Foguetão europeu Vega volta a falhar – é a terceira vez nos últimos oito voos
O programa espacial Vega já tem uma década, mas nos últimos três anos somou três fracassos. A anomalia que causou a queda do foguetão no oceano, esta quarta-feira, ainda não é conhecida.
Bastaram dois minutos e 27 segundos para a missão do foguetão europeu Vega-C terminar na manhã desta quarta-feira. Uma anomalia logo após a descolagem, na base espacial de Kourou (Guiana Francesa), determinou o fim da missão que levaria dois satélites franceses de alta-resolução para o espaço.
É o primeiro voo falhado desta nova versão do foguetão europeu, que foi lançado em Julho deste ano (dessa vez com sucesso). No entanto, representa o terceiro fracasso do programa Vega nas suas últimas oito tentativas – em apenas três anos. Neste vídeo pode ver-se a descolagem do foguetão esta quarta-feira.
O Vega foi apresentado e lançado pela primeira vez em 2012. A proposta da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês), com financiamento maioritário da sua congénere italiana, era ter um terceiro foguetão responsável pelas cargas mais pequenas a levar para o espaço – entre os 300 quilos e as 2,5 toneladas. À época, a Europa contava com o Ariane 5 (europeu) para cargas pesadas e com o Soiuz (russo) para as intermédias.
Agora, o problema adensa-se, já que o Soiuz é um foguetão russo ao qual os satélites europeus já não têm acesso – devido às sanções europeias na sequência da invasão russa da Ucrânia – e o próprio Ariane 5 está em fim de linha. A próxima versão do maior foguetão europeu, o Ariane 6, só estará pronta no final de 2023, data para a qual está marcada a missão de estreia.
O Vega-C tem aqui o seu primeiro problema, depois de um voo com sucesso em Julho, quando colocou sete satélites em órbita. As outras duas tentativas falhadas tinham sido a bordo da anterior versão, apenas apelidada Vega, em 2019 e em 2020.
O Ariane 6
“Nos próximos anos, a procura de lançamentos na Europa será alta e o Vega-C e o Ariane 6 serão os nossos burros de carga”, afirmou Josef Aschbacher, director-geral da ESA, na altura do primeiro lançamento do Vega-C em declarações à BBC. Algo que foi secundado, também à BBC, pelo presidente da agência italiana, Giorgio Saccoccia: “Devemos olhar para este voo inaugural como o primeiro lançamento de uma nova geração de foguetões europeus, o início do fortalecimento do papel da Europa no transporte espacial.”
Este contratempo cria alguns constrangimentos nas expectativas depositadas neste Vega-C, cujo primeiro andar do foguetão será também utilizado para o Ariane 6 – uma forma de poupar recursos e reduzir os gastos com estes foguetões. A boa notícia deste voo é que o problema detectado está localizado no segundo andar, onde uma anomalia conduziu a um desvio de trajectória – e ao falhanço da missão que caiu no oceano Atlântico.
Os dois satélites a bordo pertenciam à empresa Airbus Defence and Space, e eram os dois últimos do conjunto de seis satélites do Pléiades Neo, que permitira captar imagens de qualquer ponto do planeta com uma resolução de 30 centímetros (permitindo distinguir, inclusive, sinais de trânsito).
O foguetão Vega-C já tem alguns voos agendados para o primeiro trimestre de 2023, mas a descolagem só acontecerá depois de serem analisados – e resolvidos – os problemas que conduziram ao terceiro fracasso nos últimos oito voos.
“Ainda não conhecemos totalmente o que causa esta anomalia”, adiantou Giulio Ranzo, director da Avio, empresa espacial italiana também responsável pelo voo, numa declaração em vídeo. A investigação às causas do problema será liderada pela ESA e pela Arianespace, empresa francesa responsável pelas operações de lançamento (quer do Vega quer do Ariane).