Fabrizio Cardinali, 72 anos, não deseja as luzes brilhantes da cidade. Na realidade, não tem qualquer utilidade para a electricidade e há mais de meio século que vive sem estar ligado à rede.
Isto faz dele uma das poucas pessoas na Europa despreocupadas com o aumento dos custos de energia, neste Inverno.
Cardinali, cuja longa barba branca o faz parecer Karl Marx, o poeta Walt Whitman ou um Pai Natal magro, vive numa casa de pedra nas colinas da região vinícola de Verdicchio, perto de Ancona, na costa oriental do Adriático italiano.
Por opção, não tem electricidade, nem gás, nem canalização interior.
"Não estava interessado em fazer parte do mundo como estava. Então, deixei tudo — família, universidade, amigos, a equipa de desporto e parti numa direcção completamente diferente", diz, sentado na cozinha a usar calças de bombazina remendadas. "Desistir de algo não é masoquista. Tu desistes de alguma coisa para conseguir outra mais importante."
Antes, vivia completamente sozinho.
Agora, Fabrizio tem dois companheiros de casa, um galo, três galinhas e um gato numa comunidade a que chama "A Tribo das Nozes Harmoniosas".
Os visitantes que procuram Cardinali e os seus amigos são aconselhados pelos habitantes da cidade mais próxima a seguirem o estreito caminho de terra que começa ao lado de um carvalho que hasteia uma bandeira de paz multicolorida.
Cardinali e os companheiros de casa, que apenas disseram chamar-se Agnese e Andrea, contam com um fogão a lenha para cozinharem e se aquecerem, e lêem com a ajuda de lâmpadas alimentadas a óleo de cozinha usado doado pelos vizinhos.
"Sinto-me privilegiada por ter a liberdade para escolher a minha liberdade", diz Agnese, 35 anos, que se mudou para ali há dois anos. Andrea, 46 anos, passa lá a semana, mas regressa a Macerata, a cerca de 50 quilómetros de distância, todos os fins-de-semana, para tomar conta da mãe.
As "nozes harmoniosas" cultivam frutas e legumes, azeitonas para azeite, e abelhas para o mel. Uma cooperativa local vende-lhes sacos de leguminosas, cereais e trigo, que moem para fazer o seu próprio pão.
Quando é possível, trocam qualquer produção excedentária por tudo o que precisam.
Embora algumas pessoas o tenham apelidado de "o Eremita de Cupramontana", Cardinali diz que não é um eremita. Em vez disso, acredita que a vida é melhor vivida em pequenas comunidades.
O primeiro conselho que dá a qualquer pessoa tentada a seguir o seu exemplo é: "Deitar fora o chamado telemóvel inteligente".
Cardinali percorre ocasionalmente curtas distâncias para visitar amigos, levar azeitonas a um lagar de pedra para produzir azeite e caminhar ou apanhar boleia até à cidade mais próxima para tomar um café com os habitantes locais ou visitar o médico.
"Vivo desta forma há cerca de 51 anos e nunca me arrependi. Com certeza, houve dificuldades, mas nunca me fizeram pensar que tinha feito a escolha errada ou deitado tudo a perder", diz. " De forma alguma."