Em Ovar, Hélder Ventura vive a paixão pelo restauro de barcos de madeira

A partir do Cais do Puchadouro, em Válega, Hélder Ventura não poupa esforços para recuperar embarcações representativas da arte da carpintaria naval.

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Hélder Ventura e a paixão pelo restauro de barcos de madeira Adriano Miranda

É difícil perceber o exacto momento em que Hélder Ventura começa a enamorar-se pelos barcos de recreio em madeira. Sendo natural de Válega, freguesia do município de Ovar plantada de frente para a ria de Aveiro, desde tenra idade que começou a fixar o olhar nas embarcações que iam cruzando a laguna. Já crescido, foi estudar Oceanografia para os Estados Unidos da América e deixou-se contagiar pela atenção que no outro lado do Atlântico já iam dando à recuperação do património náutico de madeira. O verdadeiro clique, acredita, aconteceu no dia em que comprou um veleiro usado e constatou que “entrava água por todos os lados”. Pesquisou, estudou e pôs mãos à obra. E nunca mais parou, acompanhado de mais uns quantos entusiastas dos barcos de recreio em madeira, associados da Cenário - Centro Náutico da Ria de Ovar.

Hélder Ventura faz questão de nos receber no armazém que serve de sede, e simultaneamente de estaleiro, à associação a que preside. Estamos em Válega, no cais do Puchadouro, outrora importante ponto de saída de mercadorias - produtos agrícolas, pecuários e também o caulino que servia a famosa fábrica da Vista Alegre. Entre os vários barcos que se encontram guardados dentro daquelas quatro paredes - alguns estão a ser alvo de trabalhos de restauro -, há um que nos merece especial atenção. Nada mais que um pequeno veleiro, da classe Andorinha, considerado “um dos históricos da vela desportiva em Portugal”. “Foi o primeiro barco que comprei”, repara o presidente da Cenário. “É um barco muito interessante, que foi desenhado no Sul de França”, elogia, recordando o dia em que colocou, pela primeira vez, o seu barco na água. “Quase foi ao fundo. Entrava água por todos os lados”, relata, a propósito do momento em que foi forçado a entrar no mundo da recuperação de barcos de madeira.

Formado em Arquitectura já depois de ter estado a estudar Oceanografia em Newport, na Universidade de Rhode Island, Hélder Ventura teve que buscar conhecimento “num estaleiro em Pardilhó, que trabalhava com barcos de recreio”. “É um mundo diferente dos barcos tradicionais. São ambos barcos e de madeira, mas o processo é completamente diferente”, repara.

O regresso à América e a paixão pelos Vougas

Como a experiência com o Andorinha correu bem, o arquitecto que assinou obras como o Espaço Empreendedor e a Escola de Artes e Ofícios (ambos em Ovar) avançou para uma nova aventura. “Acabei por comprar um outro barco que estava à venda, da classe Vouga, e recuperei-o”, testemunha, recuando a essa altura em que já tinha adquirido o armazém do cais do Puchadouro. “Comecei a recuperar aqui os barcos e foi-se formando um núcleo de amigos ligados à náutica, que viríamos a transformar depois em associação”, enquadra. Em 2004, foi oficialmente criada a Cenário.

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A colectividade tem por missão salvaguardar e restaurar embarcações de recreio representativas do património náutico. Promove workshops de introdução ao restauro de embarcações de madeira, dinamiza a prática de vela e também trabalha “a componente museológica”, frisa o arquitecto, de 63 anos, que também tem dedicado parte do seu tempo a desenvolver alguma investigação histórica em torno desta temática, nomeadamente no que diz respeito aos Vougas, barcos de recreio originários da ria de Aveiro. Hélder Ventura é um dos principais entusiastas e defensores da classe, que merece ser defendida e preservada. Tanto assim é que já construiu um Vouga de raiz. “Já fiz dezenas de recuperações de barcos, mas do zero só fiz este. Se aparecer alguém para comprar, sou capaz de vender”, alvitra, ao mesmo tempo que nos mostra o veleiro de casco branco.

Hélder Ventura leva a salvaguarda das embarcações em madeira tão a sério que, em 2012, voltou aos Estados Unidos - desta vez, no Maine - para fazer uma formação em carpintaria naval. Nesse estado que “é uma espécie de capital mundial da carpintaria naval”, o presidente da Cenário foi surpreendido com o reconhecimento que o nosso país tem. “Nesses meios, Portugal não é conhecido pelo Cristiano Ronaldo, mas pelo saber fazer barcos, pelos Descobrimentos”, sublinha, defendendo que seria importante aproveitar esta mais-valia e acentuar a nossa ligação ao mar.

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Hélder Ventura e a paixão pelo restauro de barcos de madeira Nelson Garrido
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