Durante dois anos, o adro da igreja de Aldeia Viçosa, no concelho da Guarda, não viu a tradição cumprir-se devido à pandemia: do cimo da torre não voou uma só castanha e o Magusto da Velha, tradição "única" com mais de 400 anos de história, remediou-se com sacas de castanhas e vinho entregues porta a porta. Esta segunda-feira, no entanto, sem restrições de ajuntamentos devido à covid-19, vão voltar a chover castanhas em honra da benemérita velha da aldeia.
“Temos o regresso do Magusto da Velha”, congratula-se o presidente da junta de freguesia, Luís Prata, à agência Lusa. “Nos anos da pandemia cumprimos sempre o testamento, só que fomos à casa das pessoas levar as castanhas e levar o vinho para que se cumprisse a tradição. Este ano, estamos todos ávidos com o regresso do Magusto da Velha e teremos novamente as castanhas a voar da torre da igreja.”
No dia 26 de Dezembro, a festa arranca às 14h30 e inclui uma missa pela alma da velha, a dramatização do testamento pelo grupo Hereditas, cortejo do magusto e distribuição de castanhas e vinho. Do cimo da torre, vão chover 160 kg de castanhas e, pelas ruas, serão distribuídos 50 litros de vinho de um produtor local, adianta o autarca. Haverá ainda rebuçados, torradas embebidas em azeite e "muita animação, muita alegria e muita música".
A tradição do Magusto da Velha terá nascido no século XVI e é hoje uma tradição considerada única no mundo, tão singular que a junta de freguesia pretende candidatá-la a Património Imaterial nacional e Luís Prata prevê “dar passos largos nesse sentido” até ao final do mandato autárquico.
Celebra a “solidariedade de uma velha, muito abastada, com o seu povo [da aldeia de Santa Maria do Porco, hoje denominada Aldeia Viçosa], numa Idade Média caracterizada pela miséria e pela fome, lavrando um testamento segundo o qual se deveriam dar castanhas e vinho ao povo, todos os anos, provenientes da sua propriedade [Quinta do Lagar de Azeite], em troca de um Padre-Nosso pela sua alma”, conta Luís Prata.
Actualmente, o evento é “cada vez mais importante, não só para Aldeia Viçosa, mas também para o concelho da Guarda”, defende, anunciando estar programada a vista de “alguns grupos de turistas” ao Magusto da Velha. “Já entrámos na rota turística das empresas deste ramo e a tendência é para crescermos”, sublinha.
"É um evento importante, também para a economia local. Promovemos o nosso vinho, promovemos o nosso azeite, e pensamos que é um evento que é bom a nível social, económico e cultural", acrescenta.
A herança que deu origem ao Magusto da Velha é mencionada no Livro de Usos e Costumes da Igreja do Lugar de Porco [antiga designação de Aldeia Viçosa] - Ano de 1698. A Junta de Freguesia possui um Certificado de Renda Perpétua emitido pelo Instituto de Gestão do Crédito Público que não tem valor financeiro, mas possui um "enorme valor simbólico", segundo o autarca.