Chanceler alemão nomeia novo ministro da Defesa: Boris Pistorius

Decisão sobre o envio de carros de combate para a Ucrânia vai ser a primeira questão na agenda do novo responsável, diz o vice-chanceler Robert Habeck.

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Boris Pistorius no seu gabinete em Hanôver: uma das suas qualidades é ser "seguro" AXEL SCHMIDT/Reuters

Boris Pistorius, o recém-nomeado ministro da Defesa da Alemanha, aceitou o cargo reconhecendo o peso da responsabilidade, e fazendo uma afirmação clara em relação ao estatuto do país na guerra que a Rússia leva a cabo na Ucrânia: “O Ministério da Defesa é já em tempos de paz um enorme desafio e, numa altura em que, enquanto República Federal da Alemanha, participamos indirectamente numa guerra, é ainda mais”, declarou, citado pelo jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ).

Depois de uma vida inteira na política de Hanôver, onde era há quase dez anos ministro do Interior do estado federado (o mesmo do antigo chanceler Gerhard Schröder), o político de 62 anos chega ao Governo nacional – antes foi muitas vezes indicado como possível candidato a vários cargos em Berlim sem nunca ser o escolhido, destaca o Süddeutsche Zeitung. Em 2017 tinha feito parte do “governo-sombra” de Martin Schulz e em 2019 concorreu à liderança do Partido Social Democrata (SPD), lembra o jornal Die Zeit.

A pasta, livre após a demissão de Christine Lambrecht, pedida na segunda-feira, teria de ser ocupada por alguém do SPD, como foi estabelecido na distribuição de cargos quando foi negociada a coligação entre o partido de centro-esquerda do chanceler, os Verdes, e o Partido Liberal Democrata.

Lambrecht era criticada por não ter conseguido reformar as Forças Armadas alemãs, que depois de décadas a serem negligenciadas receberam um aumento de investimento, através de um fundo especial no valor de cem mil milhões de euros anunciado pelo chanceler no seu discurso de Zeitenwende ("viragem" ou "mudança de era"), como resposta à invasão russa da Ucrânia​.

É um cargo considerado especialmente difícil na Alemanha, de tal modo que o FAZ comenta que a idade de Pistorius é vista como uma vantagem numa pasta que pode levar ao fim de carreiras políticas (sendo Ursula von der Leyen, que ocupou o cargo entre 2013 e 2019, numa passagem que não foi isenta de escândalos, uma enorme excepção).

O novo ministro receberá já na quinta-feira o secretário da Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, em Berlim, e na sexta-feira há um encontro entre ministros da Defesa na base militar norte-americana de Ramstein para discutir mais envios de armas para a Ucrânia, com o Governo alemão pressionado para enviar carros de combate Leopard 2 para Kiev.

Esta será a primeira questão na agenda de Pistorius, comentou o ministro da Economia, e número dois do Governo, Robert Habeck, ouvido pela rádio DLF (Deutschlandfunk), embora a decisão definitiva caiba ao chanceler, Olaf Scholz.

Habeck já se declarara antes a favor do envio de Leopard 2, carros de combate de fabrico alemão que actualmente estão ao serviço de vários exércitos na Europa. A Polónia e a Finlândia já se dispuseram a enviar os seus se Berlim o aprovar, e Habeck disse que, na sua opinião, a Alemanha não devia impedir os países que assim quisessem de os enviar.

O vice-chanceler também sugeriu, entretanto, que a decisão alemã seria mais fácil se os Estados Unidos enviassem também carros de combate. Até agora, o Reino Unido quebrou o tabu anunciou que o vai fazer.

"Nervos de aço"

Apesar de o cargo de Pistorius na Baixa Saxónia ser de ministro do Interior, o político tem qualidades consideradas essenciais ao sucessor de Lambrecht. Habeck elogiou-lhe os "nervos de aço". É-lhe apontada como vantagem a rápida especialização na sua pasta, além de ser alguém "capaz de concretizar" e de ser "seguro". Por outro lado, tem um estilo directo, ao contrário do chanceler.

Lambrecht saiu na sequência de um escândalo que terá sido a gota de água, quando publicou no Instagram um vídeo com uma mensagem de Ano Novo na noite de passagem de ano, ao som do fogo-de-artifício, em Berlim, em que falava da guerra da Ucrânia e dizia ter conhecido pessoas muito interessantes. Outra polémica, mais cedo, deveu-se a ter usado um helicóptero do Exército para, depois de uma visita a um quartel no Norte, ir até à ilha de Sylt em férias com o filho.

A troca nesta pasta acabou também com a paridade no Governo prometida por Scholz, algo prontamente criticado pelos Verdes, e que faz levantar hipóteses de que possa haver outra troca de ministros, desta vez saindo um homem para entrar uma mulher.

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