Três décadas em que a Quinta da Gaivosa acrescentou um capítulo à história do Douro
Com o tinto de 2019, um rosé de luxo e um Vintage arrebatador, Gaivosa assinala não só os 30 anos do primeiro lançamento, mas também a entrada no muito exclusivo clube dos Porto de parcela.
Mesmo para os menos atentos, não será hoje difícil provar os vinhos da Quinta da Gaivosa e perceber que são uma espécie de bálsamo para a região. É claro que há outros igualmente complexos, intensos, frescos e elegantes, mas a diferença é que este é um dos pioneiros no engarrafamento dos DOC Douro e os seus vinhos sempre foram assim.
E quando os vinhos mais extraídos, opulentos e impactantes faziam furor e criaram um “estilo Douro” que levou a fama da região a todo o mundo, a Gaivosa seguiu o seu caminho. Um rumo que prosseguiu à margem do afunilamento nas famosas cinco castas (Touriga Franca, Touriga Nacional, Tinto Cão, Tinta Roriz e Tinta Barroca) e, sobretudo, fiel ao Baixo Corgo, sub-região desconsiderada e tida como incapaz para a produção de grandes vinhos.
Somando ainda a preservação da grande variedade das castas autóctones, do estilo tradicional das vinhas e da viticultura, os vinhos da Gaivosa são hoje exemplo maior do equilíbrio e frescura que todos procuram. E, mais importante ainda, da valorização da história e património vitícola do Douro – que é como quem diz, da sua identidade – e a prova provada da diversidade da região, de que o Douro não é todo igual.
Por tudo isso, e sendo embora muito longo e rico o historial da região, parece claro que nestas três décadas a Quinta da Gaivosa reservou já um capítulo na história dos vinhos do Douro. Desde logo porque foi uma das pioneiras na produção dos vinhos DOC, pela afirmação de um rumo que valoriza o passado e identidade da região e é hoje consensual.
Um capítulo que tem como protagonista Domingos Alves de Sousa, não por acaso representando a quinta geração de uma família desde sempre dedicada à viticultura. As referências à Gaivosa aparecem já com D. Afonso Henriques, na carta de doação do Couto da Ermida (1139), e também nas Memórias Paroquiais de 1758, em plenas demarcações pombalinas, se refere o “sítio da Gaivosa, bem conhecido pelos exquesitos vinhos”.
Uma longa história na produção desde sempre destinada às mais famosas casas de vinho do Porto, mas de súbito posta em causa com as mudanças legislativas, a criação dos DOC Douro e a redução drástica do “Benefício”. Tudo isto no contexto da forte crise de finais da década de 1980.
Havia que mudar de rumo, e é aí que entra o empenho, visão e sagacidade de Domingos Alves de Sousa. Engenheiro civil, depressa tratou de se inteirar do conhecimento vitícola. Compilou formações, visitou as melhores regiões – sobretudo Bordéus – e enturmou-se com a nova geração de enólogos que saíam da UTAD. Com o conhecimento adquirido, mas sem esquecer a história e tradição, tanto da família como da região, avançou para a produção e engarrafamento numa altura em que, a par dos já famosos Barca Velha e Quinta do Côtto, surgiam os primeiros DOC Douro.
Avançando na linha da frente, a Quinta da Gaivosa lança em 1992 o seu primeiro tinto, juntando a assinatura de um jovem enólogo, Anselmo Mendes. Um vinho claramente distintivo, mas que Domingos logo determinou que apenas nos melhores anos seria engarrafado. Com o recente lançamento do 2019, são ao todo 19 as colheitas de um vinho que depressa afirmou a marca e conquistou o mundo. Para a história ficam também as célebres viagens por todas as geografias de Domingos Alves de Sousa com a mala cheia de garrafas, num périplo promocional que só tem comparação com Luís Pato, o “mister Baga”. Dois engenheiros!
Uma perspicácia e sagacidade que deixa marca também na sucessão, na evolução do negócio e da Alves de Sousa. Ao lado do pai, Tiago Alves de Sousa é hoje a cara da empresa, sendo também um dos mais reconhecidos enólogos do país. Desde cedo acompanhou Anselmo Mendes, tendo a partir de 2012 assumido por completo as rédeas da produção.
Foi já da sua responsabilidade o blend de 2011, um vinho extraordinário, riquíssimo, cheio de vigor e que mostra estar ainda longe da plenitude. Um portento que ameaça eternidade, tal como mostrou numa vertical com nove das colheitas da Gaivosa para assinalar os 30 anos do primeiro lançamento, onde igualmente se destacou a riqueza ainda revelada pela colheita de 1995.
Uma grande riqueza e complexidade, sempre aliadas à elegância, frescura e equilíbrio são a espinha dorsal de todos os vinhos, virtudes que nesta edição de 2019 são ainda potenciadas pela força aromática, pureza da fruta e elegância dos taninos. Um vinho com grande profundidade, frescura, e solidez de estrutura, que o colocam no caminho de 2011.
Um rosé de luxo e um Vintage nota 20
Com 25 hectares de vinhas, mais de 50 castas tintas e de 20 brancas, o terroir da Gaivosa tem sido potenciado não só pelo esforço de preservação das castas autóctones, mas também pelo trabalho de viticultura que as procura replicar numa filosofia de “novas vinhas velhas” com suporte no estilo de vinha tradicional, com videiras plantadas segundo as curvas de nível e mantendo os muros de xisto.
Os vinhos são também a expressão de um Douro mais ameno, marcado pela proximidade ao Marão, pela altitude e os solos de xisto. Brancos e tintos que se distinguem, pela estrutura, carácter fresco e grande elegância, mas também brancos de excelência, como o Grande Reserva 2020, agora também lançado.
Novidade absoluta é o rosé Rosa Celeste, da colheita de 2020, que além de homenagear “a eterna avó Celeste” é um vinho de luxo, de classe mundial, pleno de camadas, grande suavidade e definição aromática. E a grande novidade é o Amphitheatrum, um Porto Vintage 2020 de nota 20 (2500 garrafas, 200 euros cada) que entra para o lote restrito dos Vintage de parcela.
A Alves de Sousa associa-o aos Porto de há 200 anos, quando as condições de 1820 proporcionaram “condições que mudaram o Vinho do Porto para sempre”. O nome remete para o anfiteatro da já famosa vinha de Lordelo, onde as condições extremas de 2020 produziram uvas que atingiam um potencial de álcool de 21º. Impossível fazer o DOC Vinha de Lordelo, mas excelente para Porto. Um Vintage, por isso, quase da vinha, uma dádiva da natureza, quase sem aguardente, utilizada apenas para paragem da fermentação.
Superconcentrado, completamente opaco na cor e único na concentração. Na boca, como que explode na riqueza de aromas, com frutos silvestres, aloé vera, ervas aromáticas, numa mistura de bosque, profundidade e riqueza tropical que atinge todos os sentidos. Tudo debaixo de um manto de frescura e suavidade surpreendentes. Um vinho para muitas gerações (embora poucas garrafas).
Nome Quinta da Gaivosa Tinto 2019
Produtor Alves de Sousa
Castas Touriga Franca, Touriga Nacional, Tinto Cã
Região Douro
Grau alcoólico 14,5 por cento
Preço (euros) 40 (indicado pelo produtor)
Pontuação 94
Autor José Augusto Moreira
Notas de prova Com esta, são ao todo 19 as colheitas que o produtor engarrafou como Quinta da Gaivosa, referência cuja espinha dorsal é de uma grande riqueza e complexidade, sempre aliadas à elegância, frescura e equilíbrio. Este 2019 é um vinho com grande profundidade, frescura, e solidez de estrutura, que o colocam no caminho do extraordinário e riquíssimo 2011.
Nome Rosa Celeste by Quinta da Gaivosa 2020
Produtor Alves de Sousa
Castas Tinto Cão e Touriga Nacional
Região Douro
Grau alcoólico 12,5 por cento
Preço (euros) 50
Pontuação 91
Autor José Augusto Moreira
Notas de prova Este Rosa Celeste homenageia “a eterna avó Celeste” e é um vinho de luxo, de classe mundial, pleno de camadas, grande suavidade e definição aromática.
Nome Amphitheatrum by Quinta da Gaivosa Porto Vintage 2
Produtor Alves de Sousa
Castas Touriga Nacional, Malvasia Preta, Tinta Amarela e
Região Douro
Grau alcoólico 19,5 por cento
Preço (euros) 200 euros (indicado pelo produtor)
Pontuação 99
Autor José Augusto Moreira
Notas de prova O nome remete para o anfiteatro da já famosa vinha de Lordelo, onde as condições extremas de 2020 produziram uvas que atingiam um potencial de álcool de 21º. Um Vintage, por isso, quase da vinha, uma dádiva da natureza, quase sem aguardente, utilizada apenas para paragem da fermentação. Superconcentrado, completamente opaco na cor. Na boca, como que explode na riqueza de aromas, com frutos silvestres, aloé vera, ervas aromáticas, numa mistura de bosque, profundidade e riqueza tropical que atinge todos os sentidos. Tudo debaixo de um manto de frescura e suavidade surpreendentes. Um vinho para muitas gerações (embora poucas garrafas).