Antigo café Capitólio dá lugar a mais um hotel nos Aliados
Câmara do Porto refere que está a decorrer um processo de licenciamento para instalar um empreendimento turístico no edifício do café que foi despejado em Dezembro.
A possibilidade já andava nas bocas de quem ainda se mantinha naquele prédio da Avenida dos Aliados, nos últimos dias de Dezembro. Quando o café Capitólio, um dos históricos do Porto, encerrou, depois de ter recebido uma ordem de despejo, a conversão do edifício que fica praticamente ao lado dos Paços do Concelho num hotel era apontada como a explicação.
A confirmação vem do outro lado da rua: em resposta ao PÚBLICO, a Câmara Municipal do Porto (CMP) refere que decorre nos seus serviços de urbanismo o processo de “licenciamento de obras de alteração e ampliação para instalação de um empreendimento turístico” no mesmo prédio que, durante décadas, alojou o café Capitólio. No caso, o "empreendimento turístico" é um hotel, especifica a autarquia, sobre as transformações que aguardam o prédio que está na vizinhança da antiga sede do Futebol Clube do Porto (FC Porto), também ela em obras para receber hotelaria.
Da vaga de encerramentos que atravessou três cafés marcantes da Baixa do Porto em Dezembro – fecharam também o Embaixador e o Vitória –, o Capitólio é o único que já tem o seu futuro clarificado. Segundo a autarquia, não há "quaisquer pedidos de informação prévia (PIP) ou processos [de licenciamento] a decorrer” relativamente aos outros dois imóveis.
Fundado em Março de 1954 por António Eleutério Santos, jogador do FC Porto e do Salgueiros, o afé Capitólio fechou as portas de vez no dia 22 de Dezembro, sendo mais um sinal da pressão turística que tem mudado o centro da cidade. No edifício mantinham-se ainda um escritório de advogados e o Amaral Cabeleireiros. Frequentado por trabalhadores dos vários hotéis que o rodeiam, o destino do café é transformar-se também ele em alojamento.
Dias antes, o mesmo aconteceu a outro espaço com história, não muito longe dali. O café Embaixador, que servia desde 1959 a sua clientela na rua de Sampaio Bruno, uma via perpendicular aos Aliados, fechou. Tinha então 16 trabalhadores. De acordo com o Jornal de Notícias, havia uma acção de despejo em curso há cinco anos, uma vez que o senhorio não queria renovar o contrato de arrendamento.
Também em Dezembro, chegou ao fim um projecto mais recente, mas que foi ganhando o seu espaço na Baixa da cidade. O café Vitória, um espaço que abriu ao público em 2010 e que funcionava também como restaurante e bar, anunciou nas redes sociais que fecharia portas.
Vaga de encerramentos
Apesar de o último mês de 2022 ter sido particularmente pesado para estes estabelecimentos da Baixa do Porto, outro marco da cidade, o café Luso, já tinha fechado portas em Maio. Sem aviso prévio, o Grupo Tropical Burger, que, entre outros estabelecimentos, detinha também o Luso, entrou em insolvência em meados do ano passado, deixando então 73 trabalhadores no desemprego.
Situado na Praça Carlos Alberto, o café foi fundado em 1935 e encerrou na viragem do milénio. Pelo meio, o edifício foi sede de campanha de Humberto Delgado em 1958, e foi ali, na varanda, que o general opositor ao regime salazarista discursou para a multidão. Em 2010, começou a segunda vida do Luso, que agora é interrompida, ainda sem data de eventual regresso marcada.
Os últimos anos têm sido marcados pelo encerramento de estabelecimentos históricos da Baixa do Porto. Em 2017, a Adega do Olho, encaixada na Rua Afonso Martins Alho, foi forçada a pôr um ponto final num percurso centenário, por conta do incomportável aumento de renda.
A Praça dos Poveiros, que mudou de cara na última década, viu fechar O Buraquinho em 2019, igualmente por causa da subida do preço do arrendamento.
Também a Cunha saiu do edifício Emporium, na esquina da Rua de Sá da Bandeira com a Guedes de Azevedo, que foi transformado num condomínio de luxo. Tal como a Cunha, a Confeitaria Serrana, junto à estação de São Bento, recebeu o selo camarário de loja histórica. No entanto, a classificação não evitou o fecho da loja que estava aberta há quatro décadas, na sequência da compra do imóvel onde estava instalada por Avelino Pedro Pinto, sócio maioritário da Livraria Lello e proprietário do Teatro Sá da Bandeira e do Grupo Empresarial Lionesa. Com André Borges Vieira