Estados Unidos devolvem ao Egipto um sarcófago contrabandeado em 2008

É conhecido como o Sarcófago Verde e pertenceu a um sacerdote. Depois de quatro anos de investigação, regressa ao país de onde nunca devia ter saído.

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Mostafa Waziri, responsável pelo património egípcio, examina o sarcófago na cerimónia de restituição, na segunda-feira KHALED ELFIQI/EPA
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No antigo Egipto a cor verde era símbolo de ressurreição KHALED ELFIQI/EPA

Os Estados Unidos devolveram esta segunda-feira, 2 de Janeiro, ao Egipto o chamado Sarcófago Verde, um caixão de madeira que terá pertencido a um sacerdote. O objecto saiu do país ilegalmente em 2008 e foi depois vendido a um coleccionador privado norte-americano. À data em que se desencadeou o processo de restituição, o sarcófago estava em exposição no Museu de Ciências Naturais de Houston, no Texas, instituição a que foi emprestado em 2013.

A devolução deste sarcófago com mais de 2500 anos ocorreu numa cerimónia a que assistiram jornalistas, realizada na sede do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Egipto, no Cairo, que contou com a presença dos ministros da tutela, Samé Shukri, e do Turismo e Antiguidades, Ahmed Issa, informou a agência de notícias egípcia MENA.

O caixão com quase três metros de comprimento tem hieróglifos inscritos a dourado e está, em parte, pintado de verde, cor que no antigo Egipto era símbolo de ressurreição.

O Sarcófago Verde foi apreendido pelo Ministério Público de Manhattan depois de ter sido apurado que fora removido da necrópole de Abusir, a norte do Cairo, e contrabandeado, via Alemanha, para os Estados Unidos em 2008, onde foi adquirido por um coleccionador privado. Uma investigação policial que durou quatro anos resultou agora na sua restituição.

“Uma peça preciosa da história do Egipto foi recuperada graças à cooperação com os nossos amigos nos EUA e depois de vários anos de esforço”, disse Samé Shoukry, que tutela os Negócios Estrangeiros, aqui citado pela televisão árabe Al Jazeera.

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A cerimónia contou com a presença de dois ministros egípcios, a quem Waziri apresentou a peça contrabandeada em 2008. À direita, em primeiro plano, está o dos Negócios Estrangeiros KHALED ELFIQI/EPA

Mostafa Waziri, responsável pelo órgão máximo do património egípcio, o Conselho Supremo de Antiguidades, disse aos jornalistas que o sarcófago data de um período que vai de 664 a.C. a 332 a.C., ano da campanha de Alexandre, o Grande, o general e rei macedónio que conquistou aquele território. Segundo Waziri, as inscrições que restam na tampa do caixão de madeira indicam que terá pertencido a um sacerdote chamado Ankhenmaat.

Em Setembro, e segundo a televisão pública britânica, o procurador distrital de Manhattan, Alvin Bragg, disse que o sarcófago tinha sido retirado do Egipto por uma rede de traficantes internacional e que estava avaliado em um milhão de dólares.

Esta repatriação decorre da política governamental egípcia de combate ao tráfico de antiguidades, um flagelo que afecta o Egipto desde as primeiras escavações no país. Em 2021, de acordo com números citados pela Al Jazeera, as autoridades do Cairo conseguiram que regressassem ao país 5300 artefactos contrabandeados que se encontravam dispersos pelo mundo.

Nos últimos anos, vários museus norte-americanos têm vindo a devolver artefactos. Só o Metropolitan, em Nova Iorque, restituiu em Setembro ao Egipto 16 peças da sua colecção, depois de ter chegado à conclusão de que tinham sido traficadas. Em 2019, este que é um dos museus mais importantes do mundo devolvera já um sarcófago dourado que comprara a um marchand parisiense dois anos antes por quatro milhões de dólares (3,8 milhões de euros).

A rede que traficou o sarcófago devolvido pelo Met em 2019 é a mesma que está por trás da saída ilegal do Sarcófago Dourado do Egipto, escreve ainda a BBC.

Entre as peças mais célebres na mira das autoridades do Cairo está a Pedra de Roseta, uma estela que foi crucial para a compreensão dos hieróglifos, os caracteres da escrita dos antigos egípcios, transportada para Londres no início do século XIX e, desde então, em exposição no Museu Britânico.

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