”. “Não sabemos qual o efeito que os últimos acontecimentos podem gerar, mas sabemos que os próximos tempos serão marcados pela incerteza”, disse ainda.
“Permitam-me que destaque os meus alunos, que comigo partilharam momentos que jamais esquecerei”, começou por sublinhar o antigo governante no início da lição. “Nunca deixamos de ser professores.”
David Justino, professor catedrático do Departamento de Sociologia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, foi ministro da Educação do XV Governo Constitucional liderado por Durão Barroso, entre 2002 e 2004, e vice-presidente do PSD entre 2018 e 2022 sob a liderança de Rui Rio.
Além de ministro da Educação (entre 2002 e 2004) durante o Governo de Durão Barroso, David Justino tinha sido já porta-voz da pasta da Educação, a convite, em 1986, do actual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Foi vereador na Câmara Municipal de Oeiras, deputado entre 1999 e 2002, presidente do Conselho Nacional de Educação (entre 2007 e 2013) e consultor do ex-Presidente da República Aníbal Cavaco Silva para os Assuntos Sociais, tendo sido agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique em Janeiro de 2016.
Marcelo, João Costa, Cavaco, Rio e Centeno assistiram à última aula
Na sala estiveram presentes o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o seu antecessor, Cavaco Silva, o ex-líder do PSD, Rui Rio, o presidente do PS, Carlos César, e o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno. Também o actual titular da pasta da Educação, João Costa, marcou presença, assim como alguns antecessores como Nuno Crato, Manuela Ferreira Leite e Isabel Alçada.
Da área social-democrata, estiveram presentes outros ‘vices’ de Rio como Salvador Malheiro, André Coelho Lima e Isaura Morais, os anteriores líderes parlamentares Paulo Mota Pinto e Adão Silva (actual vice-presidente da Assembleia da República) ou o ex-secretário-geral do partido e deputado, José Silvano, bem como o antigo dirigente do partido Pacheco Pereira, além de vários actuais deputados.
No final da aula de jubilação, Marcelo Rebelo de Sousa e João Costa saíram juntos sem comentar a actualidade política e as negociações entre a tutela e os sindicatos da Educação. “Estou esperançado”, foi a única resposta do Presidente da República após insistência dos jornalistas.
Também o ex-líder do PSD, Rui Rio, se escusou a falar da actualidade política e insistiu, como há uma semana, que impôs para si mesmo uma regra ética de um certo “período de nojo” depois de quatro anos como presidente do partido.
“Tenho acompanhado tudo, como é evidente, mas sobre a conjuntura política rigorosamente nada. Acho até que estou a dar um bom exemplo, quem está um tempo na vida pública depois deve ter um período de nojo”, disse.