Pelo menos cem iranianos em risco de serem executados

Governo italiano chama embaixador iraniano em Roma para protestar contra a perseguição e execução de manifestantes.

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O ministro italiano dos Negócios Estrangeiros, António Tajani, presta declarações à imprensa depois de ter chamado o embaixador do Irão em Roma CLAUDIO PERI/EPA

Há pelo menos cem pessoas em risco de serem executadas no Irão, tendo já sido condenadas a pena de morte ou sendo acusadas por crimes que acarretam essa pena, segundo o grupo Iran Human Rights (IHR), que tem sede na Noruega, citado pela emissora britânica BBC.

O Irão executou já dois jovens depois de julgamentos considerados meros simulacros sem os acusados terem tido hipótese de se defender: Mohsen Shekari, 23 anos, a 8 e Dezembro, Majidreza Rahnavard, 23 anos, quatro dias depois.

Em Roma, o ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, Antonio Tajani, mandou chamar o embaixador iraniano para criticar com veemência estas condenações de pessoas que apenas participaram em protestos, ou de mulheres que recusaram usar o hijab (lenço islâmico). “Tirar um véu ou participar num protesto não é um crime que possa levar a pena de morte em lado nenhum do mundo”, declarou Tajani ao embaixador, citado pela Reuters.

Os protestos no Irão começaram com uma revolta pela morte de Mahsa Amini, uma jovem curda que visitava Teerão e que foi presa, e agredida pela polícia da moralidade, por usar o véu a cobrir apenas uma parte do cabelo. O que lhe aconteceu teve eco generalizado porque todas as pessoas no Irão reconhecem o modo de actuação das autoridades, porque já lhes aconteceu a si ou a familiares. O grito de revolta tornou-se num grito anti-regime, e este tem reprimido com dureza os protestos, com manifestantes mortos a tiro pelas forças de segurança ou detidos, e alguns dos detidos arriscam-se a uma condenação à morte.

O grupo de direitos humanos HRANA indica que morreram já 507 manifestantes, dos quais 69 eram menores. Também se contabilizam 66 mortos entre as forças de segurança, diz a organização. Foram detidas mais de 18 mil pessoas nos protestos que decorrem há mais de cem dias (o centésimo dia foi segunda-feira).

Entre as pessoas que estão presas e em risco de execução, segundo o IHR, há cinco mulheres. O número verdadeiro de pessoas que podem ser executadas será ainda maior, já que as famílias têm sido pressionadas a manter o silêncio sobre estes casos, indica ainda o grupo, citado pela BBC. Famílias de detidos e organizações como a Amnistia Internacional relatam sinais de tortura nos condenados. A tortura é usada para os levar a confessar acções que não cometeram.

Nos cem casos enumerados no relatório divulgado pelo grupo na terça-feira, as penas ou acusações foram ou anunciadas por responsáveis do regime ou relatados pelas famílias ou por jornalistas. Nenhum dos acusados ou condenados teve direito a escolher um advogado para a sua defesa ou condições que lhes assegurassem um julgamento justo.

“Ao condenar pessoas à morte, e executar algumas delas, [o regime] quer fazer com que as pessoas voltem para casa”, disse o director do IHR, Mahmood Amiry Moghaddam, à agência francesa AFP. “Isso tem algum efeito”, declarou. “Mas o que temos visto em geral é que leva a ainda mais revolta contra as autoridades.”

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