Costa “remodela” discurso e tenta ultrapassar crise
Primeiro-ministro lamentou os casos durante duas horas; o resto do tempo foi a “malhar na direita”.
António Costa remodelou na semana passada o Governo, mas só esta semana mudou de discurso. A Iniciativa Liberal ironizou que a moção de censura lhe tinha feito bem. Eventualmente. No debate parlamentar desta quarta-feira, um pouco mais de duas semanas depois de o Correio da Manhã ter dado a notícia da indemnização de 500 mil euros que a TAP pagou a Alexandra Reis, o primeiro-ministro veio reconhecer que a gestora que transitou da TAP para a NAV “violou o Estatuto do Gestor Público”.
Demorou, mas agora o primeiro-ministro não tem “dúvidas” de que “quando a senhora engenheira foi nomeada para a NAV e não procedeu à reposição de parte da indemnização” violou o Estatuto, mas mesmo assim “admitindo que recebeu legalmente a indemnização”.
Foi a primeira vez que António Costa admitiu que o caso da transferência da TAP para a NAV tem uma ilegalidade às costas. Quem sabia? Foi o ex-ministro Pedro Nuno Santos a nomear a gestora para a NAV em conjunto com as Finanças. Pedro Nuno sabia da indemnização e demitiu-se. Medina insiste que não sabia.
Aparentemente, foi o caso mais recente que fez acordar o Governo e o PS – a ida da ex-secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, para uma empresa que esteve sob a sua tutela. E desta vez não houve tentativas de minimização do facto, que aconteceram em quase todos os vários casos com que o Governo se tem confrontado: António Costa tem a certeza de que “a situação em que se encontra a ex-secretária de Estado é ilegal”.
Demorou, mas Costa parece agora ter recuperado a noção da gravidade dos factos. O facto de ter anunciado que vai ser aprovado esta quinta-feira em Conselho de Ministros o mecanismo que discutiu com o Presidente da República para melhorar a escolha de ministros – e ter revelado que é uma segunda opção, porque Marcelo não estava de acordo com a primeira – é um evidente sinal de que Costa está preocupado com a situação e tenta o tudo por tudo para mudar a página, depois da paralisia revelada nos primeiros tempos.
O debate teve uma dose elevada de pedidos de desculpa e humildade à moda de António Costa, que não costuma ser o lugar onde o primeiro-ministro se sente mais confortável. Durou duas horas. O resto da sessão, das 17 horas em diante (acabou depois das 19h), foi para “malhar na direita”, usando a expressão popularizada pelo presidente da Assembleia da República. E, tal como Augusto Santos Silva, é exactamente isso que o primeiro-ministro gosta de fazer e, verdade seja dita, foi bastante eficaz.