Movimento Acreditar do PSD arranca em Coimbra para “ouvir o país” e começa pela demografia
Seis meses depois de ter sido oficialmente criada, no Congresso do Porto de Julho passado, esta estrutura, que é uma espécie de “estados gerais” do PSD, tem a primeira iniciativa
O movimento Acreditar do PSD, plataforma de discussão com a sociedade civil prevista na moção de Luís Montenegro, vai ter a primeira iniciativa pública em Coimbra, na segunda-feira, associada à nova etapa do "Sentir Portugal" do líder do partido.
Seis meses depois de ter sido oficialmente criada, no Congresso do Porto de Julho passado, esta estrutura, que é uma espécie de "estados gerais" do PSD, tem a primeira iniciativa, pouco mais de uma semana depois da primeira reunião do novo elenco do Conselho Estratégico Nacional, marcando um novo momento político na liderança de Luís Montenegro que procura afirmar-se num momento de desgaste do Governo.
Em entrevista à Lusa, o coordenador do movimento Acreditar, o gestor e economista Pedro Reis, explicou que haverá três tipos de iniciativas: num primeiro nível, será aproveitado o périplo que Luís Montenegro está a fazer pelo país (com o compromisso de passar por todos os distritos durante o seu mandato) e que na próxima semana o levará a Coimbra.
"É o que chamo os roteiros Acreditar: haverá um evento enquadrado nesse "Sentir Portugal" em que, durante uma tarde ou uma manhã, reunimos com pessoas, um grupo relativamente limitado, para podermos ouvir com atenção, mergulhar nos temas", explicou.
O primeiro tema deste roteiro será a demografia - que considerou um dos desafios estruturais do país - e a reunião juntará, além do presidente do partido e dos coordenadores do Acreditar e do CEN, pessoas que possam ter uma palavra a dizer sobre o impacto que "o inverno demográfico" tem em áreas como a saúde e educação.
"A meu ver, este problema tem de ser abordado em dois planos: um plano de fundo de como é que se recupera a taxa de natalidade que torne um país sustentável. Depois, há medidas que necessariamente terão que ser pensadas, como políticas de emigração activa, qualificada e direccionada para colmatar as nossas lacunas", enunciou.
Pedro Reis prefere não antecipar nomes que irão estar presentes na primeira reunião - que decorrerá à porta fechada e com cerca de 20 pessoas -, salientando que o movimento Acreditar não pretende ser "uma montra de nomes" e que cumprirá a sua missão se, no final do processo, "tiver detectado" valor em pessoas "de quem nunca se ouviu falar".
"Quanto mais independentes, melhor. Se forem militantes de outros partidos, também gostaríamos muito de os ouvir. O movimento Acreditar funciona obviamente no sistema solar do PSD, mas é um planeta distante e autónomo. Se assim for, cumpriu a sua missão", explicou, dizendo que o objectivo "é ouvir o país muito para além do perímetro tradicional que se associa ao Partido Social Democrata".
Além do "roteiro Acreditar", que estará associado mensalmente à deslocação de Montenegro por um distrito do país, o movimento quer organizar "quatro ou cinco" grandes encontros por ano, com uma dimensão nacional e também centrados em temas, como educação, qualificação e talento; saúde e bem-estar; mobilidade, sustentabilidade e ambiente; ou economia, produtividade e internacionalização.
"Aí vamos querer ouvir as forças todas de um determinado sector, o que, na prática, implicará ouvir sindicatos, associações, académicos em geral, operadores privados dos respectivos sectores, "think tanks"", disse, adiantando que o primeiro grande encontro nacional no âmbito do movimento Acreditar se realizará até março.
Finalmente, explicou, tudo desembocará, como estava previsto na moção do presidente Luís Montenegro, numa grande convenção a realizar no próximo ano, provavelmente antes das eleições europeias.
"Será o momento que marca uma primeira parte da liderança de Luís Montenegro [tem mandato até Maio de 2024]. Queremos fazer - e não há que ter medo dos conceitos e das ideias - os Estados Gerais do PSD", disse, recuperando a expressão utilizada pelo PS de António Guterres antes de assumir a governação.
Nessa altura, antecipa, "com o trabalho de fundo de todos os eventos" do movimento Acreditar, somado ao do CEN, este será "um grande encontro para agregar e ouvir" e anunciar os principais eixos do programa eleitoral do PSD que o partido quer depois apresentar ao país nos dois anos seguintes.
Pedro Reis não teme uma sobreposição com o CEN, apontando até uma complementaridade entre os dois órgãos, cujos dois coordenadores têm ambos assento nas reuniões do núcleo duro da direção.
"O CEN é um gabinete de estudos, é uma fábrica de conteúdos, que trabalhará a futura base eleitoral do programa do PSD e ajudará o PSD a densificar várias matérias nas 25 áreas temáticas em que está dividido", disse.
Já as iniciativas do movimento Acreditar, considerou, serão "termómetros, antenas" que o PSD quer colocar no país e na sociedade civil para se "conectar com as aspirações para o futuro e as preocupações dos portugueses".
Questionado se a apresentação pública do CEN e do Acreditar durante um período de turbulência no Governo foi uma coincidência, Pedro Reis assegura que este sempre foi o timing previsto pela direção do PSD, seis meses depois de Luís Montenegro ser empossado em Congresso, mas admite que o partido tem de se distinguir por opções sólidas.
"Eu acho que um dos grandes desafios que se coloca à boa governação é justamente uma boa preparação da oposição", defendeu, ironizando que "entrar no governo é entrar num comboio de alta velocidade" e por isso é preciso ter as prioridades definidas antes.
"A gestão política -- é natural e humano -- é muito absorvida pelos casos, casinhos e casões. O CEN e o Acreditar querem estar à parte dessa convulsão diária da política, mais orientados para a governação", assegurou.