“Chegou tarde à profissão”, lembra Silva Pires, antigo chefe de redacção do Diário de Notícias e ex-director-adjunto do AutoSport, mas trazia uma “paixão pela escrita” e “pelos automóveis” que fez com que depressa se destacasse no meio. Rui Freire morreu, nesta quinta-feira, aos 71 anos, de doença.
O corpo estará em câmara ardente, a partir das 17h deste sábado, na Igreja de S. Francisco de Assis, em Lisboa, com missa às 15h de domingo, seguida de funeral no Cemitério do Alto de S. João.
Freire começou a trabalhar no extinto jornal Motor, pela mão de Joaquim Pelejão, para depois integrar a redacção do AutoSport, em 1987 — tinha a carteira profissional número 645, assinada por Fernando Pires e Silva Pires, recorda o último.
Foi chefe de redacção até 1993, altura em que herdou a direcção do jornal, depois da saída de Pedro Castelo, tendo permanecido à frente dos destinos da publicação até 2008 e “liderado as várias fases de transformação do semanário dos campeões”, lembra Rui Pelejão, que trabalhou com Freire ao longo de 13 anos.
Escrevia sobre desporto automóvel, mas especializou-se em Fórmula 1, tendo acompanhado a prova rainha durante várias temporadas também para o Diário de Notícias. “A última corrida de F1 que vivemos juntos, com o Rui Freire como director, foi o GP do Brasil de 2008 (…), e como não podia deixar de ser foi ele o primeiro a reparar no Timo Glock entre as festas na Ferrari e na McLaren”, lembra o jornalista José Luís Abreu, que entrou para o AutoSport em 2001.
Na referida corrida, Glock foi apontado como o piloto que definiu o título do Mundial a favor de Lewis Hamilton, ao ser ultrapassado pelo piloto inglês nas últimas curvas do prémio disputado em Interlagos, consequência de uma decisão de não ter trocado para pneus de chuva. Hamilton terminou em quinto, o suficiente para se sagrar campeão em vez de Felipe Massa, que jogava em casa.
“A F1 era a sua grande paixão, sabia ler e antecipar acontecimentos numa corrida como ninguém”, corrobora Pelejão, que sublinha a sua capacidade de liderar “com cabeça e bom coração”. Lembra o apresentador do programa GTi, que sucedeu a Freire na direcção do AutoSport: “Quando se reformou passou-me a sua lendária lapiseira como director do Autosport. Mais importante do que a lapiseira foi tudo o que me passou de ensinamentos de jornalismo e de como liderar uma equipa.” E resume: “Maior do que o seu irresistível sentido de humor, só mesmo o seu coração. Era um verdadeiro gentleman, inesquecível.”
Rui Freire foi ainda presidente da comissão executiva do Carro do Ano - Volante de Cristal, função que abandonou na edição de 2017.