República da Irlanda troca de primeiro-ministro
Varadkar substitui Martin na chefia do Governo irlandês, no âmbito do acordo de coligação histórico, de 2020, entre o Fine Gael e o Fianna Fáil, dois partidos rivais de direita.
O Parlamento da República da Irlanda (Dáil Éireann) reconduziu neste sábado Leo Varadkar ao cargo de primeiro-ministro (taoiseach), confirmando o compromisso histórico alcançado em Junho de 2020 entre os dois maiores partidos irlandeses – o Fine Gael e o Fianna Fáil, ambos de direita e rivais durante décadas –, segundo o qual a chefia do Governo seria dividida entre os seus líderes durante a legislatura.
Varadkar, do Fine Gael – que já tinha sido primeiro-ministro entre 2017 e 2020 – substitui Micheál Martin, do Fianna Fáil, que este sábado renunciou formalmente ao cargo, junto do Presidente, Michael Higgins, e que vai agora assumir o posto de vice-primeiro-ministro (tánaiste).
A eleição do novo chefe do executivo foi aprovada no Dáil com 87 votos contra 62. Para além dos votos favoráveis dos deputados dos dois partidos de direita, a troca de cadeiras na cúpula do executivo irlandês também recebeu o apoio dos deputados do Partido Verde, o outro parceiro de coligação governamental.
An historic day as @MichealMartinTD resigns as #Taoiseach, to be replaced by @LeoVaradkar.
— Barry Ward ???? ???? (@barrymward) December 17, 2022
The coming years will be difficult for Ireland and we all look forward to the kind of leadership previously offered by Leo Varadkar as Taoiseach.#DáilÉireann pic.twitter.com/rPeLi2daUv
A aliança inesperada entre Fine Gael e Fianna Fáil – que disputaram o poder na República da Irlanda durante quase um século e que são os sucessores históricos de lados diferentes da guerra civil de 1922-1923 – surgiu na sequência das eleições legislativas de Fevereiro de 2020.
Depois de várias décadas mantido à margem do espaço político e mediático – muito por causa das ligações de alguns dos seus líderes históricos ao terrorismo ultranacionalista irlandês do século XX, tendo em vista a reunificação com a Irlanda do Norte – o Sinn Féin, de esquerda, foi o partido mais votado nessas eleições, com um discurso centrado na Habitação, na Saúde e na Educação.
A solução encontrada pelos dois maiores partidos para evitar que o antigo braço político do Exército Republicano Irlandês (IRA) chegasse ao poder foi pôr de lado a sua rivalidade histórica e negociar um acordo de chefia rotativa do poder, com o apoio dos Verdes.
Citado pelo Independent, na hora da despedida, Martin disse aos deputados que “acredita genuinamente que, numa Irlanda que inclui e que serve toda a gente”, todos os actores políticos “devem estar preparados para construir novas pontes”.
De regresso ao posto de primeiro-ministro, Varadkar definiu como prioridades políticas da sua liderança a resolução da crise na Habitação e da crise económica e energética.
“Temos demasiados problemas e alguns deles vamos ter de resolver agora; ou então estaremos a trair esta geração e a geração que vier depois de nós”, afirmou, no Dáil, em Dublin.
Congratulations to @LeoVaradkar on his election as Taoiseach by Dáil Éireann. pic.twitter.com/UKSf8EW6kG
— Fine Gael (@FineGael) December 17, 2022
Na sua intervenção na sessão plenária deste sábado, Mary Lou McDonald, líder do Sinn Féin, insistiu no objectivo histórico do seu partido: a reunificação e as “grandes oportunidades” que acredita que ela trará para a ilha irlandesa.
Afirmando que o Fine Gael e Fianna Fáil “são essencialmente um só partido”, McDonald defendeu que só “uma mudança na liderança e uma mudança de Governo” irão permitir a reunificação entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte.
Recorde-se que o Sinn Féin também foi o partido mais votado nas eleições norte-irlandesas realizadas em Maio deste ano no território pertencente ao Reino Unido, pondo fim a décadas de domínio de partidos unionistas.