Medo que o dinheiro não chegue? Como lidar com a ansiedade financeira
E quando o dinheiro que temos ou poupamos nunca parece suficiente? É possível que estejamos a estabelecer metas pouco realistas. Mas há estratégias para lidar com a ansiedade financeira.
É normal e justificado sentirmo-nos ansiosos se acabamos de perder o emprego e temos uma casa para pagar. Mas, às vezes, a ansiedade que sentimos em relação às finanças é “desproporcional em relação ao perigo objectivo”. Aí, é preciso parar, criar estratégias e, acima de tudo, ser realista. O psicólogo David Neto dá dicas para lidar com a ansiedade financeira. Uma pista: preferir dinheiro a cartões.
O que é a ansiedade financeira?
É a “percepção de que os recursos que a pessoa tem não são suficientes em função dos desafios do momento ou que possam vir a existir no futuro”. Ainda que alguém não esteja numa situação de “dificuldades financeiras objectivas”, pode existir um medo por antecipação.
Ou seja, há quem sinta que precisa de “um determinado limiar de dinheiro em termos de poupança para se sentir seguro” e, uma vez que esse limiar é criado pela própria pessoa, ela pode sentir que “nunca é suficiente” e sentir-se “desfalcada em relação ao que precisa”. “Ou é demasiado exigente e, na realidade, é impossível chegar” à meta a que se propôs.
Quem tem este tipo de ansiedade?
A ansiedade financeira não é um diagnóstico. O diagnóstico que mais se aproxima é o da ansiedade generalizada. Mas este tipo de ansiedade pode surgir em pessoas mais preocupadas.
Há acontecimentos do passado que podem tornar alguém mais susceptível a este sentimento: “Se, enquanto criança, alguém vivenciou uma situação de pobreza, isso pode marcar construções de identidade próprias assentes nestas preocupações, na importância do dinheiro”, afiança o psicólogo.
Não há uma idade associada a este tipo de ansiedade, mas “os jovens tendem a pensar menos no futuro”, aponta. “Se virmos estatísticas relativas a preocupações em torno da reforma ou da poupança, as pessoas mais novas estão, tipicamente, menos preocupadas com isso.”
Ainda assim, quando esta ansiedade tem que ver com “vulnerabilidades pessoais” e “características próprias”, não se percebe uma diferença entre pessoas mais novas e mais velhas. Até porque “os quadros de ansiedade tendem a surgir relativamente cedo”.
Há sintomas?
Uma vez que esta ansiedade não é um diagnóstico, os sintomas que podem servir de indicador são os da ansiedade generalizada. “A preocupação é o sintoma principal.” É a “ansiedade desproporcional em relação ao perigo objectivo”, a “recorrência de pensamento sobre um determinado assunto” ou o “recurso a medidas desproporcionadas”.
É importante, contudo, separar este tipo de ansiedade da “ansiedade objectiva”: “Se alguém tem uma situação financeira periclitante e, por exemplo, corre o risco de perder a casa, ou está com dificuldades depois de perder o emprego… há uma dimensão objectiva relativamente a este risco”, explica David Neto. Ou seja, é uma “ansiedade realista”, que tem razão de ser, num momento em que a vida não está a correr tão bem.
Como lidar?
É útil “ter hábitos de educação financeira”, mas “dentro daquilo que é o limite do saudável” — o que significa que não é bom passar horas e horas a ler textos sobre finanças. Depois, é importante entender o que o dinheiro representa para cada um, ou “porque é que existe a preocupação em torno da possibilidade de perda”: “Se perder dinheiro, fico sem segurança? Significa que falhei?”
O psicólogo não aconselha estratégias como apontar as despesas diariamente: “Pode ser contraproducente, no sentido em que a pessoa está mais atenta àquilo que a preocupa.” Uma alternativa mais saudável seria, em vez de se focar no gasto diário, estabelecer uma meta “realista e razoável” de quanto gastar e quanto poupar por mês.
No dia-a-dia, pode ajudar usar dinheiro em vez de pagar com o cartão, uma vez que vemos, literalmente, o dinheiro a sair da carteira. A mesma coisa com a poupança: pôr num frasco dá-lhe um carácter “tangível”.
E, como acontece com qualquer tipo de ansiedade, pode ser útil praticar exercícios de relaxamento ou meditação.
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