Megaoperação no Parque Natural do Sudoeste Alentejano. ICNF fiscalizou mais de 100 explorações agrícolas
Entre as infracções detectadas estão furos, agricultura intensiva, edificações não autorizadas, estufas fora do perímetro, corte não autorizado de sobreiros, produção e venda de espécies exóticas.
O Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), liderado por Nuno Banza, levou a cabo uma megaoperação de fiscalização no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV). A operação, que visou verificar o cumprimento do regulamento do parque — onde existem centenas de estufas com uma área de ocupação que muitas vezes ultrapassa os limites estabelecidos — começou na terça-feira e terminou esta quinta-feira.
No terreno estiveram também mais de uma centena de vigilantes da natureza (provenientes de todo o país), técnicos, juristas e forças de segurança, que fiscalizaram 110 explorações agrícolas de flores, frutos vermelhos e produtos hortícolas.
Segundo fonte do ICNF foram encontradas várias irregularidades. Assim, desta fiscalização, resultaram 82 participações, 12 autos de notícia e uma apreensão. Entre a tipologia de infracções detectadas incluem-se furos, charcas, agricultura intensiva, vedações ou edificações não autorizados, estufas fora do perímetro de rega, corte não autorizado de sobreiros (espécie protegida), resíduos fitofármacos indevidamente acondicionados, e produção e venda não autorizadas de espécies exóticas.
Também houve uma participação-crime. Esta participação-crime diz respeito a uma construção ilegal de uma moradia que estava embargada tendo as obras continuado apesar disso. Foi feita uma participação pelo crime de desobediência.
Em comunicado o ICNF deu ainda conta que, decorrente de uma acção de fiscalização anterior, de idêntica natureza, foi proferida a 16 de Janeiro pelo Tribunal da Relação de Évora uma decisão final não passível de recurso, que considerou improcedente o recurso da empresa Eurocitros, mantendo a decisão do ICNF que aplicou uma coima única de 50 mil euros, pela prática de três contra-ordenações ambientais muito graves por violação do Regulamento do Plano de Ordenamento do PNSACV e do Regime Jurídico da Conservação da Natureza e da Biodiversidade.
O PNSAV abrange territórios nos concelhos de Aljezur, Odemira, Sines e Vila do Bispo, estendendo-se desde São Torpes, a sul de Sines, até ao Burgau, já na costa sul algarvia, na faixa litoral. Com uma grande diversidade de habitats costeiros, a área foi classificada para preservar a sua diversidade de flora (750 espécies, incluindo 100 endemismos) e de fauna, com destaque para diferentes espécies de aves, incluindo 26 que nidificam em falésias. Além da importância da área para a Conservação da Natureza, o Sudoeste Alentejano tem uma vasta actividade económica ligada à Agricultura e produção de plantas em viveiros.
Há muito que as organizações que defendem o ambiente, como a associação Zero, alertam para o aumento da agricultura intensiva no PNSACV, nesta área protegida, que abrange concelhos do Alentejo e Algarve, e para a falta de controlo desta actividade.
Até há uma petição: O Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina não aguenta mais agricultura intensiva! Esta petição conta com mais oito mil assinaturas.
Esta petição surgiu depois de ter sido aprovada a Resolução do Conselho de Ministros n.º 179/2019 (RCM), que estabeleceu um regime especial e transitório para o Aproveitamento Hidroagrícola do Mira (PRM - Perímetro de Rega do Mira), em pleno Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV).
Segundo a petição, esta resolução veio “autorizar o triplo da actual área agrícola coberta por plástico, que se estimava rondar os 1600 ha (11% do PRM), para um máximo de 4800 ha (40% do PRM), permitindo a expansão de práticas agrícolas que apostam na utilização intensiva de água para rega, plásticos, fertilizantes e pesticidas sintéticos, e que dependem de uma longa cadeia de distribuição até chegar ao consumidor final, assim como da contratação de milhares de trabalhadores asiáticos, que têm acorrido à região em condições pouco claras”.
Esta petição que foi apoiada com projectos de lei e de resolução do PAN, do PCP, de Os Verdes e do BE chegou a ser discutida no Parlamento em Junho de 2021. Nesse dia dezenas de pessoas protestaram junto à Assembleia da República.
O PAN chegou a apresentar um Projecto de Lei que visava estabelecer as medidas urgentes a adoptar para cumprir o Plano de Ordenamento do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (POPNSACV), impedindo novas instalações e explorações agrícolas no PNSACV até ao cumprimento do referido plano, mas foi chumbado.