Algés depois das cheias. “Paguei o subsídio de Natal, não sei como pagar os ordenados”

Comerciantes de Algés fazem contas aos prejuízos e preparam-se para reerguer os negócios, perto do fim do ano. Alguns temem não conseguir. 

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“João da Onda”, como é conhecido entre os comerciantes de calçado português, abriu a sapataria “Onda”, em Algés, em 1972. Cinco décadas depois, assistiu com angústia à destruição da loja que inaugurou, “era ainda uma criança”.

Não é a primeira vez que a sapataria sofre danos na sequência de inundações, mas “agora foi pior” e os 78 anos que carrega dificultam a tarefa de reerguer o negócio. “Eu, há 40 anos, era uma coisa completamente diferente. Não há dúvida, fui-me abaixo fisicamente e psicologicamente”, desabafa. E acrescenta: “paguei o subsídio de Natal, não sei como vou pagar os ordenados”.

A 300 metros da sapataria de João Henrique, encontra-se o restaurante “Zínia”, outro dos estabelecimentos afectados pelas chuvas torrenciais que assolaram a região de Algés nas últimas semanas. Teresa Guimarães ainda não conseguiu fazer contas aos prejuízos, “mas são altos”. 

Na cave deste restaurante de “take-away” e “self-service”, inaugurado em 1961, a água ultrapassou um metro de altura e a força da corrente que se formou na rua Damião de Góis partiu a montra, no primeiro piso. “Foi muito violento”, garante, mas defende que “mesmo assim, dentro do azar tivemos sorte, porque há pessoas que ficaram muito pior”. 

Elzani Dias, proprietária da “Criative Cosméticos e Cabeleireiro”, partilha a visão de Teresa, apesar de assegurar que foi a primeira vez, em seis anos, que assistiu a tamanhas inundações, em Algés. “Foi tudo destruído, mas vamos ver para o ano que vem se há alguma melhoria”, diz.