Eurobic e consultoras alvo de buscas em processo de Isabel dos Santos
Buscas resultam de pedido de cooperação feito pela Justiça angolana, que continua a investigar a filha do antigo Presidente angolano, José Eduardo dos Santos.
O Ministério Público e a Polícia Judiciária estiveram esta quarta-feira a realizar buscas na sede do banco Eurobic, em Lisboa, no âmbito de um pedido da Justiça angolana. Desde o início da semana que as instalações de pelo menos três consultoras, a PwC, a McKinsey e a Boston Consulting Group, foram igualmente alvo de visitas por parte das autoridades portuguesas. A notícia foi avançada, em parte, pelo jornal Observador e confirmada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao PÚBLICO, após ter sido confrontada com aquela informação.
“Confirma-se a realização de buscas em execução de pedido de cooperação judiciária internacional recebido das autoridades angolanas. As diligências têm lugar em empresas de consultoria e numa entidade bancária e são dirigidas pelo Ministério Público do Departamento Central de Investigação e Acção Penal”, afirma a resposta da PGR. O PÚBLICO apurou o nome das consultoras alvo de buscas. Tentou contactar, sem sucesso, quatro das três empresas, tendo a PwC optado por não fazer comentários.
Isabel dos Santos chegou a ser a maior accionista do Eurobic, tendo em Janeiro de 2020, na sequência do escândalo Luanda Leaks , anunciado que estava de saída desta instituição financeira e já renunciara aos seus direitos de voto. De acordo com as informações do banco então liderado por Teixeira dos Santos, a empresária “tomou a decisão de saída da estrutura accionista do Eurobic”, onde era dona de 42,5%.
No entanto, a venda desta participação ainda não terá sido concluída, como noticiou o Jornal de Negócios em Outubro passado, dando conta que o aval da Procuradoria-Geral de República angolana, que ordenou o arresto dos bens de Isabel dos Santos, dependia da certificação das dívidas da Finisantoro Holding Limited e da Santoro Financial Holding, as sociedades através das quais a empresária angolana detém uma participação no Eurobic, com 17,5% e 25%, respectivamente.
Recorde-se que era no Eurobic Lisboa, que a Sonangol detinha uma conta que foi esvaziada em Novembro de 2017 (tinha quase 58 milhões de dólares) e ficou com saldo negativo no dia seguinte à demissão da empresária. O dinheiro foi parar à conta de uma empresa offshore no Dubai, a Matter Business Solutions, controlada pelo principal advogado da empresária angolana, o português Jorge Brito Pereira.
A PwC, a McKinsey e a Boston Consulting Group têm em comum terem sido contratadas por Isabel dos Santos para ajudar na restruturação da petrolífera angolana.
Uma das principais denúncias feitas no âmbito do Luanda Leaks dizia respeito a várias transferências de, pelo menos, 115 milhões de dólares feitas entre Maio e Novembro de 2017 pela Sonangol, estava Isabel dos Santos no último terço do seu mandato. O dinheiro também foi parar à Matter.
Mais tarde a SIC e o Expresso, que integravam o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (CIJI) que investigou o Luanda Leaks, noticiaram que a Matter teria sido usada para pagar à PwC, à McKinsey, à Boston e à sociedade de advogados Vieira de Almeida (entre outras) serviços que não estariam devidamente identificados.
Desde Março de 2018 que Isabel dos Santos, filha do antigo Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, está a ser investigada por má gestão e desvio de fundos durante a sua passagem pela Sonangol. Isabel dos Santos foi constituída arguida muito antes da divulgação dos Luanda Leaks no âmbito de um inquérito aberto na sequência da denúncia do seu sucessor à frente da petrolífera angolana, Carlos Saturnino, como explicou ao PÚBLICO o porta-voz da Procuradoria-Geral da República de Angola.