Tudo inundou onde passam ribeiros encanados: “Este ano foi muito pior”

O rebentamento de uma tubagem do Ribeiro do Poço das Patas poderá ter agravado as inundações nas Fontainhas, no Porto. Na Mouzinho da Silveira, onde há obras do metro, a água entrou pelo chão

PP - 09 ANEIRO 2023 - PORTO - ILHA 9 RESCALDFO DA ENXURRADA DIA SEGUINTE
Fotogaleria
As casas ficaram inundadas no sábado. Segunda-feira, ainda decorriam os trabalhos de limpeza,As casas ficaram inundadas no sábado. Segunda-feira, ainda decorriam os trabalhos de limpeza Paulo Pimenta,Paulo Pimenta
PP - 09 ANEIRO 2023 - PORTO - ILHA 9 RESCALDFO DA ENXURRADA DIA SEGUINTE
Fotogaleria
As casas ficaram inundadas no sábado. Segunda-feira, ainda decorriam os trabalhos de limpeza Paulo Pimenta
PP - 09 ANEIRO 2023 - PORTO - ILHA 9 RESCALDFO DA ENXURRADA DIA SEGUINTE
Fotogaleria
As casas ficaram inundadas no sábado. Segunda-feira, ainda decorriam os trabalhos de limpeza Paulo Pimenta
PP - 09 ANEIRO 2023 - PORTO - PAPELARIA  RESCALDFO DA ENXURRADA DIA SEGUINTE
Fotogaleria
O proprietário da Tipografia Peninsular, na Rua de Mouzinho da Silveira, diz que a água entrou pelo chão Paulo Pimenta
mau-tempo,cheias,local,porto,metro-porto,
Fotogaleria
As limpezas já foram feitas na Rua das Flores. Mas ainda há comerciantes com as lojas fechadas Paulo Pimenta

Desde sábado passado, a sala de estar da casa de Arminda Ferreira, de 90 anos, está transformada numa espécie de lamaçal. E não é caso único no mesmo complexo habitacional. Há vários anos que quem mora no Bairro dos Moinhos - uma ilha do Porto nas Fontainhas, ao fundo da Rua de São Victor -, mal surgem as primeiras chuvas durante o Inverno, prepara-se para a eventualidade de ocorreram inundações. É uma rotina que conhecem bem, mas da qual não existe memória de alguma vez ter tomado as proporções que tomou este ano. No fim-de-semana passado, durante o período mais intenso de chuva, cerca de uma dezena de casas foram tomadas pela água, tornando algumas das fracções inabitáveis e danificando os pertences de quem ali vive.

A causa do agravamento da situação em relação a outros anos está mesmo ali ao lado. A Ribeira do Poço das Patas passa entubado naquela viela até desaguar no Rio Douro. Este ano, as tubagens não aguentaram a força do caudal, que aumentou de volume, e rebentaram, diz a autarquia, por causa do mau tempo. As inundações da Rua de Mouzinho da Silveira e da Rua das Flores também poderão ter origem noutro ribeiro que está encanado – o Rio de Vila – que está a ser desviado, no âmbito da expansão da rede do Metro do Porto.

À excepção de Arminda Ferreira, que se mudou temporariamente para casa de um filho, todos os outros moradores continuaram a pernoitar no Bairro dos Moinhos, onde fazem contas aos estragos e continuam a levar a cabo os trabalhos de limpezas.

Na tarde desta segunda-feira, dois dias depois das chuvas, o pátio da ilha servia para secar o que a água molhou. Jorge Teixeira, de 36 anos, tinha toda a sua roupa e a da família pendurada em cordas no exterior. Ao contrário de sábado, o céu estava limpo. “Mas não seca nada”, diz ao PÚBLICO. Na manhã de sábado acordou com uma das filhas, já a água estava dentro de casa, “com cerca de 30 centímetros de altura”. Toda a roupa ficou encharcada, “os electrodomésticos foram apanhados” e “o material escolar” dos filhos danificado. “Não puderam ir às aulas. A roupa está toda molhada”, conta.

Na casa de Arminda Ferreira, o filho, Amadeu Faria, continua a limpar o piso, que, depois da água desaparecer, se encheu de lama. A mãe vive lá há 70 anos. Ele viveu lá até aos 27. Nem a mãe, nem ele, conta, têm memória de alguma vez ter acontecido algo semelhante. “A minha mãe já não volta para cá. Vamos encontrar uma solução”, afirma.

Rui Monteiro mudou-se para os Moinhos quando tinha 30 anos. Hoje tem 55. Durante esse período já viu ali muitas inundações. Mas também não se lembra de outra igual a esta. “[Noutros anos], a água corria pelo pátio, mas púnhamos uma tábua na porta para não entrar muita dentro de casa”, diz. Este ano foi diferente, “muito pior”, e arrisca num motivo para assim ter sido: “Rebentou um tubo do ribeiro”.

Os outros moradores dizem o mesmo e a Câmara do Porto confirma. Ali perto, do outro lado da rua, onde na tarde desta segunda-feira estava um carro da câmara estacionado, rebentou um tubo que encana o Ribeiro do Poço das Patas, adianta a autarquia. A câmara diz que o rebentamento teve origem no aumento de pressão nos tubos, “que não estão dimensionados para aquele volume do caudal”. O motivo para esse aumento, adianta, foi “o mau tempo”. A Águas e Energia do Porto, diz a mesma fonte, está agora a averiguar a situação.

Pergunta-se se, uma vez que as inundações se agravaram em relação a outros anos por força de uma situação anómala relacionada com um equipamento municipal, os danos causados aos moradores serão cobertos. A autarquia responde que a Protecção Civil ainda está em fase de avaliação dos prejuízos.

Água que entrou pelo chão

Noutras zonas da cidade mais afectadas o cenário, aparentemente, parece estar normalizado. As ruas que estavam cortadas já abriram ao trânsito – só a Rua das Taipas é que ainda estava cortada para trabalhos e a Gustavo Eiffel com circulação apenas numa via. Na Rua das Flores, alguns negócios ainda estavam fechados para trabalhos de limpeza. E na Mouzinho da Silveira, alguns comerciantes queixam-se de água que inundou as caves.

Na Tipografia Peninsular, aberta desde 1905, segundo João Gonçalves, da quinta geração de proprietários, a água entrou na cave pelo chão, tendo coberto as máquinas, algumas centenárias, e outros materiais. O piso do andar inferior, agora com uma lomba visível, está levantado e com as tampas de saneamento danificadas. O responsável pelo espaço aponta o dedo às obras do metro e relembra que ali passa um rio encanado. A Metro do Porto dizia no sábado que não havia qualquer relação entre uma coisa e outra. A autarquia diz que “as obras do metro do Porto são a única variável nova”.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários